RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Produtores afirmam que as exportações de manga do Brasil para os Estados Unidos tiveram negociações suspensas nos últimos dias.

Segundo eles, a paralisação é resultado da sobretaxa de 50% que o governo Donald Trump prevê impor contra as mercadorias brasileiras a partir de agosto.

O impasse causa preocupação porque a janela de embarques de manga para os Estados Unidos começaria justamente no próximo mês, indo até outubro ou novembro. No Nordeste, polo da atividade no país, há quem fale em risco de quebradeira entre produtores.

A manga é a principal fruta exportada pelo Brasil para os Estados Unidos, segundo a Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados). A laranja figura entre as principais mercadorias vendidas para o país, mas em forma de suco.

A associação confirma que recebeu relatos de paralisação nos embarques. No caso da manga, o mercado americano absorveu 14% do volume exportado pelo Brasil em 2024, de acordo com a entidade.

“Paralisou-se o processo de exportação, mas a fruta não espera. A fruta está madura, tem de ser colhida, e aí vão começar os problemas”, afirma Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Abrafrutas.

Ele é sócio-fundador da Agrícola Famosa, que produz melões e melancias no Rio Grande do Norte, no Ceará e em Pernambuco. A empresa não trabalha com mangas.

De acordo com Barcelos, os possíveis reflexos da sobretaxa vão muito além da perda direta de exportações para os Estados Unidos.

Sem os contratos com os americanos, o setor teria de buscar novos parceiros e direcionar parte do estoque de manga para o mercado interno.

Assim, a tendência seria de redução dos preços para o consumidor, mas com prejuízos financeiros para os produtores e riscos para os empregos na atividade, aponta Barcelos.

“Como é um produto perecível, o preço fatalmente irá cair muito, e o prejuízo vai ser grande para a produção de modo geral, não só para quem exporta para os Estados Unidos.”

Segundo a Abrafrutas, uma parcela de 15,1% da produção de manga do Brasil foi direcionada para vendas internacionais em 2023, período mais recente com dados disponíveis.

“Os exportadores que mandariam para os Estados Unidos, logicamente, vão tentar o mercado interno, o mercado da Europa, e vai ser ruim para todo mundo. Vai ser o abraço dos afogados”, afirma Paulo Dantas, diretor da Agrodan, empresa que exporta manga para o mercado europeu com operações em Pernambuco e na Bahia.

Segundo Dantas, apesar de a janela de embarques para os Estados Unidos ainda não ter começado, já há um “clima de desespero” entre os produtores. “A tendência é muita gente quebrar se realmente perder essa janela”, afirma.

Enquanto o tarifaço não entra em vigor, o setor espera uma saída diplomática para o impasse comercial. Em nota, a Abrafrutas disse na semana passada que “encoraja” as iniciativas de negociação entre representantes dos governos do Brasil e dos Estados Unidos.

“A fruticultura brasileira quer continuar exportando seus produtos para os EUA e, certamente, os importadores americanos desejam contar com nossas frutas para complementar o abastecimento do varejo, em um modelo de negócio ganha-ganha”, declarou a entidade.