Da Redação

Durante a cúpula dos Brics realizada neste sábado (6), no Rio de Janeiro, o Brasil voltou a cobrar da China a retomada das importações de carne de frango, suspensas desde o surto de gripe aviária em 2024. O tema foi levado diretamente ao primeiro-ministro chinês, Li Qiang, pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em reunião que contou também com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Fávaro destacou que o Brasil já foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como livre da influenza aviária de alta patogenicidade em granjas comerciais. Segundo ele, Li Qiang demonstrou conhecimento sobre o novo status sanitário brasileiro e se comprometeu a dar agilidade à análise do pleito.

A China foi, em 2024, responsável por quase 15% das exportações de carne de frango do Brasil, movimentando 562 mil toneladas e gerando US$ 1,3 bilhão. O governo teme que a manutenção do embargo prejudique permanentemente um mercado considerado estratégico. Até o momento, 23 países já suspenderam suas restrições — entre eles os Emirados Árabes, segundo maior comprador do produto brasileiro. Japão e Arábia Saudita mantêm bloqueios apenas a determinadas regiões, como o Rio Grande do Sul.

Em entrevista, o secretário de Agricultura de Goiás, Pedro Leonardo, ressaltou o impacto da crise no estado e a rápida resposta da Agrodefesa, responsável pela fiscalização sanitária. “A agilidade nas ações foi essencial para reconquistar a confiança internacional. Goiás enfrentou embargos de 17 países, mas todos já foram revogados após cumprimento dos protocolos exigidos”, explicou.

Pedro Leonardo também comentou o abate preventivo de mais de 70 mil aves pela BRF em Goiás, frisando que a medida foi tomada de forma voluntária pela empresa, em parceria com os órgãos estaduais. “Isso mostra maturidade do setor produtivo e compromisso com a segurança sanitária”, disse.

Goiás é um dos seis maiores produtores de carne de frango do país, e o secretário acredita que a retirada gradual dos embargos permitirá a recuperação das exportações. Ele ainda reforçou a importância da China para o agronegócio goiano, mas destacou esforços para diversificar os destinos, com foco no mercado japonês, que oferece melhor remuneração e valoriza a qualidade.

Além do frango, o governo brasileiro também busca ampliar o acesso de outros produtos ao mercado chinês. Durante o encontro, Fávaro solicitou o reconhecimento oficial da China ao novo status do Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação — já validado pela OMSA, mas ainda pendente de aceitação por parte de cada parceiro comercial.

Outra demanda apresentada foi a regionalização dos certificados sanitários, proposta que visa evitar que focos isolados afetem as exportações de todo o território nacional.

Pedro Leonardo reafirmou que Goiás está alinhado com a estratégia federal e quer ampliar a presença internacional com produtos de maior valor agregado, como proteína animal processada e derivados de soja. “Nossa missão é agregar valor, garantir competitividade e proteger a economia goiana em tempos de instabilidade”, finalizou.

Para o governo, retomar as exportações para a China é mais do que uma questão comercial: trata-se de reafirmar a reputação sanitária do Brasil e abrir caminho para reconquistar mercados ainda cautelosos, como o europeu.