SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos poucos nomes de peso do empresariado que compareceram à reunião organizada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), no Palácio dos Bandeirantes, para tratar do tarifaço de Donald Trump, nesta terça-feira (15), Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da Cosan, diz que não foi convidado pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), para participar do encontro promovido em Brasília pelo governo Lula na mesma data.
Ometto nega a ideia de rivalidade entre os governos paulista e federal em torno do tema das tarifas. Para ele, não há qualquer inclinação política entre os presentes em um ou outro encontro.
“Eu quero é o bem do país. Não tem nenhuma tendência política nisso”, afirma.
Antes das convocações para as reuniões, havia uma expectativa de que um encontro poderia esvaziar o outro. Em conversas reservadas, empresários receavam que Lula tivesse dificuldade de se aproximar porque se isolou neste terceiro mandato e fez pouco contato com o setor privado, diferentemente do diálogo que costumava promover em seus dois mandatos anteriores.
Questionado sobre a reunião de Tarcísio, Ometto, avalia que, por ora, a alternativa mais imediata é pedir prazo para a sobretaxa americana contra os produtos brasileiros, que começa a valer em 1º de agosto.
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PERGUNTA – Como foi a reunião com Tarcísio?
RUBENS OMETTO – Foi boa, foi boa. Cada setor explicou as suas dificuldades.
P – Qual resultado pode sair disso?
RO – É difícil falar. Acho que o problema é mais político do que técnico.
P – Havia uma curiosidade ontem [14] em relação a qual reunião os empresários iriam. É pelo fato de ser politico que o sr. foi para a do Tarcísio?
RO – Não. É porque ele [Tarcísio] me convidou. O Geraldo não me convidou. Mas eu quero é o bem do país. Não tem nenhuma tendência política nisso.
Na semana passada, alguns empresários diziam que Lula poderia ter dificuldade porque se isolou dos empresários, diferente do que ele fazia nas outras gestões.
P – Talvez seja por isso que ele não tenha lhe convidado?
RO – Eu não sei se deu tempo, entendeu? As duas iniciativas são importantes. Não são rivais. Os dois querem a mesma coisa.
P – O sr. não vê um racha?
RO – Não vejo. Todo mundo quer ajudar a resolver. O Tarcísio, porque São Paulo é um estado muito afetado. Ele está fazendo isso como governador de São Paulo. E o Geraldo e o Lula estão vendo o negócio do país, o que é certo também. Então, as duas iniciativas são importantes.
P – Por causa do componente político há muita especulação sobre o efeito eleitoral que isso pode ter sobre uma candidatura do Tarcísio, não?
RO – Nisso eu nem entro. [Falar disso] é desviar do problema. Eu estou focado só em como resolver o problema para o nosso país.
P – Até 1º de agosto, acha que dá para reverter essa situação?
RO – Eu espero, pelo menos, que adie um pouco, para dar mais tempo para se conversar. Eu acho muito difícil selar um acordo em 15 dias. Prorroga e aí, com calma, conversa. Eu acho que tem que conversar, trazer os Estados Unidos, que são parceiros de 200 anos. Não se termina um relacionamento assim. Precisa resolver.
P – De quem é a culpa de tudo isso o que está acontecendo?
RO – Eu tenho a minha opinião, mas não vou falar.
P – Cada um tem uma opinião, não?
RO – E depois, se eu falo um negócio, [vão dizer:] ‘você está desse lado’. Se eu falar outro, ‘você está desse lado’. Eu estou do lado do Brasil. Não sou político.
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RAIO-X | RUBENS OMETTO, 75
Presidente do conselho de administração da Cosan desde o ano 2000, o empresário é graduado em engenharia de produção pela Escola Politécnica da USP. Foi assessor da diretoria do Unibanco, diretor financeiro da Votorantim, entre outras posições.