RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou em entrevista coletiva que a COP30, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas ocorrerá em Belém, em meio a queixas sobre infraestrutura da capital paraense para a realização do evento.
Lula chegou a pedir para o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, que corroborasse à imprensa brasileira e estrangeira presente a realização do evento em Belém.
“É importante dizer que ela vai ser mantida em Belém, na amazônia, porque não tem só imprensa brasileira aqui, tem imprensa estrangeira”, disse Lula ao embaixador nesta segunda-feira (7). “Falo de hotéis também?”, perguntou Lago, provocando risos.
“A COP vai ser em Belém. Belém está se preparando incrivelmente bem para a COP, vai ser o máximo fazer a COP na amazônia. Tem algumas situações, mas elas estão sendo contornadas”, disse Lago.
A fala ocorre em meio a queixas de outros países sobre a cúpula do clima. O governo brasileiro recebeu cartas em que países expressam, de maneira oficial, preocupação quanto aos custos elevados de hospedagem durante a COP30, assim como outras questões logísticas relacionadas conferência.
“A questão da acomodação é uma grande preocupação para nós. Eu já levantei esse tema várias vezes com o governo do Brasil e com a presidência da COP. Escrevi uma carta à presidência da COP30 expressando nossas preocupações”, disse à Folha de S.Paulo o líder do grupo de negociadores africanos, Richard Stanslaus Muyungi, da Tanzânia, durante evento em Bonn, na Alemanha.
O diplomata afirma que está em contato com os representantes brasileiros, que teriam assegurado que vão analisar “a melhor forma de atender às demandas” apresentadas.
“No entanto, eu diria que ainda não recebemos nenhuma resposta adequada a essas preocupações”, queixou-se. “Mas continuaremos pressionando o governo brasileiro para que nos ofereça um tratamento adequado em termos de acomodação e, claro, de transporte. Essas são questões cruciais não apenas para a África, mas também para os muitos outros países em desenvolvimento.”
O lançamento da plataforma oficial de hospedagem da COP30 está atrasado. O governo havia prometido anunciar, até o fim de junho, o site oficial de alojamento, mas, a pouco mais de quatro meses do evento em Belém, o serviço ainda não está disponível.
O compromisso com a plataforma foi reforçado durante as Reuniões Climáticas de Junho, espécie de pré-COP que aconteceu em Bonn.
O Brics divulgou nesta segunda a declaração conjunta específico sobre clima do grupo. No texto, os países membros voltam a cobrar países desenvolvidos por financiamento do combate à crise do clima e cumprimento de compromissos assumidos no Acordo de Paris.
“Embora exista capital global suficiente para suprir tais lacunas de investimentos, existem barreiras persistentes que afetam desproporcionalmente o acesso de países em desenvolvimento a finanças sob custos viáveis”, afirma o texto.
“Sublinhamos que a provisão e mobilização de recursos no âmbito da UNFCCC [Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima] e de seu Acordo de Paris é uma responsabilidade de países desenvolvidos para com países em desenvolvimento”, diz outro trecho.
O comunicado menciona ainda o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), proposta do Brasil para ser lançada na COP30.
“Destacamos que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, proposta para lançamento na COP30, tem potencial de ser um instrumento promissor de finanças mistas, capaz de gerar fluxos de financiamento previsíveis e de longo prazo para a conservação de florestas em pé”, diz o texto.
De acordo com um interlocutor do governo brasileiro, as discussões no Rio de Janeiro fortaleceram a percepção de que os países do Brics podem ter papel decisivo para impulsionar o mecanismo e viabilizar um anúncio conclusivo na COP30, em Belém.
Na declaração conjunta de líderes, documento principal da cúpula do Brics, há um trecho em que o grupo reconhece “papel importante” dos combustíveis fósseis na matriz energética global.
“Reconhecemos que os combustíveis fósseis ainda têm papel importante na matriz energética mundial, particularmente para mercados emergentes e economias em desenvolvimento, e reconhecemos a necessidade de promover transições energéticas justas, ordenadas, equitativas e inclusivas e de reduzir as emissões de gases do efeito estufa”, afirma o texto.
Não há menções a combustíveis fósseis na declaração específica sobre financiamento climático.
“A declaração de líderes sobre energia confirma a máxima do Barão de Itararé de que de onde menos se espera é que não sai nada mesmo”, diz Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima.
“Não dá para esperar que um bloco que reúne as piores petroditaduras do planeta vá apontar o caminho a seguir no clima. Ao contrário, o que se vê é esses mesmos países agindo em lugares diferentes para retroceder na transição energética, como alguns deles tentaram fazer no mês passado em Bonn, contrabandeando linguagem favorável a combustíveis fósseis para dentro da negociação.”
Em comunicado, a ONG WWF também apontou lacunas da declaração final do Brics. “A ausência de uma posição firme sobre combustíveis fósseis é um ponto crítico. O parágrafo 90 da declaração legitima sua produção e consumo, sem qualquer referência à eliminação gradual ou substituição por fontes renováveis de energia”, afirmou o WWF.