SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A forma como Igor Oliveira de Morais Santos, 24, foi morto durante uma ação de policiais militares em Paraisópolis na tarde de quinta-feira (10) criou uma rede de solidariedade em torno da mãe dele.
A mulher estava em frente à sede da União de Moradores e Comércio de Paraisópolis quando tentou falar com a Folha de S.Paulo. Estava difícil de se expressar. Faltavam palavras e forças para conseguir falar.
A mulher, que preferiu não se identificar, sussurrou ser inaceitável o que fizeram com Santos.
A mãe era amparada pela ex-mulher do filho, a gerente de loja Bruna Santos, 20.
“Era um menino alegre, sorridente, ajudava as pessoas”, contou como era o dia a dia do ex-marido, com quem ficou por sete anos e teve uma filha.
O casal estava separado desde 2021.
“Renderam ele. Por que mataram? Não poderia ter levado preso. Ter dado um tiro na perna?”, disse Bruna para a Folha.
A mulher contou que soube por outras pessoas que Santos demonstrou para os policiais que queria se entregar, ao dizer: “Perdi, perdi, senhor”.
Outra queixa foi a demora do socorro, com o baleado agonizando por vários minutos.
OUTRA MORTE
Uma segunda morte em Paraisópolis ocorreu durante uma ação da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aquiar) na noite quinta, após o assassinato de Santos.
Bruno Leite, 29, foi baleado em uma viela.
A esposa do homem, a coordenadora financeira Victoria Felix, 26, contou ter recebido uma primeira informação de que Leite havia sido atingido por um tiro de bala de borracha, e que ele estava bem, mas a polícia não deixava familiares se aproximarem.
Moradores tentaram prestar atendimento enquanto ele ainda estava vivo, mas foram reprimidos com o uso de gás de pimenta, bombas de gás e tiros de balas de borracha.
Depois do tumulto, o homem foi colocado em uma viatura e socorrido ao hospital Campo Limpo, onde morreu.
“O Bruno não era uma pessoa ruim. Independentemente da ficha criminal dele. Ele tem uma filha de dois anos que não vai ver crescer. Ele ganhou uma bolsa de graduação, que não vai poder utilizar”, acrescentou Victoria. “Ele era um provedor da casa”.
Os familiares disseram que os médicos apontaram que o tiro não atingiu órgãos, e o que teria ocasionado a morte foi a perda de sangue e a demora no socorro. A bala entrou próxima da clavícula, apontou os familiares.
“O que fizeram com ele foi desumano, independentemente do que ele fizesse. Tem vídeo dele no chão. Levava preso. Deixaram ele sangrar até morrer”, disse uma prima.