Da Redação

Parte dos serviços prestados pelas maternidades Dona Íris, Nascer Cidadão e Célia Câmara, em Goiânia, está temporariamente suspensa. A Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da UFG (Fundahc), que administra as unidades, anunciou nesta segunda-feira (7) a medida drástica devido à falta de insumos e serviços essenciais — consequência, segundo a entidade, do não pagamento de contratos com fornecedores.

Nas três maternidades, o atendimento está restrito a casos classificados como urgência e emergência, e apenas avaliações obstétricas estão sendo realizadas. Consultas, exames e cirurgias eletivas foram cancelados. Na Maternidade Célia Câmara, os partos, inclusive cesarianas, foram interrompidos por falta de anestesistas. Pacientes com atendimentos agendados foram orientados a voltar para casa.

Prefeitura nega culpa e ataca gestão da Fundahc

Enquanto pacientes enfrentam a interrupção nos serviços, o impasse entre a Prefeitura de Goiânia e a Fundahc se intensifica. O prefeito Sandro Mabel, em entrevista no sábado (5), descartou qualquer responsabilidade do município. Segundo ele, os repasses estão em dia e a crise seria causada por “falta de gestão” da fundação.

“Gastam demais e gastam mal. Não existe mais dinheiro fácil”, disparou Mabel. Ele afirmou ainda que a entidade precisa se adaptar a uma nova realidade orçamentária. “A Fundahc é cara e ineficiente. A saúde de Goiânia não pode mais ser gerida como era no passado”, concluiu.

Mabel também criticou o fato de grande parte das pacientes atendidas virem de fora da capital. Segundo ele, 52% dos nascimentos em Goiânia são de mães de outros municípios, o que sobrecarrega a rede local.

Sindsaúde alerta para colapso no SUS

A paralisação acendeu o sinal de alerta no Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde-GO). A presidente da entidade, Néia Vieira, criticou o que chamou de “redução da saúde pública a uma disputa contratual” e destacou que a obrigação de garantir o acesso à assistência é do Estado.

“O município tenta transferir a responsabilidade para a Fundahc, mas é a Prefeitura quem responde pelo funcionamento da rede pública. Terceirização não exime o poder público de seus deveres”, afirmou Néia.

Versões divergentes sobre os repasses

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sustenta que, somente em 2025, já repassou R$ 103,6 milhões à Fundahc — valor superior ao pactuado. Em nota, a pasta informou que técnicos estiveram na Maternidade Dona Íris para avaliar a situação e que os fluxos de regulação estão sendo alterados para redirecionar pacientes a outras unidades.

Já a Fundahc contesta: alega que a Prefeitura deixou de cumprir o valor previsto no convênio, que seria de R$ 20,6 milhões por mês. De acordo com a fundação, o município tem feito repasses abaixo desse montante e sem formalizar os novos valores acordados. A dívida total, segundo a Fundahc, já ultrapassa R$ 148 milhões, incluindo obrigações trabalhistas, fiscais, empréstimos e pagamentos atrasados a fornecedores.

A entidade afirma que, mesmo diante das dificuldades financeiras, manteve os serviços funcionando de forma parcial até o limite possível, o que teria resultado em acúmulo de dívidas. A fundação também critica a lentidão na aprovação de novos planos de trabalho e afirma que a instabilidade na gestão pública está afetando diretamente pacientes e profissionais.

Enquanto o impasse continua, o atendimento segue comprometido — e a população, mais uma vez, paga o preço.