RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Médicos legistas responsáveis pela nova autópsia no corpo da publicitária brasileira Juliana Marins, que morreu na Indonésia, estimam que ela sobreviveu até 32 horas após a sua primeira queda.
Segundo o novo exame, realizado no Rio de Janeiro, ela morreu poucos minutos após uma segunda queda.
A primeira queda ocorreu por volta de 4h do dia 21, no horário da Indonésia. Os peritos do IML fluminense presumem que ela já havia morrido após o meio-dia do dia 2, mas não conseguiram determinar a data e hora exatas da morte.
Através de larvas encontradas no couro cabeludo, entomologistas, que estudam insetos, conseguiram determinar retroativamente os dias de vida dos ovos e estimar que na metade do dia 22 Juliana já havia morrido, segundo Reginaldo Franklin Pereira, médico legista da Polícia Civil do Rio.
Juliana sofreu duas quedas e, pelo parecer dos legistas, morreu na segunda. Eles afirmam que ela sobreviveu de 10 a 15 minutos a partir desse segundo acidente final.
Segundo cálculos da família, baseado em imagens feitas por drone e relatos locais, Juliana caiu 220 metros na primeira queda. Parte deste trajeto cerca de 60 metros foi escorregando em um paredão rochoso, o que causou lesões lacerantes.
“Naquele ponto tem algumas saliências que permitem uma queda parcelada”, afirmou o assistente de perícia Nelson Massini, também responsável pelo exame.
Ela ainda escorreu mais 60 metros, numa segunda queda, esta considerada fatal pelos médicos legistas. O corpo caiu ainda uma terceira vez, e foi encontrado a cerca de 600 metros abaixo da trilha que Juliana percorria, na ilha de Lombok.
“Foi uma morte agônica, hemorrágica, sofrida”, disse Massini.
O resultado da necropsia realizada no Brasil, segundo Franklin, corrobora boa parte do que havia sido indicado pelo exame anterior, feito na Indonésia.
No IML, o corpo passou por um aparelho de radiologia para verificar o esquema esquelético. Havia fraturas nas costelas, no fêmur e na bacia, resultados da primeira queda. Uma costela foi fraturada e perfurou o pulmão, o que causou sangramento. Havia trauma renal, laceração no fígado e hemorragia interna em diferentes partes do corpo, incluindo o cérebro.
O sangue foi aspirado na primeira necropsia, parte do processo de embalsamamento.
“As lesões nos fazem crer que ela deslizou pelas costas e no último impacto ela caiu de frente. Isso é o que a gente vislumbra”, disse Franklin.
As explicações foram dadas a jornalistas na sede da Defensoria Pública da União, no Rio de Janeiro, que acompanha a família.
Mariana explicou a cronologia do acidente e a geografia local. Segundo ela, Juliana caiu por uma parede rochosa. O solo na região é instável e arenoso. O motivo inicial da queda, às 4h do dia 21 (no horário local) não é conhecido.
Pouco mais de 12 horas depois, às 16h58 na Indonésia, há um registro da brasileira vestida com um agasalho que não aparece em imagens anteriores a família presume que ela levava no bolso e colocou para se proteger do frio.
Horas após a queda, Juliana foi avistada por um drone de turistas espanhóis, que conseguiram entrar em contato com parentes da brasileira através do Instagram. A família recebeu três vídeos, numa diferença de três horas, mostrando que a publicitária estava viva. O último registro é no fim da tarde do dia 21 na Indonésia, quando a trilha fechou para turistas.
“Pedi para a turista espanhola ela gritar muito com Juliana, para perguntar para ela o nome dos meus pais, o meu nome, o da minha esposa. Nesse momento sabemos que Juliana estava viva porque ela grita”, disse Mariana.
A irmã afirmou que os resgates no parque são feitos por dois times de socorristas. O time mais próximo ao local é formado por voluntários que realizam primeiros socorros. Eles chegaram dez horas após o acidente, mas não conseguem alcançar Juliana. A Defesa Civil local chegou 18 horas após o acidente e desceu 150 metros de rapel, mas não alcançou a brasileira, que estava mais embaixo.
“A base dos Basarnas [a Defesa Civil] fica em outra cidade. Ele demora duas horas entre o deslocamento na cidade e o parque. Se aquele grupo de resgate não fosse um grupo de primeiros socorros, talvez conseguisse alcançar Juliana”, disse a irmã.
Mariana disse acreditar que houve negligência tanto na demora para o resgate, quanto nos equipamentos disponíveis. A família, contudo, ainda não decidiu se pretende entrar com processo.
“Existem possíveis desdobramentos, um deles é o inquérito policial. Mas é um fato ocorrido no exterior, e para haver essa investigação depende do ministro da Justiça. Recebemos o retorno da PF (Polícia Federal) que esse tipo de fato depende de uma requisição do ministro, o que até o momento nós não temos. Será uma decisão da família querer ou não provocar”, afirmou a defensora Taísa Bittencourt.