SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A implantação de um trem rápido para ligar São Paulo e Campinas até 2031 —e a retomada no transporte ferroviário de passageiros entre os dois municípios, interrompido em 2001— tem como desafio de engenharia instalar quatro trilhos em um traçado onde hoje existem dois, em trecho urbanizado e sem paralisar a circulação de composições de passageiros e cargas.

Até 2031, por contrato, deverá estar em funcionamento o TIC (Trem Intercidades) Eixo Norte, cujas obras devem começar no segundo semestre do ano que vem. Partindo da estação Água Branca, na zona oeste paulista, terá parada apenas em Jundiaí, até a estação final.

De média velocidade (até 160 km/h), o Trem Intercidades promete ligar Campinas a São Paulo em 64 minutos. De carro, o percurso pela rodovia dos Bandeirantes, é feito em ao menos 1h30 até a entrada das marginais. Isso quando não trava na entrada da capital, situação comum em horários de pico.

Em 2029, está previsto o início de operação do TIM (Trem Intermetropolitano, ou parador), para retomar a ligação ferroviária de passageiros entre Jundiaí e Campinas, com estações em Louveira, Vinhedo e Valinhos.

A implantação dos dois trens faz parte do contrato de 30 anos de concessão com a TIC Trens, assinado no ano passado pelo consórcio encabeçado pela Comporte, holding brasileira ligada à família Constantino, fundadora da Gol, em parceria com o gigante chinês CRRC, empresa estatal que é a maior fabricante de suprimentos ferroviários do mundo.

Com valor total de concessão de R$ 14,2 bilhões, o contrato ainda prevê a remodelação da atual linha 7-rubi, entre capital paulista e Jundiaí. Atualmente, a nova concessionária acompanha os trabalhos da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Em 27 de agosto, a empresa irá assumir a operação, sob supervisão da companhia estatal e, em novembro, começará a gestão sozinha.

Circulam pela mesma linha do metropolitano até Jundiaí trens de carga da concessionária MRS Logística, que ligam o porto de Santos ao interior do estado.

Com a reformulação, o transporte de carga terá uma via exclusiva com trilhos robustos para suportar mais peso —a capacidade deverá passar das atuais 25 toneladas por eixo para 32,5 toneladas.

Assim, além dos trilhos de ida e volta do atual metropolitano, será necessária a implantação de mais duas linhas, para expresso e carga, contando ainda com a reconstrução do trecho entre Jundiaí e Campinas para o trem parador, por onde hoje passam apenas as composições da MRS Logística.

Além da manutenção do traçado, o projeto busca soluções para caber tudo num mesmo espaço. A distância mínima entre os eixos centrais de cada via do TIC e de carga é apenas 4,25 metros, número que sobe para 6,20 metros quando há postes de rede aérea.

“Tem lugares tão estreitos que será necessário um pórtico especial [de alimentação aérea de energia para os trens de passageiros] de uma ponta a ponta, pegando inclusive a área de carga [que é a diesel], porque se levar um poste [para o meio], teremos de aumentar a distância entre um trem e outro, o que não cabe”, afirma Pedro Moro, CEO da TIC Trens, que em julho do ano passado pediu demissão da presidência da CPTM para assumir o comando da concessão.

Segundo explica, o conjunto de obras está dividido em quatro escopos.

O primeiro inclui a modernização de toda a infraestrutura da linha 7. Entre outros, haverá reformas de estações e troca de dormentes de madeira por modelos de concreto, mais duráveis e confortáveis. O desafio será fazer a reforma sem interromper a circulação de um ramal que em maio (dado mais recente) transportou cerca de 10 milhões de pessoas, além da circulação de cargas.

A reformulação da linha 7 também prevê adequação da frota atual de 30 trens da CPTM.

O segundo é a construção da via que vai fazer a ligação entre Jundiaí e Campinas para o Intermetropolitano.

O terceiro ponto é a construção da via rápida, a última a ser entregue. Ainda há a segregação do transporte de carga que passa hoje na linha 7, que será feita em conjunto com a MRS.

“Serão quatro trabalhos distintos e ao mesmo tempo”, afirma o executivo, que se diz otimista sobre cumprimento de prazos.

Outros entraves são desapropriações, inclusive para a linha de carga, em áreas densamente povoadas, problema que a TIC Trens diz ter minimizado com atualização do projeto, e enchentes. Trilhos e entorno da estação de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, costumam ficar completa embaixo d’água em períodos de chuva.

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PREVISÃO DE INÍCIO DE OBRAS

2026 (segundo semestre)

Linha entre Jundiaí e Campinas

2027

Modernização da infraestrutura da linha 7-rubi

2027

Linha do TIC

2027

Via de carga

A faixa de domínio de todas as linhas será cercada para evitar invasões, inclusive de animais, e diminuir os riscos de atropelamento por trens que podem passar a 160 km/h. A ideia também é coibir furto de fios e cabos de energia.

A linha do TIC será em via única. Ou seja, tanto o trem da capital para o interior quanto o no sentido contrário vão passar pelo mesmo trilho. Por isso, vão ser feitos oito pontos de ultrapassagens —enquanto um dos trens um mantém a velocidade, o outro reduz no desvio.

Por consequência, os tempos de viagem devem ser diferentes. Enquanto a viagem para São Paulo deve completar os 101 km de distância em 64 minutos, no sentido oposto a estimativa é de 75 minutos.

Ao todo, a chinesa CRRC produzirá 15 trens para o Intercidades nas cores laranja e azul. Com capacidade para 860 passageiros sentados, prometem transportar 40 mil pessoas por dia.

O novo padrão visual começará a ser estampado nos trens da linha 7 em novembro, mas em breve, o usuário já poderá ver a identificação em veículos auxiliares que estão em fase de pintura.

Os carros do TIC podem ter três classes distintas, com diferenças de preços e serviços —ainda se estuda se haverá algum tipo de vagão restaurante. O preço da passagem mais barata é prevista em R$ 64. Está sendo analisada, inclusive, a instalação de leitores de biometria facial para liberação de catracas.

Com intervalos de 15 minutos entre os trens no horário de pico, a estimativa é que 40 mil pessoas usem o serviço como alternativa de escapar do trânsito —atualmente, segundo a concessionária AutoBAn, em média 323 mil veículos fazem diariamente o trajeto entre Campinas e São Paulo pelas rodovias Anhanguera e Bandeirantes.