SÃO PAULO, SP (FOLAPRESS) – Enquanto todos prestavam atenção no tarifaço de Donald Trump contra o Brasil, a novela do IOF acabou sem apoteose.
Também aqui: EUA mexem com o namoradinho do Brasil (o Pix), americanos arrecadam mais de US$ 50 bilhões em receitas alfandegárias e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (17).
**O ÚLTIMO CAPÍTULO (?)**
A novela do decreto que muda o IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras) parece ter chegado ao final. Ao menos por enquanto.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), validou o decreto do presidente Lula (PT) que aumentou as alíquotas do IOF sim, aquele lá que foi anunciado do nada pelo Ministério da Fazenda e causou polêmica.
RECAPITULANDO
Em 22 de maio, a pasta econômica anunciou a medida que aumenta o tributo em operações de câmbio e de crédito para empresas.
A expectativa da Receita Federal é arrecadar R$ 20,5 bilhões a mais neste ano e R$ 40,1 bilhões em 2026.
Uma parte do Congresso não gostou. O empresariado gostou muito menos. Com o argumento de que a decisão do governo tinha um viés somente arrecadatório, o Legislativo aprovou a derrubada do decreto atitude considerada inconstitucional pelo Planalto.
Foi assim que essa história chegou ao STF, na mesa de Alexandre de Moraes. O governo e o Congresso tentaram entrar em acordo em uma sessão de conciliação, mas não deu certo.
NÃO DISSE “AMÉM”
O magistrado tirou do decreto uma das determinações da equipe de Lula. Ele anulou a tributação sobre as operações de risco sacado.
↳ Risco sacado é uma forma de crédito para empresas. A companhia paga a prazo, mas os fornecedores recebem à vista.
O cálculo indica que a derrubada desse dispositivo deve ter um impacto negativo da ordem de R$ 1,2 bilhão. Para o ministro, os outros 90% do decreto são questões “incontroversas”.
O RECADO
Auxiliares do presidente acham importante a validação do STF ao argumento de que o líder tem direito de editar decretos que mudam alíquotas tributárias, sem o risco de ter a medida derrubada pelo Congresso.
**PIX NA BERLINDA**
Mais um dia, mais uma novidade desagradável para o governo brasileiro vinda de Donald Trump. Na terça-feira, o governo americano abriu uma investigação comercial contra o Brasil. Ontem, tivemos mais detalhes do que isso pode significar.
MEXEU COM O QUERIDINHO
Um trecho do documento que detalha a apuração incluiu o Pix como uma possível prática desleal. A indireta foi clara.
O Brasil também parece se envolver em uma série de práticas desleais com relação a serviços de pagamento eletrônico, incluindo, entre outras, a promoção de serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo, descreve.
O Pix é gratuito, uma vez que a sua estrutura é operada pelo Banco Central. Ele cresceu rapidamente, tirando espaço dos cartões de débito. As novas aplicações do método, como o Pix Automático, podem abocanhar uma parte da fatia dos cartões de crédito nos pagamentos.
Membros do governo Lula e aliados veem a possibilidade de um lobby de bandeiras de cartões de crédito as dominantes são duas americanas, Visa e Mastercard para não perder a sua casquinha do mercado brasileiro para o sistema do BC.
A Meta também tem tudo a ver com o ressentimento dos EUA contra o Pix, na avaliação de Brasília.
MURALHA
A estratégia do Planalto é defender o método de pagamento eletrônico, de acordo com auxiliares do presidente ouvidos pela Folha de S.Paulo.
Tem até carta reclamando da existência do nosso sistema seguro, sigiloso e sem taxas. Só que o Brasil é o quê? Soberano. (…) Nada de mexer com o que tá funcionando, ok?, escreve o governo nas redes sociais.
Sobrou até para a 25 de março. O polo comercial mais famoso da cidade de São Paulo não passou ileso pela investigação.
Para o USTR (Representante do Comércio dos EUA), a 25 de Março permanece há décadas como um dos maiores mercados de produtos falsificados, apesar de operações direcionadas para a área.
Em reação, o prefeito Ricardo Nunes saiu em defesa das vendas no local e comerciantes marcaram um protesto nesta sexta (18) contra as declarações americanas.
**TETO DE VIDRO**
Quem não tem teto de vidro, que atire a primeira pedra. Quem nunca ouviu o ditado antes? Se uma frase permanece viva por gerações, é porque se prova útil com o passar do tempo.
Na guerra comercial em curso, todos têm uma cristaleira sobre a cabeça para chamar de sua. Inclusive os Estados Unidos, que começaram essa história toda.
SOB PRESSÃO
Câmaras de comércio americanas apelaram nesta semana por negociação para evitar as tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros, alegando que isso prejudicaria 6.500 pequenas empresas dos EUA que dependem desses itens.
Ainda, 3.900 empresas americanas investem no país.
EFEITOS COMEÇAM
Segmentos da indústria nacional já estão em pânico com a sobretaxa, ainda que ela só entre em efetividade no dia 1º de agosto.
Seis setores foram firmes no posicionamento durante o encontro com ministros e o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que também comanda o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), pedindo a ajuda do governo para reverter o quadro de urgência.
Máquinas e equipamentos, aço, alumínio, ferro gusa, calçados, suco de laranja, frutas, carne bovina, peças automotivas e para aviação, mobiliário e madeira estão entre os mais expostos ao tarifaço.
No dos outros é refresco. A ofensiva de taxação de Donald Trump está permitindo que os EUA arrecadem quase US$ 50 bilhões em receitas alfandegárias, ainda que o presidente americano seja taxado de amarelão.
Um levantamento do Financial Times usando dados do Tesouro de Washington mostra que apenas China e Canadá revidaram contra o país. Os ganhos vêm de uma combinação entre a ousadia dos americanos em taxar e a passividade dos países em (não) retribuir.
**A MENINA DOS OLHOS DE JENSEN HUANG**
Dizem por aí que o sentimento de saudade só pode ser descrito na língua portuguesa. Se houvesse uma palavra equivalente em inglês, Jensen Huang a usaria para descrever o período que teve de se afastar da China.
O CEO da Nvidia, a maior empresa do mundo, está em uma campanha ostensiva para recuperar o mercado chinês. A companhia foi forçada pelo governo dos EUA país de origem dela a reduzir (em alguns casos, suspender) as exportações de chips de inteligência artificial para empresas chinesas de tecnologia.
COMO ASSIM?
Washington vetou a exportação de alguns itens de inovação tecnológica para China no acirramento da guerra comercial entre os dois países.
A retomada da exportação de semicondutores de IA, como o H20 da Nvidia, foi liberada nesta semana pela Casa Branca.
O desbloqueio desse fluxo comercial é uma das contrapartidas impostas por Pequim para retomar a exportação de terras raras para o Ocidente.
Afastar-se do mercado chinês foi um golpe duro. Ele é o segundo maior do mundo em tecnologia e com apetite para crescer ainda mais.
GAROTO-PROPAGANDA
Jensen Huang está na China correndo atrás do prejuízo. Na visita, ele já declarou estar fazendo o que pode para retomar as vendas do H20 e quer levar modelos mais tecnológicos da Nvidia para lá.
A inteligência artificial de código aberto da China é um catalisador para a IA global, disse o CEO, americano de origem taiwanesa.
Também acenou para a Xiaomi, gigante tech nacional.
Ele discursou misturando os idiomas chinês e inglês na abertura da Exposição Internacional da Cadeia de Suprimentos, no norte de Pequim.
Huang usou um terno Tang no evento, modelito tradicional do país anfitrião. O paletó tem gola mandarim e botões de sapo.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Acabou a farra. A Puma venceu um processo contra a Starbult, empresa acusada de fabricar e comercializar calçados com a lista da Puma.
A espera sem fim. Veja o que já sabemos sobre o terceiro lote de restituição do Imposto de Renda.
Corte profundo. A Britânia, dona da Philco, demitiu quase 10% do total de funcionários. A dispensa é a maior dos últimos anos na Zona Franca de Manaus.
Baixo astral. Pesquisa da Quaest mostra que o pessimismo sobre o futuro da economia cresceu e superou o otimismo.