Da Redação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender uma guinada nas relações comerciais entre os países do Sul Global. Em duas entrevistas veiculadas nesta quinta-feira (10), ele reafirmou que o Brics está comprometido com a criação de mecanismos mais autônomos de comércio internacional, em meio ao aumento da tensão com os Estados Unidos após o anúncio do presidente Donald Trump de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

Lula destacou o peso geopolítico do bloco — que reúne países como Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul — lembrando que os integrantes representam metade da população mundial e quase um terço da economia global. “Cansamos de depender do Norte. Está na hora de termos liberdade para fazer nossas próprias escolhas”, afirmou o presidente durante entrevista ao Jornal Nacional.

Um dos principais pontos debatidos entre os países do Brics, segundo Lula, é a possibilidade de criar uma moeda própria ou usar moedas locais nas trocas comerciais, como forma de reduzir a dependência do dólar americano. “Por que preciso comprar dólar para negociar com países vizinhos ou com a China? A máquina de imprimir dólar é deles, não nossa”, criticou.

Trump e o desrespeito diplomático

Durante o Jornal da Record, Lula foi direto ao abordar a decisão unilateral de Trump. Para ele, o gesto do norte-americano revela incômodo com o protagonismo crescente do Brics e falta de respeito nas relações internacionais. “Se ele quisesse dialogar, que chamasse uma reunião do G20. Não se impõe sanção sem conversa. Publicar em site sem comunicar o Brasil é inadmissível para qualquer chefe de Estado sério”, disparou.

Apesar de não planejar contato direto com Trump, Lula afirmou que o governo brasileiro vai se mobilizar para proteger o setor produtivo, diversificar parcerias e abrir novos mercados. “O Brasil não aceitará ser tratado como país submisso”, garantiu.

IOF mantido e recado ao Congresso

Ainda na entrevista à Record, Lula confirmou que manterá o aumento no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mesmo após resistência no Congresso. Segundo ele, caso o governo precise cortar R$ 10 bilhões em gastos, as emendas parlamentares também serão afetadas. “Fazer decreto é função do presidente. Se tiverem objeção, que proponham outro. Mas o IOF não sai de cena”, declarou.

O tema virou foco de disputa entre os poderes. Após derrota do governo no Legislativo, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu tanto o decreto do Executivo quanto o do Congresso e convocou uma audiência de conciliação para o próximo dia 15 de julho, em Brasília, na tentativa de encontrar um consenso.

Com as tensões externas e internas crescendo, Lula tenta equilibrar firmeza e diplomacia, reforçando o papel do Brasil em um novo cenário global mais multipolar — e menos dependente de Washington.