SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Nenhuma empreitada científica da história reuniu mais ganhadores do Prêmio Nobel do que o Projeto Manhattan. Ao todo, receberam a láurea 26 participantes da iniciativa, patrocinada pelos governos americano e britânico com o objetivo de desenvolver as primeiras bombas atômicas da história. A explosão da primeira delas ocorreu em 16 de julho de 1945, no Novo México (EUA), no teste Trinity.
Desses ganhadores, 25 foram contemplados pelas categorias científicas do Nobel, principalmente na área de física, mas também na de química. O último membro do projeto a receber a honraria, no entanto, recebeu o Nobel da Paz por seu ativismo antinuclear, já na década de 1990.
Entre os nobelistas do Projeto Manhattan, sete cientistas já tinham sido premiados antes de sua participação na empreitada, enquanto os demais receberam a honraria máxima da ciência durante e depois da criação dos primeiros armamentos atômicos. Conheça a seguir os principais ganhadores.
Isidor Isaac Rabi – Nobel de Física, 1944
Rabi nasceu na Polônia e foi ainda bebê para os Estados Unidos -a família se instalou no Lower East Side, área de Nova York com grande concentração de imigrantes judeus. Envolvido com pesquisas militares desde o começo da década de 1940, ele ajudou a desenvolver sistemas de radar e passou a atuar como consultor do Projeto Manhattan, embora não se mudasse para a sede da iniciativa em Los Alamos, no Novo México.
Rabi foi o único membro do projeto a receber o Nobel quando as bombas ainda eram segredo de Estado. O prêmio veio por decifrar aspectos do chamado “spin” do núcleo dos átomos, uma propriedade vagamente análoga à orientação de um pião quando ele está girando.
Por pura sorte, Rabi venceu as apostas entre os cientistas do projeto sobre a energia que seria liberada com a explosão do primeiro teste atômico -como numa rifa, ele escolheu o último valor que estava sobrando nas apostas. Depois da guerra, atuando como assessor da Presidência americana, ele se opôs à criação das bombas de hidrogênio, muito mais poderosas, mas foi derrotado.
Edwin McMillan e Glenn Seaborg – Nobel de Química, 1951
No ano de maior número de premiações para a equipe do Projeto Manhattan, o californiano McMillan e seu colega Seaborg, nativo do estado americano do Michigan, foram premiados juntos por seu trabalho com os elementos químicos transurânicos, ou seja, com átomos mais “pesados” que o urânio.
Durante a Segunda Guerra Mundial, McMillan, que trabalhou em Los Alamos, participação do desenvolvimento dos dois diferentes modelos de bombas atômicas criados pela equipe, cada um dos quais usados contra diferentes cidades japonesas (Hiroshima e Nagasaki). Já Seaborg, trabalhando no Laboratório Metalúrgico da Universidade de Chicago, participou do processo de transformar o isótopo (variante de elemento químico) urânio-238 em outro elemento, o plutônio, essencial para as bombas.
John Cockcroft – Nobel de Física, 1951
No mesmo ano, o britânico sir John Douglas Cockcroft recebeu a láurea por experimentos realizados quase 20 anos antes. Trabalhando na Universidade de Cambridge, ele e seus colegas foram os primeiros a produzir a desintegração deliberada de um núcleo atômico, bombardeando átomos de lítio -processo então conhecido popularmente como “rachar o átomo”.
Cockcroft não trabalhou diretamente com o desenvolvimento das bombas atômicas, mas participou do desenvolvimento de tecnologias inspiradas pelo trabalho no Canadá, como a criação de alguns dos primeiros reatores para produção de energia nuclear.
Emilio Segrè – Nobel de Física, 1959
Nascido em Tivoli, na região de Roma, Segrè era diretor de um laboratório da Universidade de Palermo, na Sicília, e estava em visita à Universidade da Califórnia em Berkeley em 1938 quando o governo fascista italiano promulgou uma lei excluindo cidadãos judeus das universidades. Sendo judeu, Segrè decidiu não regressar à Itália e ficou nos EUA, naturalizando-se americano durante sua participação no Projeto Manhattan.
Durante a criação das bombas atômicas, seu trabalho se concentrou na medição da atividade radioativa (produção de radiação) vinda dos elementos químicos usados nos artefatos. Ele e seus colegas mediram a produção de raios gama logo depois do teste da primeira bomba. O Nobel de Segrè foi resultado de sua participação da descoberta do antipróton, partícula gêmea “com sinal trocado” dos prótons que existem no núcleo atômico.
Maria Goeppert Mayer e Eugene Wigner – Nobel de Física, 1963
A alemã Goeppert Mayer foi a única mulher participante do Projeto Manhattan a vencer o Nobel, dividindo o prêmio de Física de 1963 com seu colega húngaro Wigner e com outro vencedor que não integrou o esforço para produzir as primeiras bombas atômicas.
A pesquisadora participou do subgrupo de pesquisadores que deu os primeiros passos rumo ao futuro desenvolvimento de bombas de hidrogênio (então chamadas de “Super”), enquanto Wigner chefiou o grupo responsável por criar reatores capazes de transformar urânio em formas de plutônio que pudessem ser usadas nas armas. Ambos foram premiados por seus estudos sobre a estrutura do núcleo atômico.
A física Goeppert Mayer, única mulher participante do Projeto Manhattan a ganhar o Nobel Departamento de Energia dos EUA Uma mulher sentada em uma mesa, segurando uma régua. Ela tem cabelo encaracolado e usa um vestido com padrão floral.
Hans Bethe – Nobel de Física, 1967
De origem judaica por parte de mãe, mas criado como protestante, o alemão Hans Bethe nasceu em Estrasburgo (então parte do Império Alemão, hoje em território francês). Depois de passagens como pesquisador pelo Reino Unidos e pelos EUA, Bethe passou a colaborar com o esforço de guerra no começo dos anos 1940 até ser designado como chefe da Divisão T (responsável pela área de física teórica) de Los Alamos.
Bethe recebeu o Nobel por seu trabalho sobre as reações nucleares responsáveis pela produção de energia nas estrelas.
Joseph Rotblat – Nobel da Paz, 1995
Sir Joseph Rotblat, judeu polonês naturalizado britânico, colaborou com análises sobre o efeito das emissões de raios gama no funcionamento das bombas atômicas em Los Alamos. Porém, quando ficou claro que a Alemanha não estava mais desenvolvendo sua própria bomba, ele pediu para ser dispensado do projeto por razões de consciência.
De volta ao Reino Unido passou a atuar em pesquisas atômicas que envolviam exclusivamente fins pacíficos e médicos e se tornou ativista contra a proliferação nuclear, o que lhe renderia o Prêmio Nobel da Paz.
Cientistas do Projeto Manhattan ganhadores do Nobel
Ano Quem Categoria
1922 Niels Bohr Física
1925 James Franck Física
1927 Arthur Compton Física
1932 James Chadwick Física
1934 Harold Urey Química
1938 Enrico Fermi Física
1939 Ernest Lawrence Física
1944 Isidor Isaac Rabi Física
1951 John Cockcroft Física
1951 Edwin M. McMillan Química
1951 Glenn Theodore Seaborg Química
1952 Felix Bloch Física
1959 Emilio Segrè Física
1960 Willard F. Libby Química
1963 Maria Goeppert Mayer Física
1963 Eugene Wigner Física
1965 Richard P. Feynman Física
1967 Hans Bethe Física
1968 Luis Alvarez Física
1975 Aage Niels Bohr Física
1975 James Rainwater Física
1977 John van Vleck Física
1980 Val Fitch Física
1989 Norman F. Ramsey Física
1995 Frederick Reines Física
1995 Joseph Rotblat Paz