SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar inverteu um movimento de queda e passou a subir no começo da tarde desta terça-feira (15). A Bolsa, por outro lado, ainda apresenta queda.

Às 13h34, a moeda americana subia 0,16%, a R$ 5,595, após ter registrado queda de mais de 0,50% pela manhã. No mesmo horário, a Bolsa brasileira registrava queda, com uma desvalorização de 0,61%, a 134.467 pontos.

O dia tem sido marcado por dados da inflação americana que teve um aumento em junho, tensões envolvendo a guerra comercial de Trump e o impasse sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Começando pela ponta internacional, dados do Departamento do Trabalho americano desta terça mostraram que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% no mês passado, depois de ter avançado 0,1% em maio. Esse foi o maior crescimento desde janeiro.

Nos 12 meses até junho, o índice tem alta de 2,7%, depois de subir 2,4% em maio. Economistas ouvidos pela Reuters previam altas de 0,3% na base mensal e de 2,6% na anual.

Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o índice de preços ao consumidor aumentou 0,2% em junho, depois de ter subido 0,1% no mês anterior. Nos 12 meses até junho, o núcleo do índice teve alta de 2,9%, depois de subir 2,8% por três meses consecutivos.

Economistas -e as autoridades do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA )- dizem esperar que a inflação acelere neste ano, à medida que o impacto defasado das tarifas seja repassado pelas empresas.

Por ora, porém, segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, o núcleo da inflação americana continua surpreendendo e revela uma inflação controlada. “Mostra um crescimento abaixo do que se esperava, que, em tese, sugere que o Federal Reserve possa cortar juros mais cedo do que se esperava”, diz.

Para o analista, com juros mais baixos, os rendimentos dos títulos americanos também caem, o que tende a favorecer o Brasil e o real. “Diminui a demanda, dificulta a atração de investimentos externos para os Estados Unidos e enfraquece o dólar globalmente”.

A semana até aqui tem sido marcada por ameaças tarifárias de Donald Trump contra parceiros comerciais, a exemplo do Brasil.

Nesta terça, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou que a prioridade do governo Lula (PT) é reverter a sobretaxa imposta por Trump, dos Estados Unidos, antes que ela comece a valer, em 1º de agosto, mas disse que pode pedir a prorrogação deste prazo, se for necessário.

“Nós queremos resolver o problema o mais rápido possível. Se houver necessidade de mais prazo, vamos trabalhar nesse sentido”, afirmou o vice-presidente, após o encontro.

Alckmin defendeu que o setor produtivo brasileiro ajude no diálogo com as empresas dos Estados Unidos, uma vez que a economia dos dois países deve ser prejudicada com a tarifa.

As importações hoje são sobretaxadas em 10%, tarifa anunciada por Trump em 2 de abril. Ou seja, além das tarifas já cobradas, há uma cobrança adicional de 10%. Essa alíquota será substituída pela de 50% a partir de 1º de agosto.

A sobretaxa não é adicionada a produtos que já sofrem tarifas setoriais, como aço e alumínio, sobre os quais há tarifas de 50%.

Na última segunda, o presidente Lula (PT) publicou o decreto que regulamenta a chamada Lei da Reciprocidade, instrumento que permitirá ao Brasil adotar medidas em resposta à sobretaxa de 50% anunciada pelo governo Trump para produtos brasileiros.

O decreto estabelece os procedimentos que devem ser adotados para a aplicação da lei aprovada pelo Congresso em abril, que impõe a reciprocidade de regras ambientais e comerciais nas relações do Brasil com outros países. A proposta teve tramitação acelerada na Câmara e no Senado, com apoio de ruralistas e governistas.

A guerra comercial também tem impactado o mercado internacional. No começo da tarde da última segunda, o presidente dos Estados Unidos deu um ultimato a Vladimir Putin para acertar uma trégua com a Ucrânia.

O republicano falou em impor “tarifas severas”, especificando que seriam “secundárias”. Ou seja, atingiriam aqueles que fazem negócios com os russos.

“Tarifas secundárias são muito poderosas. Espero que dê certo”, disse Trump, citando taxas de até 100% -menos que os 500% propostos em um projeto que tramita no Congresso americano.

No final de semana, Trump anunciou uma nova leva de tarifas para parceiros comerciais dos Estados Unidos -desta vez, União Europeia e México.

Em cartas publicadas no Truth Social no sábado, o presidente se dirigiu aos líderes de ambas as regiões para apresentar as novas sobretaxas de 30%, que passarão a valer a partir de 1º de agosto.

Em relação ao México, Trump citou a droga fentanil como justificativa, enquanto aos países da União Europeia, justificou as sobretaxas pela ótica da balança comercial. Em 2024, o déficit de mercadorias dos EUA com os europeus chegou a US$ 235 bilhões, segundo dados do U.S. Census Bureau.

Na ponta doméstica, as atenções nesta terça também estão voltadas para o impasse em torno da tentativa do governo de elevar a cobrança do IOF. O STF (Supremo Tribunal Federal) programou audiência de conciliação para esta terça entre Executivo e Legislativo.

As negociações para uma conciliação sobre os decretos do IOF tiveram início durante o 13º Fórum de Lisboa, o Gilmarpalooza.

Entre as possibilidades conversadas já em Portugal estão uma proposta de alíquota menor e a desistência da cobrança sobre o risco sacado e sobre aportes maiores em planos de previdência na modalidade VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre).