RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O laudo elaborado pelo IML (Instituto Médico Legal), da Polícia Civil do Rio de Janeiro, não descartou a possibilidade de que a publicitária Juliana Marins, 26, tenha sofrido mais de uma queda antes de morrer na Indonésia.
Ela caiu no dia 21 de junho, enquanto fazia uma trilha no Monte Rinjani, o segundo vulcão mais alto do país. Esse é o segundo laudo no corpo da brasileira. O primeiro, feito na Indonésia, apontou que a morte ocorreu cerca de 20 minutos após o trauma, mas médicos não falaram quantas quedas ela sofreu.
A reportagem teve acesso à integra do laudo, divulgado inicialmente pelo G1.
O documento produzido no Brasil indica que a morte ocorreu por hemorragia interna e múltiplas lesões. A morte decorreu diretamente de traumatismos por queda de altura.
Os peritos não conseguiram apontar a hora e o dia exatos do óbito. Segundo o legista, esse ponto fica “prejudicado pelas condições de embalsamento que chegou o cadáver e pela carência de história quanto à dinâmica do evento, pois é possível mais de uma queda”.
Questionado se havia sinais de permanência prolongada com vida após a queda ou lesão inicial, o especialista afirmou que “não houve prolongamento de vida”, mas destacou a possibilidade de ter havido um período de agonia antes da “queda fatal”.
Segundo o laudo, esse intervalo pode ter causado sofrimento físico e psíquico intenso, além de grave estresse endócrino, metabólico e imunológico decorrente do trauma. A presença de múltiplas lesões também reforça a hipótese de que a jovem tenha passado por mais de um episódio traumático antes da morte.
O novo laudo também confirmou a conclusão dos peritos indonésios, ao afirmar que, devido à gravidade dos ferimentos, o tempo de sobrevida foi extremamente curto, estimado entre 10 e 15 minutos após os ferimentos fatais.
Quanto à demora para o resgate e sua possível contribuição para o óbito, o laudo destacou a necessidade de esclarecer “quantos episódios decorreram do acidente”, ou seja, quantas quedas ocorreram.
Dessa forma, o perito não foi capaz de responder a outra pergunta feita pelos investigadores: se a ausência de atendimento imediato foi um fator determinante para a morte ou se o óbito seria inevitável mesmo com socorro rápido.
De acordo com os peritos brasileiros, não é possível, ainda, determinar a altura da queda que causou as lesões, sendo necessária uma perícia de local. “Podemos indiretamente afirmar que as lesões decorreram de impacto de alta energia cinética e que a dinâmica comprometeu mais o dimídio direito do corpo, sobretudo, sua face lateral”, diz o documento.
Em resposta ao questionamento sobre a influência de fatores como hipotermia, desidratação ou exaustão física, o perito observou que, considerando a localidade, é possível que fatores ambientais e o isolamento tenham elevado significativamente o estresse físico e mental da vítima. Não foi possível, no entanto, afirmar se a vítima apresentava sinais compatíveis com hipotermia.
O exame também não apontou sinais de desidratação, apenas ressecamento dos olhos.
Indagado se a vítima exibia sinais de fadiga intensa, como esforço físico intenso, o laudo apontou somente sinais de lesões musculares.
LAUDO NA INDONÉSIA APONTOU QUE MORTE OCORREU NO DIA 25
Os exames feitos na Indonésia logo após o corpo ter sido resgatado apontaram que a morte teria morrido no dia 25, de acordo com o médico legista responsável pela autópsia.
“De acordo com meus cálculos, a vítima morreu na quarta-feira, 25 de junho, entre 1h e 13h [horário local, entre 14h de terça e 2h de quarta, no horário de Brasília]”, disse o médico Ida Bagus Alit à BBC.
A ilha de Lombok, onde fica o vulcão Rinjani, tem um fuso 11 horas à frente de Brasília.
Contudo, essa estimativa da hora da morte de Juliana coloca em xeque o que havia sido divulgado pela Basarnas, a agência responsável pelas buscas e resgates da Indonésia, de que a publicitária brasileira foi encontrada já sem vida na noite de terça-feira (24).
“De fato, é diferente da declaração de Basarnas. Há uma diferença de cerca de seis horas em relação ao horário declarado por Basarnas. Isso se baseia nos dados de cálculo do médico”, explicou o médico Ida Bagus Alit à jornalista Christine Nababan, da BBC News Indonésia.
A CRONOLOGIA DO CASO
Marins caiu por volta das 6h (horário local) do sábado (21), ou 19h de sexta-feira (20), pelo horário de Brasília.
Horas depois da queda, ela foi vista sentada na encosta ainda com movimentos, em imagens captadas por drone de turistas.
Segundo o chefe do TNGR (Parque Nacional do Monte Rinjani), Yarman Wasur, a informação inicial era de que Marins teria caído inicialmente em um barranco a cerca de 200 metros de profundidade.
No entanto, quando a equipe foi até o local e pilotou o drone, a vítima não estava mais visível no ponto estimado inicialmente.
Dois dias depois, o perfil oficial do Parque Nacional do monte Rinjani no Instagram informou que Marins havia sido localizada por socorristas por meio de um drone, presa em uma encosta rochosa a uma profundidade estimada de 500 metros.
Na observação visual, ela permanecia imóvel, segundo as autoridades locais.
Assim, a brasileira pode ter sofrido mais de uma queda e não está claro após qual delas ela teria sofrido o trauma contundente que teria levado a sua morte, segundo as autópsias.
No dia 24, a equipe de resgate conseguiu se aproximar de Marins e declarou a vítima morta.
Seu corpo foi resgatado no dia seguinte, após os esforços de busca e resgate terem sido prejudicados pelo mau tempo e terreno acidentado.
Embora vários excursionistas tenham morrido no Monte Rinjani nos últimos anos, a morte de Marins recebeu a maior atenção, tanto no Brasil quanto na Indonésia.
Usuários de redes sociais brasileiros criticaram a operação de busca e resgate por serem muito lentas, enquanto a família da brasileira declarou nas redes que sua morte teria sido resultado de negligência e que planejam entrar com uma ação judicial.