JAMARAQUÁ, PA (FOLHAPRESS) – Para quem viaja pelo Pará, o turismo já começa no trajeto -seja ele feito por terra, água ou céu. No voo, por exemplo, no caminho entre Belém e Santarém, é impossível parar de admirar a mata volumosa entrecortada por rios e baías. As águas escuras contrastam com o verde vivo da floresta, caminham entre as porções de terra e formam reentrâncias e ilhas fluviais.

É em terra, no entanto, que se tem uma ideia mais precisa da vastidão do rio. Alter do Chão é banhada pelo Tapajós, que nasce no Mato Grosso (próximo à tríplice fronteira com Pará e Amazonas) e deságua no rio Amazonas, bem em frente a Santarém -não à toa, a cidade também é conhecida como “pérola do Tapajós”. De um dos pontos da orla de Alter, nem se vê a outra margem do rio: são cerca de 15 km de água na época da cheia.

Pouco antes de chegar à costa de Alter, o Tapajós banha a Floresta Nacional do Tapajós -por lá, conhecida como Flona-, compreendida entre o rio e a BR-163 (Santarém-Cuiabá). A unidade de conservação foi criada por decreto em 1974 e é administrada pelo ICMBio. Em tempo de seca, a Flona oferece dezenas de quilômetros de praias fluviais. Na cheia, a possibilidade de navegar na floresta alagada.

Entre as tantas riquezas oferecidas pelo local, a maior delas, sem dúvidas, é o seu povo. A Flona abriga diversas comunidades ribeirinhas, muitas delas abertas ao turismo de base comunitária -por isso Alter do Chão vai muito além das praias. Uma dessas comunidades é Jamaraquá, também acessível de carro, mas torna o passeio muito mais agradável se acessada pelo rio. Esta, aliás, é uma vantagem de visitar o local na cheia: em cerca de uma hora partindo da orla de Alter, a lancha chega direto às instalações da comunidade. Na seca, é preciso andar até 2 km sob sol forte para chegar lá.

Em comparação a outros ajuntamentos, Jamaraquá tem mais estrutura graças à Conceição -ou dona Conce, como era chamada na região. Falecida em agosto de 2024, ela abriu o restaurante Cozinha da Conce, que, além de turistas, atrai moradores de Santarém. O sucesso fez com que o local se desenvolvesse. Hoje, um dos filhos de Conce gerencia a pequena pousada Nirvana do Tapajós, com quatro quartos (R$ 90 a diária, com café da manhã), e o restaurante ganhou um novo salão no início do ano.

Ao desembarcar em Jamaraquá, vale a pena fazer o pedido do almoço (no cardápio, peixes da região ou galinha caipira, acompanhados de arroz, feijão, farinha e salada, R$ 60) e procurar o Donildo -ou seu Dido- para fazer a oficina de látex (R$ 100). Com pouco mais de 60 anos, Dido nasceu no Jamaraquá em uma família de seringueiros, tendo seguido a profissão por anos.

Na atividade preparada por ele, o turista passeia pelo seringal e acompanha a coleta do látex. Depois, vai até a oficina para colocar a mão na massa: prepara uma placa de borracha que pode ser levada para casa no dia seguinte. A partir dessa placa, é possível fazer peças como brincos, colares, capas de caderno e até sapatos -itens como esses ficam à venda na lojinha anexa à oficina. Para participar da atividade, vale fazer reserva junto às agências de turismo de Alter.

Em Jamaraquá, na cheia, também é possível navegar pela Flona alagada com um guia a (na @serenatur.alterdochao, R$ 100 no total, divididos por até cinco pessoas). O passeio também pode ser feito na seca, como trilha, mas a navegação tem um toque especial. A entrada na canoa é pelo raso e, à medida que a embarcação se aproxima do Tapajós, o volume de água vai ficando mais profundo.

No meio da floresta, fica-se perto das copas das árvores (algumas chegam a ficar submersas) e o silêncio impera (com a exceção do canto e do movimento dos pássaros). É um passeio de encher os olhos. O mesmo roteiro se faz à noite para focagem de jacarés (R$ 150 no total, divididos por até cinco pessoas). Quando a Folha fez o trajeto, nenhum jacaré apareceu, e foi difícil decidir para onde olhar: para a água em busca do réptil ou para o superestrelado céu da Amazônia.

Outra atração imperdível do Jamaraquá é a trilha do Piquiá -esta disponível durante todo o ano (com guia, R$ 200 no total, divididos por até cinco pessoas). Considerando ida e volta, a caminhada leva cerca de três horas para ser concluída sem grandes desafios. O trajeto leva a dois pontos específicos: o paradisíaco igarapé (riacho que nasce na mata) do Índio e um mirante que oferece um ângulo privilegiado da Flona. O caminho, no entanto, é cheio de surpresas. Uma delas é a visita a uma samaúma (ou sumaúma) de mais de 280 anos que rende um bom momento de contemplação e, é claro, fotos.