ESTAÇÃO, RS (FOLHAPRESS) – Professores e vizinhos relataram pânico após a morte de uma criança, na manhã desta terça-feira (8), no ataque a uma escola municipal em Estação, cidade da região norte do Rio Grande do Sul. O ato foi cometido por um adolescente de 16 anos com um facão. Outras duas crianças ficaram feridas.
O autor do ataque foi contido e apreendido, segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública).
Uma professora do maternal, que pediu o anonimato, falou sobre o momento em que agiu para proteger as crianças.
Ela contou que, no momento do ataque, estava em uma sala de aula com crianças, uma mãe e outros adultos. Eles começaram a ouvir gritos e alguém pediu para que não abrissem a porta. Então, para proteger as pessoas na sala, empurraram a porta.
A aposentada Ercinda Dala Corte, que mora em frente à escola, disse que agiu rapidamente ao perceber a movimentação. Ela abriu o próprio portão de casa para os estudantes.
“Eu estava no pátio, comendo laranja, quando comecei a ouvir barulhos e gritarias e fui até a frente para ver o que estava acontecendo”, conta. “Nesse momento vi muitas crianças e professores saindo correndo, então abri o portão e pedi para eles entrarem. Foi a forma que encontrei para protegê-los, para não acontecer algo pior”.
O ataque ocorreu por volta das 10h e atingiu alunos de uma turma do terceiro ano do ensino fundamental da Escola Municipal Maria Nascimento Giacomazzi, no centro da cidade. Cerca de 150 alunos estavam no local no momento.
A criança que morreu é Vitor André Kungel Gambirazi, 9. As outras duas crianças feridas são duas meninas de 8 anos. Todos os feridos foram levados a hospitais da região.
A Brigada Militar disse à reportagem que o adolescente chegou de bicicleta, por volta das 10h, na escola com uma mochila. Ele entrou com tranquilidade na escola, deixou um currículo na secretaria e pediu para ir ao banheiro. Em seguida, ele começou o ataque em uma sala com crianças do terceiro ano do ensino fundamental, usando dois facões e rojões.
O prefeito Geverson Zimmermann (PSDB) esteve na escola e lamentou o ocorrido. Emocionado, disse que a cidade, de cerca de 6 mil habitantes, nunca havia enfrentado algo semelhante.
“Está todo mundo aqui tentando entender o que aconteceu. É algo totalmente diferente, graças a Deus nós nunca tivemos algo assim aqui, mas hoje vamos ter que encarar”, afirmou. “Infelizmente não é algo que aconteceu só no município. Dizem que pode ter influência de joguinhos de internet, não sabemos ainda, mas de qualquer forma não podemos deixar que isso ocorra. Não é brincadeira, é coisa séria.”
De acordo com a SSP, o autor do ataque é paciente psiquiátrico. Segundo o delegado Jorge Pierezan, responsável pela investigação, a hipótese é que o adolescente, autor do ataque, agiu sozinho. Ele não possui antecedentes criminais.
“Até o momento, o que podemos dizer é que o jovem atuou sozinho na ação. Fizemos buscas na casa dele, mas por enquanto não temos mais informações”, disse. A polícia ainda apura se o ato foi premeditado.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), se manifestou sobre o caso em uma rede social. “O que aconteceu não pode ser naturalizado, relativizado ou esquecido. Quero expressar minha solidariedade mais profunda às famílias atingidas, aos professores, alunos e profissionais da escola, e a cada morador da cidade”, escreveu ele.
Leite também afirmou que as forças de segurança devem atuar “com prioridade total na apuração do caso”. Acrescentou ter determinado que a Secretaria da Saúde atue no apoio à comunidade escolar.
“Também vamos reforçar, junto à Secretaria da Educação e às prefeituras, as estratégias de proteção e cuidado em todas as escolas do estado”, continuou ele.
No momento do ataque, a escola já estava em funcionamento normal, com as crianças em sala de aula e se preparando para o recreio.
A movimentação era a de uma manhã comum. A presença do jovem não passou despercebida por quem cuida do ambiente e conhece bem a rotina da escola. O zelador Luís Carlos dos Santos presenciou tudo desde o início e tentou agir para conter a situação.
“Era por volta de 9h40 da manhã, pouco antes do recreio das 9h45. Eu estava organizando os brinquedos das crianças, como faço todos os dias, quando esse jovem apareceu no portão da escola. Ele pediu para usar o banheiro. Estava carregando alguma coisa em uma mochila ou uma bolsa, mas achei estranho, porque não era comum alguém de fora entrar assim”, disse.
“Ele passou direto e, de repente, foi até uma das salas do 5º ano. Lá, ele puxou uma faca e começou a ameaçar os alunos. Foi um susto enorme. As crianças ficaram desesperadas, correndo, gritando. Quando percebi o que estava acontecendo, corri atrás dele com a primeira coisa que achei, que foi uma pá”.
Segundo o zelador, o autor do ataque saiu da sala do 5º ano e correu até a sala do 3º ano. “Foi lá que tudo aconteceu. Infelizmente, foi onde ele atacou as vítimas”.
O velório de Vitor André Kungel Gambirazi começou no fim da tarde desta terça-feira. Na capela muita comoção e orações.
A mãe do estudante ficou o tempo todo ao lado do caixão do filho. Pessoas próximas à família afirmaram à reportagem que o garoto era brincalhão, inteligente e que adorava estudar.
O enterro está previsto para a quarta-feira (9), com despedida a partir das 14h e sepultamento no cemitério municipal de Getúlio Vargas (RS).