SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um encontro marcado para rivalizar com evento semelhante em Brasília, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) disse a empresários defender a cooperação com a diplomacia do governo Lula (PT) e que vai procurar estados americanos para tentar ajudar a solucionar o impasse do tarifaço de Donald Trump.
O motivo declarado pelo presidente americano para aplicar a partir de agosto 50% de sobretaxa a importações brasileiras -o julgamento do seu aliado Jair Bolsonaro (PL) pela trama golpista- foi ignorado por Tarcísio, um técnico que chegou à política vindo do Ministério da Infraestrutura do ex-presidente.
A ausência do padrinho nas falas chamou a atenção de presentes, segundo relatos obtidos pela Folha de S.Paulo, e deverá acentuar a crise entre o governador e a família Bolsonaro.
Em sua fala inicial na reunião de cerca de uma hora e meia na manhã desta terça (15) no Palácio dos Bandeirantes, o governador evitou falar diretamente do presidente Lula, que até a crise era visto como seu potencial adversário na disputa pelo Planalto em 2026.
Defendeu uma saída coordenada com o Itamaraty para a crise, e ressaltou que representa os interesses de São Paulo, buscando voltar atrás de sua postura politizada na crise -começou atacando Lula e defendendo Bolsonaro, agora tenta corrigir o rumo, o que paradoxalmente o colocou em atrito com o ex-mandatário.
Ele também pediu uma “relação paradiplomática” com Washington, ou seja, quer negociar pontualmente com estados americanos, além de procurar senadores do país de Trump.
O evento de Tarcísio ocorreu ao mesmo tempo de uma de duas reuniões marcadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que é o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, também com setores empresariais, em Brasília. Em São Paulo compareceram, de forma geral, empresários e executivos de menor peso -vários diretores e vice-presidentes estavam entre os 18 presentes.
A Embraer, fabricante de aviões que é uma das principais vítimas potenciais do tarifaço, enviou um vice-presidente e uma diretora, enquanto seu CEO, Francisco Gomes da Silva, foi a Brasília.
Uma exceção entre eles era Rubens Ometto, presidente do conselho do gigante sucroalcooleiro Cosan. Em sua fala, o empresário destoou dos colegas, que procuravam basicamente saber como Tarcísio poderia ajudar a proteger suas exportações.
Ometto, por sua vez, estava mais interessado em discutir mecanismos para a proteger o mercado brasileiro do etanol americano. Entre as empresas presentes havia a Usiminas (aço), a Cutrale (suco de laranja) e produtores de café.
A reunião também teve a participação do encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, além do cônsul-geral interino em São Paulo, Benjamin Wohlauer. Como os EUA estão sem embaixador no Brasil, Escobar é o principal nome da embaixada no Brasil.
Em sua fala, Escobar repetiu o discurso trumpista de que a guerra tarifária é só uma reação às políticas da China, na sua origem. Disse também que não vê uma crise direcionada ao governo Lula, apesar da clara motivação política do presidente americano, e que empresas de seu país gostariam de ter mais facilidade em fazer negócios no Brasil.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Jorge Lima, disse que, como o núcleo de Trump “é muito restrito”, a única saída possível seria pressionar os parceiros americanos, para demonstrar que o cenário traria prejuízo para todos. Lima disse que essa estratégia tem sido usada por outros países e apresentado resultado.
São Paulo exporta cerca de 30% de tudo o que o Brasil vende aos EUA, puxado em 2024 por US$ 2,2 bilhões em aviões da Embraer comprados pelos americanos. O segundo maior mercado foi o setor petroleiro, inclusive com a venda de combustíveis, seguido por suco de laranja e carne bovina.