SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um bombardeio de Israel que atingiu a única igreja católica da Faixa de Gaza nesta quinta-feira (17) matou três pessoas. O ataque deixou vários feridos, incluindo o pároco argentino Gabriel Romanelli, segundo o Patriarcado Latino de Jerusalém, responsável pelo templo.
O papa Leão 14 declarou estar “profundamente entristecido” pelo ocorrido, mas não mencionou diretamente Israel. “Sua Santidade reitera seu apelo por um cessar-fogo imediato”, afirmou o Vaticano em comunicado assinado pelo número dois da Santa Sé, o cardeal italiano Pietro Parolin.
O padre argentino atingido no ataque costumava atualizar regularmente o papa Francisco sobre o conflito israelo-palestino. Ele sofreu ferimentos leves na perna. O pároco e outros feridos foram atendidos Hospital al-Ahli, também conhecido como Batista, em Gaza.
“Com grande pesar, o Patriarcado Latino confirma que duas pessoas morreram como resultado do aparente bombardeio do exército israelense”, afirmou a instituição em um comunicado. As vítimas eram um homem e duas mulheres. “Rezamos pelo descanso de suas almas e pelo fim desta guerra bárbara. Nada pode justificar o ataque a civis inocentes”, acrescentou.
A população de Gaza é majoritariamente muçulmana, com apenas cerca de mil cristãos, a maioria dos quais são ortodoxos gregos. Segundo o Patriarcado Latino de Jerusalém, há 135 católicos no território. Desde o início da guerra, membros da comunidade católica têm se refugiado na igreja, assim como alguns cristãos ortodoxos.
Israel expressou seu “profundo pesar” pelos danos à igreja e “por qualquer vítima civil”, e disse que o Exército está investigando o ocorrido. “As Forças de Defesa de Israel fazem todo o esforço possível para mitigar danos a civis e estruturas civis, incluindo locais religiosos, e lamentam qualquer dano causado a eles”, afirmou o comunicado.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, condenou o episódio. “Os ataques contra a população civil que Israel tem realizado há meses são inaceitáveis. Nenhuma ação militar pode justificar tal atitude”, disse ela em comunicado. O chanceler italiano, Antonio Tajani, pediu esclarecimentos ao seu homólogo israelense, Gideon Saar, em um telefonema.
O monsenhor Pascal Gollnisch, diretor da organização católica L’Oeuvre d’Orient, que se dedica a apoiar cristãos do Oriente Médio, chamou o ataque de “totalmente inaceitável”. “Estamos falando de uma igreja católica conhecida por sua atitude pacífica, de pessoas a serviço da população local. Não havia nenhum alvo estratégico, não havia jihadistas naquela igreja. Havia famílias, havia civis, isso é totalmente inaceitável e condenamos veementemente a atitude de Israel”, afirmou.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, também condenou o ocorrido. “Expressei ao Patriarca Latino de Jerusalém a solidariedade de nosso país. Estes ataques são intoleráveis, é hora de parar o massacre em Gaza”, escreveu ele em um post na rede social X.
O Hamas criticou duramente o ataque. “Isso ocorre dentro do contexto da guerra de extermínio em curso contra o povo palestino”, disse o grupo terrorista em um comunicado divulgado no Telegram.
Em entrevista à Al Jazeera, o palestino Shadi Abu Dawoud, 47, disse que o salão principal da igreja atingida abrigava dezenas de civis, principalmente crianças e idosos, que se deslocaram por causa da guerra. “Minha mãe sofreu ferimentos na cabeça. Ela estava andando no pátio da igreja com outras mulheres idosas”, contou ele. “Fomos pegos de surpresa. Foi um ato bárbaro e injustificável.”
A Defesa Civil de Gaza informou que ao longo desta quinta pelo menos 24 morreram em outros ataques israelenses realizados em diferentes pontos do território. Oito homens encarregados de proteger caminhões de ajuda humanitária estariam entre as vítimas dos ataques aéreos.
A ofensiva ocorre em meio a negociações cessar-fogo no Qatar. O acordo prevê uma trégua de 60 dias na qual o Hamas libertaria reféns israelenses vivos e corpos de sequestrados no ataque de 7 de outubro de 2023. Em troca, Tel Aviv determinaria a soltura de palestinos detidos em Israel.
O Hamas, no entanto, exige garantias para o cessar-fogo, incluindo a interrupção dos combates durante as negociações e o retorno do sistema de distribuição de ajuda administrado pela ONU.