SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O sequestro de um vendedor de verduras druso por beduínos desencadeou uma onda de violência no sul da Síria neste domingo (13), deixando dezenas de mortos na região, de acordo com autoridades locais e uma ONG de direitos humanos.
Os combates são o mais recente exemplo de conflito entre minorias no país, cuja população forma um complexo mosaico de etnias e religiões. A boa convivência entre esses grupos é um dos principais desafios enfrentados pelo governo de Ahmed al-Sharaa, ex-membro de um grupo ligado ao Estado Islâmico e à Al Qaeda que assumiu o poder após a queda do ditador Bashar al-Assad, em dezembro.
Segundo o OSDH (Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido), após o sequestro do comerciante, beduínos armados instalaram barricadas na estrada que liga Sweida, no sul do país, à capital, Damasco. “O incidente se agravou e os dois lados executaram outros sequestros”, acrescentou a organização.
Esta foi a primeira vez que confrontos do tipo eclodiram dentro da própria cidade de Sweida, capital da província de mesmo nome, majoritariamente drusa. Os combates se concentraram em Maqwas, bairro a leste da localidade.
A região é cenário de um aumento nas tensões desde abril, quando combatentes sunitas e residentes drusos armados de Jaramana, a sudeste de Damasco, entraram em confrontos que depois se espalharam para outro distrito.
Na ocasião, as tribos beduínas sunitas da província se alinharam com as forças de segurança. Para evitar um agravamento da situação, líderes locais e religiosos chegaram a um acordo para melhorar a integração dos combatentes drusos nas instituições estatais.
A violência ressurgiu, no entanto.
O número exato de mortes do último incidente ainda é incerto. O OSDH fala em 89 -50 drusos, incluindo 46 combatentes, duas mulheres e duas crianças, 18 beduínos, 14 membros das forças de segurança e sete indivíduos não identificados. Já o Ministério do Interior sírio afirmou que 30 pessoas foram mortas e 100 ficaram feridas.
Os homens sequestrados foram libertados na noite de domingo, de acordo com o site Suwayda 24, mas a estrada entre Damasco e Sweida continuava fechada. Além disso, alguns distúrbios isolados prosseguiam nesta segunda (14) em algumas localidades da província de Sweida, segundo o OSDH.
Em coordenação com o Ministério do Interior, o Ministério da Defesa anunciou em um comunicado o envio de unidades militares para as áreas afetadas e a abertura de passagens seguras para os civis, expressando a vontade de “acabar de maneira rápida e determinada com os confrontos”.
No domingo, o ministro do Interior, Anas Khatab, declarou que “a ausência de instituições estatais, militares e de segurança é uma das principais causas das tensões persistentes em Sweida”.
Tais preocupações se intensificaram em março, quando o confronto sectário mais mortal em anos na Síria terminou no assassinato de centenas de alauítas, em uma aparente retaliação por um ataque anterior realizado por partidários de Assad, que fazia parte desse grupo étnico.
Depois dos incidentes, Israel, que ocupa desde 1967 uma parte das Colinas de Golã pertencente à Síria, bombardeou diversos pontos do país, um deles perto do palácio presidencial de Damasco, sob a justificativa de que precisava proteger os drusos.
“Este ciclo de violência explodiu de maneira aterrorizante e, se não terminar, estamos caminhando para um banho de sangue”, disse Rayan Marouf, pesquisador druso baseado em Sweida que administra o site Suwayda24.