SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em queda de 0,48% nesta terça-feira (15), cotado a R$ 5,558, com investidores reagindo a dados da inflação norte-americana e à guerra comercial de Donald Trump.

O recuo da moeda americana interrompeu uma sequência de quatro sessões consecutivas de ganhos e esteve na contramão do exterior, onde o dólar sustentou altas ante as demais divisas.

Já a Bolsa fechou o dia perto da estabilidade com uma leve valorização de 0,04%, a 135.250 pontos. O resultado do índice ocorre mesmo com as desvalorizações de Vale e Petrobras.

O dia também foi marcado pelas tensões envolvendo o impasse sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Investidores estiveram à espera de notícias sobre a audiência de conciliação no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o imposto, que vieram após o fechamento do mercado.

Começando pela ponta internacional, dados do Departamento do Trabalho americano desta terça mostraram que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% no mês passado, depois de ter avançado 0,1% em maio. Esse foi o maior crescimento desde janeiro.

Nos 12 meses até junho, o índice teve alta de 2,7%, depois de subir 2,4% em maio. Economistas ouvidos pela Reuters previam altas de 0,3% na base mensal e de 2,6% na anual.

Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o índice de preços ao consumidor aumentou 0,2% em junho, depois de ter subido 0,1% no mês anterior. O chamado núcleo do índice veio levemente abaixo das expectativas, que eram de 0,3% para o período.

Entre analistas, há dúvidas se os dados da inflação apontam para cortes do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) no futuro.

Segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, o núcleo da inflação americana continua surpreendendo e revela uma inflação controlada. “Mostra um crescimento abaixo do que se esperava, que, em tese, sugere que o Fed possa cortar juros mais cedo do que se esperava”, diz.

Para o analista, com juros mais baixos, os rendimentos dos títulos americanos também caem, o que tende a favorecer o Brasil e o real. “Diminui a demanda, dificulta a atração de investimentos externos para os Estados Unidos e enfraquece o dólar globalmente”.

Para Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, por outro lado, os dados da economia americana afastaram a possibilidade de corte de juros pelo Fed no curto prazo. “O núcleo da inflação se manteve dentro de uma faixa tolerável. No entanto, esse resultado parece afastar a possibilidade de corte de juros, e provavelmente empurra qualquer decisão para daqui a dois meses ou mais”.

Quando os juros estão altos nos Estados Unidos, os títulos americanos passam a oferecer retornos mais atrativos. Isso leva os investidores a direcionar seus recursos para estes mercados. Quando há queda nessas taxas, o contrário pode acontecer.

O dia também foi marcado pela reação do governo brasileiro às sobretaxas de 50% de Donald Trump. Nesta terça, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou que a prioridade do governo Lula (PT) é reverter a sobretaxa imposta pelos Estados Unidos antes que ela comece a valer, em 1º de agosto, mas disse que pode pedir a prorrogação deste prazo, se for necessário.

“Nós queremos resolver o problema o mais rápido possível. Se houver necessidade de mais prazo, vamos trabalhar nesse sentido”, afirmou o vice-presidente, após o encontro.

Alckmin defendeu que o setor produtivo brasileiro ajude no diálogo com as empresas dos EUA, uma vez que a economia dos dois países deve ser prejudicada com a tarifa.

As importações hoje são sobretaxadas em 10%, tarifa anunciada por Trump em 2 de abril. Ou seja, além das tarifas já cobradas, há uma cobrança adicional de 10%. Essa alíquota será substituída pela de 50% a partir de 1º de agosto.

A sobretaxa não é adicionada a produtos que já sofrem tarifas setoriais, como aço e alumínio, sobre os quais há tarifas de 50%.

Na última segunda, o presidente Lula (PT) publicou o decreto que regulamenta a chamada Lei da Reciprocidade, instrumento que permitirá ao Brasil adotar medidas em resposta à sobretaxa de 50% anunciada pelo governo Trump para produtos brasileiros.

O decreto estabelece os procedimentos que devem ser adotados para a aplicação da lei aprovada pelo Congresso em abril, que impõe a reciprocidade de regras ambientais e comerciais nas relações do Brasil com outros países. A proposta teve tramitação acelerada na Câmara e no Senado, com apoio de ruralistas e governistas.

A guerra comercial também tem impactado o mercado internacional. No começo da tarde da última segunda, o presidente dos Estados Unidos deu um ultimato a Vladimir Putin para acertar uma trégua com a Ucrânia.

O republicano falou em impor “tarifas severas”, especificando que seriam “secundárias”. Ou seja, atingiriam aqueles que fazem negócios com os russos.

“Tarifas secundárias são muito poderosas. Espero que dê certo”, disse Trump, citando taxas de até 100% -menos que os 500% propostos em um projeto que tramita no Congresso americano.

Na ponta doméstica, as atenções nesta terça também ficaram voltadas para o impasse em torno da tentativa do governo de elevar a cobrança do IOF. O STF (Supremo Tribunal Federal) programou audiência de conciliação para esta terça entre Executivo e Legislativo.

A expectativa era de que o Ministério da Fazenda apresentasse uma nova proposta, com um recuo na tributação sobre o risco sacado, segundo cinco pessoas que participam das discussões.

A audiência de conciliação teve a participação apenas dos advogados de cada lado, sem a presença dos políticos.

Após o fechamento do mercado, as partes envolvidas na negociação no STF se manifestaram no sentido de manter a decisão a cargo da corte ao não chegarem em um acordo sobre o tema. Com isso, o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, deve decidir se mantém o decreto de Lula.