SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, que hoje é o principal nome da embaixada dos EUA no Brasil para assuntos comerciais, disse que empresários e o governo de São Paulo devem fazer pressão sobre o Congresso americano, para tentar negociar mudanças na sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente americano Donald Trump.
Conforme informações obtidas pela reportagem, essa foi a tônica do recado dado por Escobar, no encontro realizado na manhã desta terça-feira (15), no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, em reunião fechada com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e empresários de diversos setores.
Escobar, que foi um dos últimos a falar durante a reunião, criticou a China, disse que as sobretaxas impostas por Trump começaram por causa da disputa com o gigante asiático e que países como os EUA usam suas tarifas para, entre outros motivos, segurar a desindustrialização de sua economia. Não houve críticas ou comentários sobre a gestão federal.
A China, afirmou Escobar no encontro, teria ainda “destruído a economia dos países pequenos”, que foram inundados por produtos mais baratos.
Gabriel Escobar reconheceu, ao contrário do governo Trump, que o Brasil tem déficit na balança comercial com os Estados, mas que é preciso abrir novos canais de comércio com os EUA.
Como revelou a Folha, o governador Tarcísio de Freitas disse a empresários que vai buscar uma “relação paradiplomática” com os Estados Unidos ele pretende negociar diretamente com governos estaduais americanos, além de acionar senadores dos EUA.
Ao lado de Benjamin Wohlauer, cônsul-geral interino dos Estados Unidos, Escobar disse que o custo Brasil é muito caro e que isso inviabiliza novos investimentos dos americanos no país. A respeito da eventual possibilidade de o governo Trump rever as tarifas, o encarregado de negócios dos Estados Unidos limitou-se a dizer que o governo federal precisará ser agressivo nas negociações.
Escobar não recebeu nenhum tipo de questionamento dos participantes do encontro, que teve um tom protocolar e a intenção de tentar sinalizar alguma unidade em torno das possíveis ações que Tarcísio de Freitas possa tomar sobre o tema.
A reunião foi acompanhada por 18 pessoas, entre representantes de empresas e instituições setoriais. Um dos presentes foi José Vicente Santini, que foi secretário-executivo da Casa Civil durante o governo Jair Bolsonaro (PL) e acabou demitido, após ser divulgado que ele utilizou um jato da Força Aérea Brasileira (FAB) para se deslocar da Suíça (Fórum Econômico Mundial, em Davos) até a Índia. Santini foi nomeado por Tarcísio de Freitas para chefiar o escritório do governo de São Paulo em Brasília.
O governador esteve reunido com representantes de empresas como Embraer, Cutrale, Minerva e Usiminas, além de representantes da indústria do café e do aço. O empresário Rubens Ometto, do Grupo Cosan, estava entre os presentes.
Ao fim do encontro, havia expectativa de que houve entrevista com os órgãos de imprensa, mas as declarações públicas foram canceladas e todos os convidados deixaram o Bandeirantes pela garagem, sem falar com os jornalistas.
O encontro em São Paulo ocorre de forma paralela a agendas marcadas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta terça-feira (15), em Brasília. Os encontros são liderados pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, errou ao tentar negociar uma saída para as tarifas de 50% com a Embaixada dos Estados Unidos. “É um desrespeito comigo”, disse à Folha.
“Nós já provamos que somos mais efetivos até do que o próprio Itamaraty. O filho do presidente, exilado nos Estados Unidos. Queria buscar uma alternativa lateral. É um desrespeito comigo. Mas eu não estou buscando convencimento da população, eu estou buscando pressionar o Moraes.”
Eduardo afirma ainda que não se arrepende da pressão que fez por retaliações ao Brasil nos EUA mesmo que isso possa favorecer o presidente Lula (PT). Diz também que só voltará ao Brasil se o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sofrer sanções do governo dos Estados Unidos.