Da Redação
A ofensiva tarifária lançada pelo presidente Donald Trump contra o Brasil e outros países pode ter um efeito colateral inesperado: um prejuízo bilionário para a própria economia americana. É o que revela um estudo divulgado nesta quarta-feira (17) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que projeta impactos negativos tanto para os Estados Unidos quanto para o comércio global.
Segundo o levantamento, baseado em dados do IBGE, do Ministério do Desenvolvimento e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o PIB americano pode encolher 0,37% por conta das novas barreiras comerciais — um tombo mais profundo do que o estimado para as economias atingidas, como Brasil e China, que devem sofrer retração de 0,16%.
O cenário é de perda generalizada. A economia global, segundo o estudo, pode encolher 0,12%, enquanto o comércio mundial tende a ter uma queda expressiva de 2,1%. Para Ricardo Alban, presidente da CNI, a medida é contraproducente. “É uma política de perde-perde. O impacto sobre os americanos será significativo, já que nossa relação comercial é de complementaridade, não de rivalidade”, afirmou.
Brasil também sentirá os efeitos
Apesar de não ser o mais prejudicado, o Brasil também sofrerá consequências severas. O tarifaço pode representar uma redução de R$ 19,2 bilhões no PIB brasileiro e causar a perda de 110 mil empregos. As exportações devem cair em cerca de R$ 52 bilhões, atingindo duramente setores estratégicos da indústria nacional.
Três segmentos devem ser os mais afetados:
- Máquinas agrícolas e tratores: queda de 4,18% na produção e 11,31% nas exportações;
- Indústria aeroespacial e naval: retração de 9,1% na produção e 22,3% nas exportações;
- Carnes de aves: queda de 4,1% na produção e 11,3% nas exportações.
Impacto regional
Entre os estados, os mais atingidos economicamente serão:
- São Paulo: recuo de R$ 4,4 bilhões no PIB
- Rio Grande do Sul: R$ 1,9 bilhão
- Paraná: R$ 1,9 bilhão
- Santa Catarina: R$ 1,7 bilhão
- Minas Gerais: R$ 1,6 bilhão
Essas unidades da federação abrigam polos industriais diretamente ligados ao mercado americano e à cadeia exportadora afetada.
Parceria assimétrica
Embora o governo Trump argumente que as tarifas visam corrigir desequilíbrios, os dados da CNI revelam outra realidade: entre 2015 e 2024, os EUA registraram superávit de US$ 43 bilhões na balança comercial de bens com o Brasil e US$ 165 bilhões em serviços.
Além disso, o Brasil aplica hoje uma tarifa média de apenas 2,7% sobre produtos americanos. Os Estados Unidos são o terceiro maior parceiro comercial brasileiro, destino de 12% das exportações nacionais e origem de 16% das importações. Em 2024, 78,2% das exportações da indústria de transformação brasileira tiveram como destino o mercado norte-americano.
Caminho é o diálogo
Diante dos números, a CNI defende uma reaproximação diplomática. “O momento exige racionalidade e negociação. Nossas economias são parceiras em diversas cadeias produtivas e a imposição de barreiras só enfraquece esse elo”, destacou Alban.
O recado do setor industrial é claro: o protecionismo de Trump pode ter um custo alto — inclusive para quem o impõe.