SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registrava alta nesta segunda-feira (7), enquanto a Bolsa caía após os EUA divulgarem o adiamento do retorno das taxas de importação impostas a vários países. O anúncio foi feito pelo presidente do país, Donald Trump, neste domingo (6) que pretende fechar o acordo com várias nações até 1º de agosto, nova data para retomada das tarifas.
Ao mesmo tempo, os investidores também avaliam as ameaças feitas por Trump de adicionar 10% a países que se alinharem ao Brics, bloco formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que ampliou recentemente para 11 países, representando quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB.
Às 12h23, a moeda norte-americana subia 0,85%, cotada a R$ 5,470. No mesmo horário, a Bolsa caía 1,18%, a 139.582 pontos, após renovar máximas históricas na última sexta-feira, quando fechou acima dos 141 mil pontos pela primeira vez.
Os movimentos no real nesta sessão tinham como pano de fundo a notícia de que os Estados Unidos estão prestes a finalizar vários acordos comerciais nos próximos dias.
Em abril, Trump anunciou uma taxa tarifária base de 10% para a maioria dos países e tarifas adicionais variando até 50%, embora posteriormente tenha adiado a data de vigência para todas, exceto 10%, até 9 de julho. A nova data, no início de agosto, oferece aos países um período de três semanas de alívio.
Trump disse que os EUA começarão a entregar cartas sobre tarifas aos parceiros a partir das 13h (horário de Brasília) desta segunda-feira.
Diante desse cenário, o dólar se valorizava mundialmente. O índice DXY, que mede a força da divisa dos EUA frente a uma cesta com outras seis divisas, subia 0,20%, a 97,37, por volta das 10h.
“Os desfechos dessas negociações segue como um ponto central para o comportamento dos mercados nas próximas semanas. A expectativa gira em torno da reação dos mais de 100 países que ainda estão for a dos pactos comerciais com os EUA”, disse Eurico Ribeiro, assessor de investimento da B&T XP.
No entanto, uma nova ameaça tarifária de Trump sobre os países alinhados ao Brics compensava o efeito positivo do aparente adiamento das outras taxas.
Em sua plataforma Truth Social, Trump prometeu impor uma tarifa adicional de 10% a países que se “alinhem” com os Brics, grupo que expressou mais cedo sua “séria preocupação” pelo aumento de tarifas “unilaterais”, embora sem mencionar os Estados Unidos.
“A qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas dos Brics, será cobrada uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a esta política”, ameaçou Trump.
De acordo com a analista sênior Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank, nunca se pode ter certeza de que o que é dito agora ainda será verdade daqui a um minuto.
“E não se pode contar que as tarifas anunciadas nas próximas horas permaneçam inalteradas por mais de um dia. Essa é a realidade, e as manchetes mais recentes não apontam para um caminho tranquilo,”
“O drama comercial provavelmente não desaparecerá tão cedo. Essa incerteza continuará obscurecendo a visibilidade”, afirmou Ozkardeskaya.
Na cena doméstica, os investidores monitoravam as novas projeções do boletim Focus divulgadas nesta segunda. Analistas consultados pelo Banco Central reduziram a projeção para a inflação brasileira neste ano pela sexta semana consecutiva.
O levantamento, que capta a percepção do mercado para indicadores econômicos, mostrou que a expectativa para a inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), é de 5,18% ao fim deste ano, abaixo da previsão de 5,2% na pesquisa anterior.
O centro da meta perseguida pelo BC é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
A pesquisa semanal mostrou ainda a previsão de que o PIB (Produto Interno Brasileiro) suba 2,23% neste ano, acima da projeção de crescimento de 2,21%, que ficou neste patamar nas últimas duas semanas.
No Focus desta segunda, houve ainda manutenção na expectativa para o preço do dólar no final de 2025, a R$ 5,70,
Os investidores também continuarão atentos a qualquer novidade em relação ao impasse em torno das tentativas do governo de elevar as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), com a disputa entre Executivo e Legislativo agora no âmbito do STF (Supremo Tribunal Federal).
Na sexta, com os mercados fechados nos Estados Unidos devido a um feriado, o dia foi pautado pela notícia de que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu os decretos presidenciais que aumentaram o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e também o decreto legislativo que barrou os reajustes.
Para Moraes, o embate entre Executivo e Legislativo sobre o IOF “contraria fortemente” o princípio da harmonia entre os Poderes. Ele determinou uma audiência de conciliação entre os chefes dos três Poderes para o dia 15 de julho, no Supremo, e a decisão vale até nova análise da Corte.
O novo capítulo da crise acontece após três ações serem movidas ao STF. Uma delas, encaminhada pela AGU (Advocacia-Geral da União), pede a restauração dos efeitos do decreto do governo que elevou as alíquotas do IOF. Outra ação, apresentada pelo PSOL, vai no mesmo sentido; a terceira, do PL, pede a suspensão dos decretos do governo.
Na prática, a decisão atípica de Moraes abre uma janela de oportunidade de quase duas semanas para que lideranças do governo e do Congresso discutam medidas fiscais alternativas.
A crise começou em 11 de junho, quando o governo fez novas mudanças nas cobranças de IOF depois de uma série de reuniões que buscavam um acordo com os líderes no Congresso. Foi enviado aos parlamentares um pacote que previa o aumento da taxação de apostas esportivas, mudança na tributação de instituições financeiras e a cobrança de Imposto de Renda de 5% sobre títulos atualmente isentos, como LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito Agrícola).
Antes mesmo de o texto chegar ao Congresso, o pacote já estava sob ataque. Na quarta-feira, 25 de junho, veio a derrota da gestão petista: a Câmara e o Senado derrubaram as medidas.
Em entrevista ao C-Level Entrevista, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, havia defendido que a melhor solução para o impasse seria o tribunal buscar resolver o problema de maneira consensual do que pela via do litígio.
“Vejo com naturalidade e até como desejável que as soluções sejam consensuais quando seja possível. Se não for possível, a gente decide”, disse ao novo videocast semanal da Folha de S.Paulo.