Da Redação
Frigoríficos de Goiás estão interrompendo, de forma emergencial, o envio de carne bovina para os Estados Unidos após o anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos agropecuários brasileiros. A medida, que passa a valer a partir de 1º de agosto, foi recebida com apreensão pelo setor produtivo, especialmente em Goiás — um dos principais exportadores de proteína animal do país. A reação foi imediata: abates destinados ao mercado americano foram suspensos e a indústria já calcula prejuízos com contratos em risco.
Segundo o presidente do Sindicarnes Goiás, a medida pegou todos de surpresa e inviabilizou economicamente os embarques. “Os frigoríficos estão, nesta semana, fora das compras de boi para atender os Estados Unidos. Não há como manter a produção com essa taxação repentina. O risco de perdas é gigantesco”, alertou.
Carga a caminho e contratos ameaçados
A preocupação não se limita ao que ainda seria produzido. Já há carne em processamento nas indústrias, produtos prontos nos portos e até cargas em trânsito marítimo. Como a tarifação entra em vigor no início de agosto, há o risco de que mercadorias cheguem aos EUA já sob a nova regra — o que representaria custos inesperados e perdas expressivas para empresas e pecuaristas.
Além do impacto financeiro, o setor aponta para o risco jurídico: contratos firmados com antecedência agora podem se tornar inviáveis de cumprir. “O mercado americano trabalha com prazos curtos entre a negociação e a entrega. A mudança quebra esse fluxo de confiança e ameaça toda a cadeia produtiva”, afirmou o dirigente do sindicato.
Efeito cascata: mercado pressionado e sobreoferta
Dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa) mostram que os Estados Unidos são responsáveis por cerca de um quarto das exportações de carne bovina goiana — atrás apenas da China. Goiás, por sua vez, é o terceiro maior exportador do país, que lidera globalmente nesse setor.
Com a paralisação dos embarques, o excedente de carne que seria enviado aos EUA deverá ser direcionado a outros mercados ou ao consumo interno, o que pode derrubar os preços e desequilibrar a oferta. Segundo a Seapa, a medida afeta não apenas quem exporta para os Estados Unidos, mas toda a cadeia, incluindo produtores que atendem exclusivamente o mercado nacional.
A secretaria também alerta que o impacto pode se estender à cadeia agrícola, já que boa parte da produção de grãos no estado é voltada à alimentação de bovinos confinados.
Pressão por ação federal e diversificação de mercados
A indústria pede que o governo federal entre em campo com urgência para tentar reverter ou, ao menos, adiar a entrada em vigor da tarifa. “Uma mudança tão drástica, sem diálogo, quebra contratos e a previsibilidade do setor. É fundamental uma resposta firme por parte da diplomacia brasileira”, afirmou o presidente do Sindicarnes.
Enquanto isso, o governo de Goiás já tenta abrir novas portas no comércio exterior. A Seapa destacou esforços para diversificar os destinos da carne goiana, citando a Missão ao Japão e o diálogo com representantes de outros países como estratégias para minimizar o impacto da nova barreira imposta pelos norte-americanos.
Nota oficial da Seapa reforça alerta
Em nota oficial, a Seapa reconheceu que a decisão dos EUA afeta o agro goiano como um todo, inclusive a cadeia de grãos. “Essa tarifação cria um desequilíbrio não só nos frigoríficos exportadores, mas em toda a lógica de distribuição da carne e de insumos. O Governo de Goiás tem atuado para abrir novos mercados e evitar que medidas como essa abalem o setor de forma estrutural”, diz o texto.
A nota conclui que a diversificação internacional é o caminho mais seguro para proteger o agronegócio goiano de instabilidades externas cada vez mais frequentes.