SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ação da Polícia Militar que terminou com a morte de dois homens e um sargento da Rota baleado nesta quinta-feira (10) em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, levou ao cancelamento de uma ação social na favela com funcionários do Ministério dos Direitos Humanos.

Servidores da pasta, vindos de Brasília, que auxiliariam na emissão de RG, título de eleitor e CPF, além de dar apoio jurídico a moradores, afirmaram à Folha de S.Paulo que parceiros do evento se sentiram inseguros de irem ao local.

A ação deveria ocorrer no sábado (12) e no domingo (13).

Os funcionários do ministério estão em São Paulo desde quinta. Nesta sexta, foram a Paraisópolis para a montagem do evento.

Era visível o aborrecimento por parte dos servidores federais e de moradores.

A cozinheira Cristiane de Almeida Alves, 50, chegou animada até a sede da União de Moradores de Paraisópolis perguntando quais documentos poderia fazer. Ao ser avisada sobre a suspensão, demonstrou chateação.

“Não podia fazer isso. Ia ajudar muito a gente. Muitas pessoas querem tirar o documento e não têm condições. Cancelar é muito ruim. Estou triste”. “Quanto tiver, me avisa”, disse para as funcionárias ao ir embora.

Nesta sexta, dois policiais militares foram presos por matarem Igor Oliveira de Morais Santos, 24, quando ele já estava rendido, o que desencadeou protestos.

Segundo a corporação, a vítima era suspeita de tráfico de drogas. Análise das câmeras corporais mostrou que os agentes mataram o homem quando ele já estava rendido, segundo o coronel Emerson Massera, chefe da comunicação da PM paulista, em entrevista coletiva nesta sexta.

“Embora ali estivesse bem configurado o crime de tráfico, a ação dos policiais foi uma ação não legítima, uma ação ilegal”, disse o representante do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Durante a tarde e a noite de quinta, moradores atearam fogo em pneus e pedaços de madeira, viraram carros e fecharam algumas ruas do local. O tumulto foi sucedido de nova operação em que mais um homem foi morto e um agente da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, tropa de elite da PM) ficou ferido.

A ação policial teve início por volta das 16h para verificar informações do Disque-Denúncia que apontavam um ponto de venda de drogas próximo à rua Rudolf Lotze, segundo a PM. Quatro suspeitos com mochilas nas costas fugiram em direção a uma casa quando a polícia entrou na rua, ainda de acordo com Massera.

Os suspeitos foram encontrados dentro da casa. As imagens de câmeras corporais mostraram que um deles —Igor Oliveira de Moraes Santos— já estava rendido e com as mãos na cabeça quando dois policiais fizeram disparos.

“Não havia nada que justificasse, nesse momento, o disparo por parte da força policial”, afirmou o coronel Massera. “Visualizamos pelas câmeras que dois policiais que atiraram no Igor o fizeram já com o homem rendido e, por conta disso, a providência adotada imediatamente foi a prisão em flagrante dos policiais militares.”

A PM não informou quantos tiros foram disparados, mas relatou que foram usados calibres 12 (espingarda) e .40 (pistola). Os outros três suspeitos foram presos.