Walison Veríssimo
O prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), decidiu recorrer ao inusitado para rebater críticas e pareceres técnicos da Secretaria de Meio Ambiente de Goiás (Semad) sobre as condições do lixão da capital. Em meio à crescente pressão por parte do órgão estadual, que aponta riscos sanitários e ambientais graves no local, Mabel levou auxiliares e o presidente da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (Abrema), Pedro Maranhão, para lanchar no depósito de resíduos da cidade.
A visita, registrada em vídeo, mostra o grupo em clima descontraído, com refrigerantes e salgados à mesa, enquanto a chefe de gabinete do prefeito afirma: “Já lanchei, já tomei refrigerante, não tem mosquito, não tem urubu”. Ao fundo, é possível ouvir até fogos de artifício. A cena, contudo, contrasta com o que vem sendo apontado em relatórios técnicos da Semad: o local está em situação crítica e sem possibilidade de reabilitação.
Desde 2011, o espaço perdeu sua licença ambiental e, mesmo após firmar acordo com o Ministério Público para regularização, a Prefeitura de Goiânia não cumpriu as exigências previstas. Neste ano, uma decisão judicial chegou a determinar o fechamento do local, mas foi revertida a pedido da administração municipal. Diante disso, a Semad passou a multar diariamente a Prefeitura e convocou o município a apresentar um plano de desmobilização do lixão.
Relatório aponta risco de explosão e contaminação
Em entrevista recente ao canal da Semad, a secretária de Meio Ambiente de Goiás, Andréa Vulcanis, foi enfática: “Não há a menor condição de licenciar esse lixão novamente. O cenário é irreversível”. Ela citou relatório produzido por técnicos em abril e divulgado em maio, que lista ao menos 12 falhas graves, incluindo ausência de licenças obrigatórias, falhas na impermeabilização, drenagem precária, atração de vetores de doenças e risco de deslizamentos e explosões devido ao acúmulo de gases.
“Os dutos de extravasamento de gás estão obstruídos, quebrados ou sem manutenção. Isso pode provocar explosões dentro das pilhas de lixo, que chegam a mais de 80 metros de altura”, explicou a secretária.
O relatório também destaca a proximidade do depósito com bairros residenciais e com o córrego Caveirinha, o que, segundo Vulcanis, “coloca em risco a saúde pública e os recursos hídricos da região”.