GOIÂNIA, GO (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) disse nesta quinta-feira (17) que “não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República”. O recado a Donald Trump (EUA) ocorreu em discurso durante o 60º Conune (Congresso da União Nacional dos Estudantes), na UFG (Universidade Federal de Goiás), em Goiânia.

Na fala de improviso aos estudantes, Lula lembrou sua trajetória de greves e negociações na luta sindical e declarou ter certeza que o presidente dos EUA “jamais negociou 10%” do que ele negociou na vida.

“A gente não aceita a ideia do presidente dizendo que se não libertar o Bolsonaro, vai taxar em 50%. Vamos responder da forma mais civilizada possível e como um democrata responde”, disse Lula.

Desde o anúncio da sobretaxa dos EUA ao Brasil, tanto o presidente quanto a equipe do governo tem reagido à medida. Em entrevistas, Lula tem confrontado as interferências de Trump, incluindo ameaças de taxação recíproca.

A medida, no entanto, não deve ser adotada, já que o governo está em diálogo com os setores do empresariado que mais devem ser afetados em busca de uma alternativa.

Segundo integrantes do governo e representantes dos setores da indústria, uma resposta comercial da mesma dimensão da imposta por Trump poderia prejudicar ainda mais a economia brasileira. O tarifaço, segundo Trump, passa a valer em 1º de agosto.

Além disso, Lula tem criticado diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)— citado na carta do presidente americano como um “perseguido” pela Justiça brasileira — e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal licenciado e filho do ex-presidente que tem apoiado as medidas do americano.

Antes da fala de Lula, também nesta quinta-feira, Bolsonaro se esquivou de qualquer responsabilidade pela decisão de Trump de sobretaxar o Brasil. O ex-presidente ainda agradeceu a Deus pela eleição do aliado nos EUA e culpou o governo Lula pelo entrave comercial e político com os americanos.

Os processos enfrentados por Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal) foram usados como argumento por Trump para promover as retaliações comerciais ao Brasil, pois, segundo ele, o Judiciário brasileiro está ferindo a liberdade de expressão do país.

Na terça e na quarta-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin se reuniu com setores da indústria e do agronegócio para discutir as medidas de reação. Os encontros devem continuar acontecendo nos próximos dias.

Em reação, o governo também enviou uma carta de indignação com cobranças de respostas aos EUA pelas imposições das tarifas.

No evento desta quinta, em Goiânia, estudantes entoavam gritos contra Trump e Bolsonaro, além de enaltecimentos da soberania da América Latina. Entre eles, o coro de “sem anistia e sem perdão, eu quero ver Bolsonaro na prisão”.

Estiveram presentes os ministros Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Saúde), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Camilo Santana (Educação), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e Margareth Menezes (Cultura).

Ministros reforçaram o discurso a favor da isenção de imposto para os mais pobres e taxação dos mais ricos, além de menções à defesa da soberania brasileira.

Do lado de fora do auditório, houve relatos pontuais de brigas entre os participantes do congresso e apoiadores de Bolsonaro.