SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O partido ultraortodoxo Shas anunciou nesta quarta-feira (16) sua saída parcial do governo do premiê Binyamin Netanyahu, aprofundando a crise política em Israel. A decisão, tomada após uma reunião do Conselho de Sábios da Torá, instância máxima do partido, ocorreu um dia depois de a outra legenda ultraortodoxa United Torah Judaism (UTJ, na sigla em inglês) ter deixado a coalizão governamental.

A movimentação é consequência de uma disputa relacionada ao alistamento militar obrigatório para os judeus ultraortodoxos.

Apesar do anúncio, o Shas continuará, por ora, fazendo parte da coalizão parlamentar de Netanyahu, o que evita o colapso imediato do governo e a convocação de eleições antecipadas. A legenda vai abrir mão, porém, de cargos no gabinete do primeiro-ministro.

Seis integrantes do UTJ renunciaram na terça, deixando Netanyahu com maioria mínima de 61 assentos no Knesset, como o Parlamento israelense é conhecido, que tem um total de 120 cadeiras. O Shas ocupa 11 cadeiras e ajuda a manter a coalizão do premiê no poder.

A decisão também não inviabiliza, pelo menos por enquanto, as negociações por um cessar-fogo na Faixa de Gaza que ocorrem no Qatar.

Israel teve cinco eleições em menos de quatro anos, o que se explica, em parte, pela dificuldade que o Likud (o partido de Netanyahu, entre os mais votados em todas elas) enfrentou para formar uma coalizão que sustentasse um governo no sistema parlamentarista.

Na última delas, em novembro de 2022, o atual premiê só conseguiu a maioria parlamentar ao forjar a aliança mais à direita da história do país.

Um porta-voz do Shas informou à imprensa local que os ministros da legenda devem formalizar suas renúncias nesta quinta-feira (17).

A coalizão de Netanyahu enfrenta crises internas há meses. O gatilho foi a tramitação de um projeto de lei que pretende acabar com a isenção do alistamento militar obrigatório para os judeus ultraortodoxos.

O serviço militar é uma obrigação para a maioria dos cidadãos judeus de Israel. Mas os ultraortodoxos, que representam 13% da população, tradicionalmente recebem isenções se estiverem estudando em seminários religiosos.

Com a guerra em Gaza ainda em curso, esse tratamento diferenciado ficou ainda mais polêmico, já que o país registra sua maior mobilização militar desde 1973.

Bibi, como o premiê é conhecido, tem enfrentado críticas por não ter conseguido impedir as ações terroristas do Hamas em outubro de 2023. Ele também está sob pressão de manifestantes e familiares de reféns ainda mantidos em Gaza para encerrar a guerra e garantir a libertação dos israelenses.

Após os ataques terroristas do Hamas em 2023, o governo de Israel convocou 360 mil reservistas, e muitos deles vêm cumprindo repetidas rodadas de serviço que somam centenas de dias. O desgaste é tão grande que alguns estão se recusando a continuar na frente de batalha, e o Exército recorreu até às redes sociais para aumentar o contingente.

Historicamente, a isenção aos religiosos remonta à fundação de Israel, em 1948, quando grupos foram liberados do serviço como forma de preservar o estudo religioso após a devastação do Holocausto. No entanto, com o aumento populacional dos ultraortodoxos e com o fortalecimento político dos partidos religiosos, o número de isentos explodiu.

A Suprema Corte israelense declarou as isenções ilegais em 2017, mas o governo, com Netanyahu à frente, vem prorrogando a situação com sucessivos adiamentos. Nos últimos meses, o premiê evitou comentar o tema.