SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O desaparecimento de uma aluna da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Ilha Solteira, no interior paulista, causa comoção na cidade de 25 mil habitantes. A polícia já trata o caso como feminicídio, mas não há sinal do corpo.
Carmen de Oliveira Alves, uma mulher trans de 25 anos, foi vista pela última vez em 12 de junho, ao sair do campus da instituição onde estuda zootecnia. Ela havia feito uma prova naquela data. As buscas pela jovem mobilizam autoridades e voluntários. Mutirões são realizados diariamente à procura de pistas sobre o paradeiro dela.
A Polícia Civil investigava até esta semana o caso como desaparecimento. Agora, porém, a suspeita passou a ser feminicídio.
Os investigadores descobriram que o último lugar no qual Carmen esteve foi a casa do namorado, em um sítio no município e, na noite desta quinta-feira (10), cumpriu mandado de prisão contra o homem. Também foi detido um policial militar da reserva apontado como amante do suspeito.
A reportagem não conseguiu as defesas dos presos.
Miguel Rocha, delegado responsável pelo caso, diz haver indícios de que a dupla matou e ocultou o corpo da estudante. Ele já confirma a morte. Entretanto, nenhum vestígio da vítima foi encontrado.
Imagens de câmeras de segurança obtidas pela polícia mostram Carmen saindo da Unesp às 10h02 daquele 12 de junho, Dia dos Namorados, em uma bicicleta elétrica de cor preta. Às 10h09, ela foi vista novamente na avenida 15 de novembro, uma das principais de Ilha Solteira. Minutos depois, uma câmera de monitoramento mostra a jovem nas imediações da residência do companheiro.
O rastreamento do celular da mulher confirmou à polícia que ela esteve no endereço. Segundo as imagens, ela não saiu. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) informa que os indiciados permanecem à disposição da Justiça, “e as diligências prosseguem visando a localização da vítima, bem como o total esclarecimento dos fatos”.
Nesta sexta (11), estão sendo realizadas buscas no sítio do namorado de Carmen.
FAMÍLIA PEDE QUE CARMEN SEJA LEMBRADA; COLEGAS DEIXAM A CIDADE POR MEDO
Os 29 dias desde o sumiço de Carmen têm sido de peregrinação para sua família. Eles percorrem ruas, matas e beiras de córregos, rios e riachos em busca de pistas sobre o paradeiro da mulher.
“Ilha Solteira é uma cidade cercada por rica fauna e rios. Até o momento, não houve mobilização de equipes de mergulho, nem informações sobre buscas mais aprofundadas”, diz Lucas Alves, irmão da estudante.
Gerson Alves, pai dela, diz que precisa saber onde está o corpo da filha para ter paz. Desolado, ele agradece os avanços na investigação e toda mobilização na cidade, e pede para que Carmen “nunca seja esquecida”.
O caso de Carmen também mobilizou a Unesp. Muitos dos colegas auxiliaram as famílias nas buscas. O medo, porém, afastou outra parte da cidade.
É o que relata Isadora Schumaher, vice-presidente do centro acadêmico de zootecnia. “Está parecendo um filme, infelizmente um ar meio macabro”. Ela foi uma das pessoas que deixaram Ilha Solteira pela “angústia de ficar em casa sozinha” em meio ao mistério sobre o sumiço de Carmen.