SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,71% nesta segunda-feira (14), cotado a R$ 5,585, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçar impor sanções tarifárias secundárias à Rússia. O tarifaço pode atingir aqueles que fazem negócios com os russos.

Já a Bolsa fechou com recuo de 0,65%, a 135.298 pontos. Influenciada pelas ameaças do republicano, as ações preferenciais da Petrobras tiveram recuo de 1,16% ao longo do dia.

No começo da tarde desta segunda, o presidente dos Estados Unidos ameaçou impor sanções tarifárias à Rússia e deu um ultimato a Vladimir Putin para acertar uma trégua com a Ucrânia.

O republicano falou em “tarifas severas”, especificando que seriam “secundárias”. Ou seja, atingiriam aqueles que fazem negócios com os russos. Ele não citou o Brasil, com quem está aberta guerra tarifária, mas o país é grande comprador de óleo diesel de Putin, por exemplo.

“Tarifas secundárias são muito poderosas. Espero que dê certo”, disse Trump, citando taxas de até 100% -menos que os 500% propostos em um projeto que tramita no Congresso americano.

Em resposta à ameaça, o petróleo Brent caía 1,55% no momento do fechamento do mercado brasileiro.

No final de semana, Trump anunciou uma nova leva de tarifas para parceiros comerciais dos Estados Unidos -desta vez, União Europeia e México.

Em cartas publicadas no Truth Social no sábado, o presidente se dirigiu aos líderes de ambas as regiões para apresentar as novas sobretaxas de 30%, que passarão a valer a partir de 1º de agosto.

No caso dos vizinhos ao sul, Trump voltou a citar a droga fentanil como justificativa. “O México tem ajudado a proteger a fronteira, mas o que foi feito ainda não é suficiente. O México ainda não conseguiu deter os cartéis que tentam transformar toda a América do Norte em um playground do narcotráfico”, escreveu ele, em carta destinada à presidente Claudia Sheinbaum.

O governo mexicano classificou como a tarifa como um “tratamento injusto”, em comunicado assinado pelos Ministérios da Economia e das Relações Exteriores, e afirmou que autoridades já estão em negociações para chegar a um acordo. O México é um dos países mais vulneráveis às políticas comerciais de Trump, tendo em vista que 80% de suas exportações têm os EUA como destino.

Nesta segunda, Sheinbaum disse esperar chegar a um acordo com o governo dos Estados Unidos sobre as tarifas. “Temos uma mesa de trabalho [com as autoridades americanas]”, afirmou ela durante sua entrevista coletiva diária.

Em relação aos países da União Europeia, Trump justificou as novas sobretaxas de 30% pela ótica da balança comercial. Em 2024, o déficit de mercadorias dos EUA com os europeus chegou a US$ 235 bilhões, segundo dados do U.S. Census Bureau.

“A União Europeia permitirá o acesso completo e aberto ao mercado dos Estados Unidos, sem que nenhuma tarifa seja cobrada de nós, em uma tentativa de reduzir o grande déficit comercial”, escreveu na carta.

A UE, por outro lado, tem apontado repetidamente que os EUA são superavitários em serviços, o que, em partes, reequilibra a balança. Combinando bens, serviços e investimentos, ambas as potências são, de longe, os maiores parceiros comerciais um do outro.

Após meses de negociações, a UE esperava chegar a um acordo comercial abrangente com os EUA, incluindo tarifas zero por zero sobre produtos industriais. A publicação foi tida com surpresa pelo bloco. Para autoridades da UE, o anúncio é uma tática de negociação de Trump -e essa também é a visão do mercado.

“Pelas reações discretas nos mercados, é possível dizer que os investidores não acreditam na intenção da Casa Branca de adotar uma política comercial mais dura, pelo menos não de maneira duradoura”, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

O blefe do governo republicano seria uma forma de pressionar os países a fecharem acordos comerciais, afirma Mattos. “Não dá para saber quais serão os próximos passos, mas essa aposta dos investidores se baseia na postura inconsistente da Casa Branca, que esse ano já ameaçou, aplicou, recuou, cancelou e adiou diversas tarifas de importação.”

A nova leva de tarifas segue a esteira da sobretaxa de 50% a produtos brasileiros, anunciada na semana passada.

As importações hoje são sobretaxadas em 10%, tarifa anunciada por Trump em 2 de abril. Ou seja, além das tarifas já cobradas, há uma cobrança adicional de 10%. Essa alíquota será substituída pela de 50% a partir de 1º de agosto.

A sobretaxa não é adicionada a produtos que já sofrem tarifas setoriais, como aço e alumínio, sobre os quais há tarifas de 50%.

Na noite de domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou a criação de um comitê interministerial para conversar com os setores mais afetados pela sobretaxa dos americanos.

Segundo uma fonte, o comitê terá a participação dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), também vice-presidente.

A ideia do governo é fazer um diagnóstico sobre o impacto da sobretaxa de 50% para ambas as economias e levar à mesa de negociação com os Estados Unidos. Isso, de acordo com Lula, se o governo americano estiver mesmo disposto a negociar.

Lula tem dito que o governo buscará negociar com os americanos, mas afirmou que irá responder por meio da lei de reciprocidade caso seja necessário. A lei autoriza o governo a adotar medidas de retaliação de forma provisória durante o processo.

Na ponta dos dados, destaque para o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), considerado um sinalizador do PIB (Produto Interno Bruto). O índice retraiu 0,7% em maio na comparação com o mês anterior, segundo o BC (Banco Central).

O dado interrompe quatro meses seguidos de expansão, na primeira contração do índice no ano. O resultado foi bem pior do que o esperado: pesquisas da Reuters previam estabilidade nos números.

As atenções também devem se voltar nesta semana para o impasse em torno da tentativa do governo de elevar a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O STF (Supremo Tribunal Federal) programou audiência de conciliação para esta terça-feira entre Executivo e Legislativo.

As negociações para uma conciliação sobre os decretos do IOF tiveram início durante o 13º Fórum de Lisboa, o Gilmarpalooza.

Entre as possibilidades conversadas já em Portugal estão uma proposta de alíquota menor e a desistência da cobrança sobre o risco sacado e sobre aportes maiores em planos de previdência na modalidade VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre).