SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Aquele dia havia amanhecido como outro qualquer, mas reservava a Monique Danello uma mensagem especial. A repórter da TNT Sports seguia metodicamente sua rotina e esperava o elevador do prédio para ir à academia quando seu chefe ligou. Ela, que já nutria a expectativa, recebeu a oficialização: estava escalada para a cobertura do Mundial nos EUA.
A notícia poderia não ter sido recebida com o mesmo impacto se viesse há cerca de dois anos, antes de a sua vida ter virado de cabeça para baixo. Afinal, Monique já contava com mais de 15 anos de currículo e levava na bagagem a experiência de ter trabalhado em três Copas do Mundo, duas Olimpíadas, três finais de Champions, seguidas decisões de Libertadores e um Mundial, mas no antigo formato, entre outras competições.
No entanto, a jornalista voltou a sentir o nostálgico frio da barriga ao saber da decisão principalmente por dois motivos. Primeiro, pela magnitude da inédita Copa do Mundo de Clubes, o que já balançaria até veteranos da profissão. Segundo, e não menos importante, por ser sua a primeira grande cobertura após o drama que viveu na UTI durante o nascimento de suas filhas.
VIAGEM AOS EUA (DE NOVO)
Monique partiu para o Mundial com a missão de acompanhar o Flamengo de perto e ainda segue no país após reajuste dos planos. Imersa no dia a dia do Rubro-Negro desde 2016, mesma época em que começou a cobrir a seleção, ela ficou na cola do clube até as oitavas. No entanto, com a queda para o Bayern e a classificação do Fluminense no outro lado do chaveamento, mudou para a cobertura do Tricolor carioca durante para a reta final do mata-mata.
A repórter embarcou ao país norte-americano cerca de um ano e meio após superar as complicações do nascimento prematuro das filhas gêmeas. No final de 2023, ela viu a sua situação, completamente planejada, ter uma reviravolta. Apesar de levar uma vida saudável, sua gravidez se tornou de risco de um momento para outro. Monique precisou ficar de repouso, depois esteve 20 dias internada para manter a gestação e ainda passou mais de dois meses acompanhando as filhas até elas receberem alta da UTI Neonatal
Essa não foi a primeira viagem a trabalho da jornalista desde então, mas é a mais longa e já ultrapassa um mês por ter emendado duas coberturas em sequência. A “reestreia” foi na Copa América do ano passado, também realizada nos EUA, que durou menos tempo e acabou sendo mais fácil de lidar porque as bebês ainda eram muito pequenas. Desta vez, com as filhas sentindo mais sua falta, Monique saiu do Rio de Janeiro no início de junho para cobrir a estreia de Ancelotti no comando do Brasil e, logo na sequência, engatou o projeto Mundial.
“A maternidade é um universo que a gente não controla absolutamente nada e tem que lidar com o improvável. Agora está sendo mais difícil do que foi no ano passado porque na Copa América elas eram muito pequenas, elas tinham oito meses, elas não entendiam tanto, Agora elas completam um ano e oito meses no início de julho. Eu ligo várias vezes todos os dias, em qualquer brecha que eu tenha entre uma pauta e outra”. Monique Danello, ao UOL.
Apesar da saudade das crias, a jornalista quis estender sua estadia ao máximo para aproveitar o torneio. Desde que decidiu que tentaria engravidar, ela sabia que enfrentaria o tradicional dilema da maternidade de conciliar os lados profissional e pessoal. “Eu quis muito estar aqui, então por mais que eu esteja com muita saudade delas, eu nunca vou desejar voltar. Eu já vim com a cabeça de que eu posso estar aqui até o dia 14 de julho e vou seguir dando o meu melhor”, ressaltou.
“Eu acho que esse é o grande dilema da maternidade para nós mulheres: tentar equilibrar os pratos entre a vontade que você tem de ficar perto o tempo inteiro dos filhos e o desejo de seguir sua carreira profissional. Acho que por isso eu demorei tanto tempo para tomar a decisão de engravidar, porque a minha carreira sempre foi muito importante para mim. Eu sabia que, no momento que tomasse essa decisão, teria que dar uma pausa, mesmo que fosse curta, e não saberia o que viria depois.”
“É um dilema que eu vou ter que enfrentar enquanto eu quiser trabalhar. E sei que no futuro elas vão ter orgulho também, vão entender ter também histórias para contar sobre tudo que eu já fiz. E acho que isso vai ser um exemplo para elas também, para elas crescerem mulheres batalhadoras e que vão lutar pelos sonhos delas”. disse Monique Danello.
A repórter tira qualquer obstáculo de letra depois de ter encarado o drama com as filhas na UTI. Metódica assumida, ela contou que se transformou com os ensinamentos que vieram com a situação mais dura que já enfrentou. Para quem havia até pensado no calendário do futebol para planejar a gravidez, aprender a lidar com o foge de seu alcance foi um rescaldo positivo que procura levar para o seu dia a dia. E, olhando para a frente, espera retornar aos EUA no ano que vem pela terceira vez em curto período para trabalhar na cobertura da Copa do Mundo de 2026.
“Aprendi a entender que eu não controlo tudo, que as coisas vão fugir do esperado e que eu tenho que saber lidar com o imprevisível. Aprendi a controlar mais as minhas emoções, a ter um pouco mais de paciência. Eu já tive sempre uma filosofia de olhar o copo meio cheio, especialmente nas coisas ligadas ao meu trabalho, mas acho que eu consegui passar a fazer isso na minha vida pessoal. Foi muito difícil o período na UTI, mas tem muita coisa positiva nesse universo que parecia um caos no primeiro momento.”
“Acho que eu me transformei em muitos sentidos que eu posso replicar no meu dia a dia. Então, para encarar qualquer desafio nesta terça-feira (8), isso para mim é tirar de letra porque quando eu olho para trás e vejo as coisas que eu passei, eu não tenho nada para lamentar, nada para reclamar. Eu olho mais ainda o copo meio cheio. São as coisas positivas que eu tento tirar desse momento que foi acho que o mais difícil da minha vida”, disse Monique Danello, ao UOL.