SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Visitar o borboletário do Museu Catavento, em São Paulo, requer atenção aos detalhes. O local abriga 595 pequenas borboletas em uma cúpula cheia de árvores, mas protegida do ambiente externo. No seu interior, abundam pistas do ciclo de vida do inseto.
Plantas escondem míni ovos, a fase inicial do animal, que só são encontrados pelos olhos treinados dos instrutores do museu. Folhas mordiscadas indicam qual foi o último almoço de lagartas, a segunda e a mais longa etapa do desenvolvimento. A vegetação ainda acolhe pupas, o abrigo em que o animal se liquefaz antes de ganhar asas.
Enquanto a cúpula protegida concentra os insetos adultos -as borboletas-, a maioria dos que ainda estão na fase inicial moram no laboratório de criação. O espaço que abriga 5.000 lagartas foi aberto para visitas pela primeira vez em julho, mês em que o borboletário completa dez anos.
A área de visitação é oficialmente um berçário que repõe animais que morrem no borboletário. Como os insetos na fase adulta vivem de 15 a 30 dias, a depender da espécie, a instituição precisa de um fluxo de reprodução para evitar que faltem borboletas.
Antes do laboratório de criação ser inaugurado em 2023, o museu dependia de pupas importadas do borboletário de Diadema, na Grande São Paulo. Hoje a instituição da capital já acompanha todo ciclo de vida de três espécies, do ovo à metamorfose. São elas a Ascia monuste, a Caligo illioneus e a Methona themisto, todas presentes no Brasil e nas Américas, comuns a borboletários.
Segundo Rodrigo Silva, biólogo responsável pelo borboletário do Catavento, as três espécies foram as que melhor se adaptaram ao clima e aos alimentos disponíveis no museu. A instituição tem autorização do Ibama para criar cinco e ainda busca permissão para outras 20.
Uma das espécies atuais, a methona, conhecida como manacá, nome dado à árvore que a borboleta gosta de comer quando lagarta, ficou cinco anos ausente por problemas na reprodução. Só sobraram fêmeas, o que impossibilita o acasalamento.
Silva conta que a instituição precisou pedir permissão para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente para capturar lagartas, ovos e borboletas da espécie para repor os números.
O museu precisou criar um jardim com plantas que a manacá gosta para atraí-la e usou redes para pegar os insetos adultos. “Tal qual o Bob Esponja”, lembra o biólogo, em referência ao personagem infantil que caçava borboletas com uma rede no desenho de mesmo nome.
Outra novidade do laboratório de criação é mostrar o menu dos insetos, que varia conforme o ciclo de vida de cada um. Na fase de lagarta, a ascia come couve, e a caligo, chamada de olho-de-coruja pela semelhança com a ave, prefere folhas de bananeira. Já a manacá adulta consome pasta de frutas com mel.
“São alimentos orgânicos porque os insetos são muitos sensíveis”, diz Silva. Por isso, toda comida é higienizada, o que evita contaminações antes de ser oferecida às borboletas.
A delicadeza dos bichos é vista de perto em outra atividade da nova visita, feita por meio de uma espécie de lupa. Ali, instrutores do museu chamam a atenção para as escamas nas asas de borboletas, cujos detalhes lembram pele de cobra. E também para as antenas dos bichos.
Ao lado, uma sala estreita abriga um caixote de madeira com inúmeras pupas penduradas, todas numeradas. Se der sorte, serve como camarote para ver o inseto tentando se liberar da crisálida. O visitante torce para uma saída rápida: quanto menos tempo a borboleta demorar, maior a chance de sobreviver.
“Borboletários falam sobre o ciclo de vida de borboletas para construir valores de conservação ambiental”, afirma Maristela Zamoner, bióloga que organizou o livro “Borboletários no Brasil” (Comfauna, 2024).
Embora essas instituições lidem com temas científicos e precisem de muito rigor técnico para funcionar, elas aproximam o público do tema quando apostam em visitas lúdicas e divertidas, diz a bióloga.
No laboratório ou na cúpula, os instrutores do Catavento estão sempre explicando cada detalhe das borboletas. Em alguns momentos, até permitem o toque, talvez para desfazer o mito de que as borboletas têm um pó que causa cegueira. Não causam, diz Rodrigo Silva, o biólogo do museu.
A nova visita do borboletário do Catavento começa na cúpula principal e depois se encaminha para o laboratório de criação. A atividade, ainda em versão piloto, abre de quarta e quinta, com cinco sessões diárias. Para participar, é preciso agendar pelo site do museu (museucatavento.org.br), depois de efetuar a compra ou a reserva do ingresso. A cúpula recebeu 25 mil visitantes em 2024, segundo o Catavento.
BORBOLETÁRIO DO CATAVENTO
Palácio das Indústrias – av. Mercúrio, s/n, Parque Dom Pedro II, região central
Ter. a dom., das 9h às 17h. Laboratório de criação na qua. qui., das 10h30 às 15h30, com senha retirada pelo site
Ingr.: R$ 18. Grátis ter., 1º domingo do mês e toda 2ª qua