da Redação
Governador de São Paulo teria buscado ministros da Corte para autorizar viagem do ex-presidente; proposta foi considerada “absurda” e rechaçada
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), teria procurado ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) com uma proposta inusitada: permitir que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viajasse aos Estados Unidos para tentar negociar pessoalmente com Donald Trump a suspensão do pacote de tarifas anunciado contra o Brasil. A iniciativa, no entanto, foi prontamente rejeitada pelos magistrados da Corte, que consideraram a ideia “absurda” e “sem cabimento”.
A informação foi revelada pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (11), em meio ao crescente embate diplomático entre o Brasil e os Estados Unidos após o ex-presidente Trump, candidato à presidência norte-americana, prometer tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros caso volte à Casa Branca.
Tarifas e impactos econômicos
A medida de Trump, segundo nota divulgada por sua campanha, seria uma resposta à suposta “perseguição política” movida pelo governo brasileiro e pelo Judiciário contra Bolsonaro. A decisão gerou forte repercussão no setor produtivo e levou Tarcísio, um dos principais aliados do ex-presidente, a buscar alternativas para conter os impactos econômicos sobre a indústria paulista.
Em público, o governador adotou tom moderado, afirmando que é hora de “deixar ideologias de lado” e buscar um “diálogo pragmático” com os EUA. Nos bastidores, porém, teria tentado articular com o STF uma viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos para interceder diretamente com o ex-presidente norte-americano.
Reação do STF
Ministros consultados por Tarcísio teriam reagido com espanto e indignação à proposta. De acordo com a Folha, a ideia foi descartada de imediato, com os magistrados alegando que não cabe ao STF intervir em negociações diplomáticas, nem permitir deslocamentos de investigados com base em justificativas políticas ou comerciais.
Atualmente, Jair Bolsonaro responde a diversos inquéritos no STF, sendo alvo de investigação por tentativa de golpe de Estado, falsificação de certificados de vacina e atuação em uma suposta rede de espionagem ilegal. Por isso, qualquer movimentação internacional do ex-presidente é considerada sensível e passível de restrições.
Crise entre aliados
A tentativa de Tarcísio de viabilizar uma ponte diplomática com Trump ocorre em meio a um momento delicado. Enquanto setores do agronegócio e da indústria pressionam por uma reação oficial contra o tarifaço, o governo Lula prefere manter a interlocução com o Departamento de Estado norte-americano, evitando alimentar narrativas bolsonaristas sobre perseguição.
A movimentação do governador paulista também pode ser lida como uma tentativa de manter seu capital político entre bolsonaristas, sem romper totalmente com os setores empresariais que exigem estabilidade econômica e previsibilidade internacional.
Análise: manobra arriscada ou jogada política?
Analistas políticos avaliam a iniciativa como uma jogada arriscada, que revela o esforço de Tarcísio para equilibrar dois mundos: a fidelidade à base bolsonarista e a imagem de gestor técnico comprometido com os interesses do Estado. Ao tentar envolver o STF numa missão diplomática informal, ele expôs as fragilidades desse duplo discurso — e recebeu um claro recado da Corte.
Se por um lado, a ideia revela preocupação real com os efeitos das tarifas, por outro, sinaliza que Bolsonaro continua sendo visto como peça-chave no xadrez político da direita, inclusive como potencial “intermediador” de interesses internacionais — mesmo diante de seu desgaste institucional e jurídico.