(FOLHAPRESS) – James Gunn mostrou, nos filmes da série “Guardiões da Galáxia”, principalmente no especial natalino realizado no ano passado, que seu maior interesse está na Terra e na humanidade.
Um tanto contraditório para um diretor que se fez com tramas intergaláticas. Mas é evidente que os trechos mais fortes desses filmes são aqueles que mostram algum sentimento relativo à humanidade e ao nosso planeta, seja nos hits de pop e rock que pipocam aqui e ali, seja nos costumes do chamado “american way of life”, mostrados sempre com uma forte nostalgia da vida no planeta Terra.
E é justamente esse interesse que está no cerne desta nova encarnação do “homem de aço”, aqui dividido entre sua condição de extraterrestre e seu amor pelos terráqueos, o sentimento que faz com que ele se sinta humano. É uma angústia que o ator escalado para esta nova roupagem, David Corenswet, representa muito bem.
“Superman”, de James Gunn, é o primeiro filme da DC Studios, sucessora da DC Films, empresa que explorou o universo da DC Comics de 2016 a 2023, justamente num período em que muitos filmes da Marvel começaram a se mostrar indefensáveis.
Não há nada errado com novas versões para personagens clássicos dos quadrinhos ou da literatura. Cada época tem sua necessidade de atualização conforme os costumes e o gosto em vigência. Mas é bom considerar os riscos desse processo.
Quando estreou o primeiro longa com o super-herói interpretado por Christopher Reeve, “Superman: O Filme”, de 1978, dirigido por Richard Donner, o público estava entusiasmado. O Sérgio Alpendre de dez anos de idade jamais esquecerá que o cinema veio abaixo com a primeira transformação do herói, quando ele entra na porta giratória como Clark Kent e sai como Superman para salvar Lois Lane no alto de um edifício.
Seria possível, hoje, tamanha comoção? Talvez, se nas sessões comerciais tirassem os celulares das mãos dos espectadores, como fazem em algumas sessões para jornalistas. Mesmo assim, é mais provável que não. E não só porque o fazer do cinemão de hoje carece de encanto, mas porque o próprio espectador está mais ressabiado -ou desanimado.
No entanto, o filme passa longe de merecer algum desprezo. E, ao menos em relação aos filmes anteriores para cinema, traz algumas novidades interessantes.
A principal delas o espectador perceberá nos primeiros minutos. Lois Lane, vivida por Rachel Brosnahan, e Clark Kent namoram secretamente. E ela é cúmplice da dupla personalidade de seu namorado, sabendo até que os óculos de Kent hipnotizam as pessoas para que o enxerguem de modo bem diferente do que ele realmente é.
Outro acréscimo importante é a mensagem deixada pelo pai de Clark, Jor-El, papel que foi de Marlon Brando no filme de 1978 e aqui é vivido por Bradley Cooper. Essa mudança será a principal responsável pela crise de identidade do herói, além de intensificar o teor de crítica ao imperialismo.
Há outras novidades, que convém deixar no silêncio para não entregar coisas demais antes da hora. Mas é certo que Gunn conseguiu fugir tanto da viagem inconsequente com personagens muito conhecidos quanto do mais do mesmo que costuma reinar nesse tipo de cinema.
Ainda que mostre novamente o antagonismo de Lex Luthor, aqui interpretado por Nicholas Hoult como um homem ainda mais frio e tirânico, enquanto Gene Hackman, a mais célebre entre as encarnações do personagem, acrescentava uma deliciosa ironia ao vilão.
Luthor consegue provocar uma guerra entre duas nações fictícias -que o espectador não terá problema em associar com as equivalentes do mundo real- somente para se aproveitar das ações de seu nêmesis para espalhar fake news e conseguir permissão oficial para destruí-lo.
James Gunn enche o filme de bichos e monstros, fazendo mais uma mescla com o universo dos “Guardiões da Galáxia”, como havia feito com “O Esquadrão Suicida”, de 2021, e com isso se afasta bastante do universo de quando o herói era Christopher Reeve -quatro longas entre 1978 e 1987.
As associações com o mundo real e com a ascensão da extrema-direita, conforme já escrito, são facilmente reconhecíveis, mas o espectador não depende disso para desfrutar, por duas horas, de uma aventura razoavelmente bem levada, com uma dose de humor típica de seu diretor e um Clark Kent e uma Lois Lane charmosos o bastante para nos engajar no romance já existente entre eles.
SUPERMAN
Avaliação Bom
Quando Estreia qui. (10) nos cinemas
Classificação 14 anos
Elenco David Corensweet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult
Produção Estados Unidos, 2025
Direção James Gunn