SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os serviços de resgate do Texas entraram, nesta segunda-feira (7), no quarto dia de buscas de pessoas desaparecidas em meio a alertas para novas inundações. As enchentes que devastaram o estado no sul dos Estados Unidos deixaram ao menos 95 mortos.
O número atualizado de vítimas foi anunciado pelo xerife Larry Leitha nesta segunda, que disse que ainda há vítimas que não foram identificadas. No domingo (6), as autoridades informaram que 41 pessoas estavam desaparecidas.
As cheias repentinas foram causadas por tempestades que começaram na tarde de sexta-feira (4). O episódio já é uma das enchentes mais mortais dos EUA nos últimos cem anos.
“Esta será uma semana difícil”, disse Joe Herring Jr., prefeito de Kerrville, nesta segunda, ao comentar que a chance de haver sobreviventes diminui enquanto o tempo passa. “Precisamos de suas orações”, acrescentou.
A cidade de Kerrville, no condado de Kerr, foi a mais afetada, registrando pelo menos 68 óbitos, incluindo 28 crianças. O Camp Mystic, um acampamento cristão de verão só para meninas, confirmou na manhã desta segunda que ao menos 27 campistas e monitoras morreram.
Segundo Leitha, dez meninas e uma monitora seguem desaparecidas. O local, às margens do rio Guadalupe, ficou sem energia, água e sinal de internet.
“Nossos corações estão despedaçados junto com os de nossas famílias que estão enfrentando esta tragédia inimaginável”, diz a nota divulgada nesta segunda. Segundo o jornal The New York Times, as mortes anunciadas já estavam entre as confirmadas pelas autoridades.
Os socorristas ainda enfrentam a possibilidade de novas chuvas nesta segunda. O Serviço Nacional de Meteorologia emitiu alertas para várias regiões do centro do Texas.
Segundo meteorologistas, tempestades em áreas já saturadas de água podem provocar novas inundações repentinas. Helicópteros, drones, barcos e até cavalos têm sido usados para vasculhar regiões cobertas de destroços. As buscas se concentram principalmente nas margens de rios e em zonas rurais de difícil acesso.
A Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema) foi acionada após o presidente Donald Trump declarar emergência federal. Aviões e helicópteros da Guarda Costeira dos EUA também ajudam nas buscas.
Trump, que afirmou no domingo (6) que provavelmente visitaria o Texas na sexta-feira (11), já havia expressado planos para reduzir o papel do governo federal na resposta a desastres naturais, transferindo mais responsabilidades para os estados.
A gestão do republicano promoveu uma série de cortes na Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), órgão de previsões e alertas que abriga o Serviço Nacional de Meteorologia. O ex-diretor da Noaa Rick Spinrad afirmou à agência de notícias Reuters que a redução deixou muitos escritórios meteorológicos sem funcionários suficientes.
O escritório do Serviço Nacional de Meteorologia responsável pelos alertas no condado de Kerr estava com uma vaga aberta: a de meteorologista de coordenação de alertas, que atua com os gestores de emergência e o público para garantir que todos saibam como agir quando ocorre um desastre.
A pessoa que ocupava o cargo estava entre centenas de funcionários que aceitaram ofertas de aposentadoria antecipada e deixaram a agência no final de abril.
Questionado sobre se os cortes do governo prejudicaram a reação ao desastre, Trump rebateu as críticas no domingo. “Aquela situação da água, isso tudo é, e foi, realmente algo herdado do governo Biden”, disse ele, referindo-se ao seu antecessor, Joe Biden. “Mas eu não culparia Biden por isso também. Apenas diria que isso é uma catástrofe que acontece uma vez a cada cem anos.”
Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.
Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), já afirmou em relatório que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi causada pela ação humana.
O Itamaraty divulgou uma nota nesta segunda (7) em que expressa suas condolências e diz se solidarizar com as famílias das vítimas, mas reforça que é preciso tomar medidas para mitigar os efeitos das alterações climáticas.
“O governo do Brasil reafirma que as alterações climáticas intensificam eventos extremos e aumentam a frequência de desastres semelhantes, o que torna ainda mais urgente a necessidade de medidas conjuntas por parte da comunidade internacional”, afirma o comunicado. Segundo o ministério, não há brasileiros entre as vítimas.