SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de ainda não ter entrado em vigor, a sobretaxa de 50% anunciada por Donald Trump já tem afetado setores e produtos brasileiros.
A medida está marcada para entrar em vigor em 1º de agosto. O governo Lula (PT) tem buscado caminhos de negociação, seja para reverter ou prorrogar a sobretaxa, entretanto, também se prepara para retaliar os EUA caso o conflito comercial continue ou escale.
Confira 5 produtos já afetados pelo tarifaço de Trump.
MANGA
As exportações de manga do Brasil para os EUA tiveram negociações suspensas nos últimos dias, segundo produtores. A manga é a principal fruta in natura exportada para os Estados Unidos, segundo a Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados). A laranja figura entre as principais mercadorias vendidas para o país, mas em forma de suco.
O impasse tarifário causa preocupação porque a janela de embarques da fruta para os Estados Unidos começaria justamente em agosto, prazo para as sobretaxas entrarem em vigor. No Nordeste, polo da atividade no país, há quem fale em risco de quebradeira no setor.
PESCADOS
Na última terça-feira (15), o setor de pescados afirmou que vai suspender as exportações para os Estados Unidos dentro de uma semana devido à sobretaxa. Com cerca de 70% da produção nacional destinada ao mercado americano, a medida pode tornar o setor inviável até a abertura de novos mercados.
Mais de 50 contêineres frigoríficos, com cerca de mil toneladas de peixes, deixaram de embarcar em navios para os Estados Unidos na última quinta (10). O setor tem pressionado o governo a negociar o adiamento da sobretaxa por, no mínimo, 90 dias.
CARNE
Frigoríficos de Mato Grosso do Sul suspenderam a produção de carnes destinadas aos Estados Unidos após o anúncio da sobretaxa de Trump. A produção para o mercado nacional segue normal, mas as empresas estão buscando mercados alternativos no exterior.
Segundo o presidente da Abiec (Associação Brasileira de Carne Bovina), Roberto Perosa, o setor tem avaliado se fará novos embarques para os Estados Unidos, que é o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil. “Novos embarques estão sob análise do setor privado por conta da alta da tarifa”, afirmou o executivo na terça.
CAFÉ
Traders de commodities disseram na última terça que estão correndo para descarregar a maior quantidade possível de café brasileiro nos Estados Unidos antes que a sobretaxa de Trump entre em vigor.
Alguns deles estão desviando navios no meio da viagem, cancelando paradas em outros portos ou enviando o café brasileiro estocado em países vizinhos para os EUA para evitar a sobretaxa.
AVIÕES
Um dia depois da sobretaxa ser anunciada, as ações da Embraer desabaram mais de 8%. De acordo com analistas do JPMorgan, a companhia pode ser uma das mais afetadas no setor de bens de capital brasileiro, com um impacto potencial estimado de cerca de 13% na receita da fabricante brasileira de aviões.
Caso a sobretaxa se confirme, a empresa projeta um custo de R$ 2 bilhões em pagamento de tarifas somente neste ano. De acordo com o CEO da fabricante, Francisco Gomes Neto, o impacto pode chegar a R$ 20 bilhões até 2030 e gerar demissões.
MÓVEIS E MADEIRA
Importadores pediram a produtores gaúchos que segurem os embarques, afirma Cleberton Ferri, diretor internacional do Sindmóveis (Sindicato das Indústrias do Mobiliário) Bento Gonçalves, que reúne em torno de 300 empresas. De acordo com ele, os Estados Unidos absorveram 17% dos embarques no primeiro semestre.
Na avaliação de Ferri, se houver sobretaxa de 50%, o setor não teria como encontrar parceiros comerciais substitutos de forma imediata.
“O momento é bastante desesperador, não só no setor moveleiro. Isso nos pegou de surpresa”, diz Euclides Longhi, presidente da Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul).
O Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores de móveis do Brasil. Segundo Longhi, em torno de 16% das exportações do estado vão para o mercado americano. Os Estados Unidos são o principal destino.
CALÇADOS
Empresas do setor já começaram a receber cancelamentos de pedidos, segundo a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados). Com 22% das exportações voltadas aos EUA, a entidade afirmou que os produtos são feitos sob encomenda dos clientes americanos, o que impediria a realocação. Além do impacto comercial, o segmento estima que, caso as tarifas entrem em vigor, haveria perda de 7.000 empregos diretos e 5.000 indiretos, especialmente na região Nordeste do país.