PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Começa nesta sexta-feira (18), no Museu Fotografiska, em Xangai, na China, uma mostra póstuma com mais de cem fotografias do brasileiro Sebastião Salgado. Ele “disse tudo em seu trabalho fotográfico”, afirma o curador francês Jean-Luc Monterosso, ao ser questionado sobre o que Salgado ainda buscava, ao morrer em Paris, em maio.

“Ele escreveu que toda a sua vida foi fotografia. E nessas há muita humanidade e muita esperança, apesar de tudo. Mesmo que ele tenha fotografado a tragédia, as dificuldades da vida”, diz.

Christian Devillers, diretor do Fotografiska, acrescenta que, por ser a primeira grande retrospectiva após a morte, “fomos levados a colocar mais foco no homem, que teve um destino tão extraordinário”.

Destino que foi da criança da zona rural ao economista de desenvolvimento, “desistindo para se dedicar à fotografia como repórter e depois como testemunha das áreas milagrosamente preservadas da Terra”.

Monterosso diz que serão apresentados “quase todos os períodos de Sebastião”, como exceções como Amazônia, trabalho mais recente, de 2021. São imagens das grandes séries, inclusive “Trabalhadores”, “Outras Américas”, “Êxodos”, “Gênesis” e “Perfume de Sonho”.

“A curadora Lélia Salgado coloca os trabalhos na ordem cronológica inversa, como se estivéssemos voltando no tempo com ele, para entendê-lo melhor”, diz Devillers.

Monterosso, amigo de longa data do fotógrafo e ex-diretor da Maison Europeenne de la Photographie, em Paris, lamenta que a viúva não tenho podido viajar a Xangai para finalizar a preparação, devido ao pouco tempo desde a morte.

“Esta exposição foi preparada por Lélia e infelizmente ela não está aqui, estou sozinho para apresentar.” Dedica a ela e seus filhos com Salgado “esta homenagem simples ao fabuloso fotógrafo, maior no mundo”.

Descreve as obras apresentadas como “uma análise da nossa situação no mundo, não só a tragédia social, mas a beleza”, enfatizando a progressão evidenciada pela mostra.

“No início, é um fotógrafo social, não tão interessado pela beleza”, diz. “Ao retratar o desastre, busca usar a luz e respeitar a dignidade da pessoa humana. No final, é muito sensível ao futuro do planeta. Está sempre dentro da nossa época. Essa, para mim, é a mensagem que a exposição traduz para nós.”

Segundo Devillers, foram pesquisadas as circunstâncias e histórias que cercam as fotografias, para os guias impresso e em áudio. “Isso ajudará os visitantes a compreender a coragem, a tenacidade e a visão de um artista extraordinário.”

Ele lista qualidades como “contrastes marcantes, iluminação dramática e composição meticulosa, evocando uma qualidade atemporal, mesclando realismo documental com arte sublime”.

Diz que “isso é ainda mais impressionante quando se conhecem as circunstâncias em que as fotos foram tiradas: por muito tempo, ele trabalhou sozinho, em longas viagens em áreas desertas e com recursos muito limitados”.

A China não está em nenhuma das grandes séries do fotógrafo, mas “Sebastião é muito, muito famoso aqui, não sei de outro”, diz Monterosso, que diz esperar grande público por causa disso.

Para tanto, uma das atrações da exposição é uma foto que tirou na própria Xangai, em 1998. São mulheres dançando no Bund, setor financeiro histórico da cidade, diante do rio Huangpu. Do outro lado, mostra o distrito de Pudong, que ganhava forma como o símbolo do desenvolvimento do país. “Ele amava a China”, diz Devillers.