SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O PT chega às eleições internas neste domingo (6) enfrentando ao menos dois desafios estruturais: o envelhecimento de seus filiados e a concentração de seu poder em governos de estaduais no Nordeste.
Pessoas de até 34 anos representam apenas 8,32% dos filiados, segundo levantamento feito pela Folha com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em 2010, essa faixa etária compunha 25,46% dos militantes petistas –uma redução de 17,14 pontos percentuais em 14 anos. No mesmo período, o conjunto dos partidos brasileiros perdeu cerca 10 pontos percentuais de filiados nesse estrato, indo de 19,31% a 9,36%.
O partido tem quatro candidaturas para o comando da direção nacional: o favorito, Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP) e apoiado pelo presidente Lula; Valter Pomar, Romênio Pereira e o deputado federal Rui Falcão (SP).
A disputa ocorre enquanto partido de Lula, mesmo tendo reconquistado o Palácio do Planalto, opera com uma estrutura partidária profundamente transformada por quase uma década de crises.
As lideranças, por outro lado, não foram renovadas de modo a acompanhar e responder a tais mudanças, de acordo com Marco Antônio Teixeira, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
“O PT certamente passa por um processo de envelhecimento, e isso é percebido porque os principais nomes do partido hoje em dia ainda são os que participaram da própria fundação do PT. Naquela época, eles eram ‘os jovens’ da legenda”, diz.
Dados obtidos pela coluna Painel mostram que o pleito da legenda terá 4,3% dos candidatos com menos de 30 anos –os comandos estaduais e municipais também serão escolhidos neste domingo.
O PL, partido de Jair Bolsonaro (PL), que abriga figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira, teve um respiro e, de 2022 a 2024, elevou a fatia de filiados com menos de 34 anos de 7,48% para 9,1%.
A Operação Lava Jato marca um divisor de águas na trajetória do PT. Entre 2014 e 2018, o partido perdeu a presidência com o impeachment de Dilma Rousseff, viu sua bancada federal cair de 68 para 56 deputados –o menor número desde 1998– e perdeu o governo de Minas Gerais, segundo estado mais populoso do país.
A queda foi ainda mais expressiva considerando que o PT havia atingido seu recorde de 91 deputados federais em 2002, no primeiro ano de governo Lula.
A volta de Lula à Presidência foi uma vitória, mas, considerando-se os governos estaduais, a legenda, que já governou 23,7% da população brasileira, hoje administra 14,6%, sem nenhum estado fora do Nordeste.
Mesmo com o retorno do petista ao Palácio do Planalto, a bancada federal se recuperou apenas parcialmente, com 67 deputados em 2022. Fortaleza é a única capital com prefeito do PT: Evandro Leitão, um político egresso do PDT.
“A paulada da Lava Jato foi forte e o PT vai sentir isso durante muito tempo, ainda mais porque não se renovou”, avalia Teixeira.
No Congresso, episódios recentes expõem a dificuldade com o encolhimento da bancada. Nas votações sobre o aumento do IOF, partidos com 14 ministérios se uniram à oposição e votaram contra o governo.
Os 383 votos a favor da derrubada dos decretos de Lula contaram com mais da metade dos votos de PP (que deu 100% dos seus votos contra Lula), União Brasil (97% da bancada), Republicanos (95%), MDB (93%) e PSD (60%).
Entre os partidos de esquerda, 94% da bancada do PDT votou contra o governo. No PSB de Alckmin, a rebelião ficou em 60%.
A sucessão de Lula quando o petista deixar a política permanece uma incógnita. Não há consenso em torno de figuras já cotadas para assumir o lugar, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O envelhecimento do partido permitiu que a geração fundadora mantivesse controle sobre a máquina partidária, bloqueando renovações genuínas, de acordo com o professor da FGV.
“Pensar no futuro pós-Lula é urgente, mas, quando você vê lideranças novas, quem são? A [vereadora] Luna Zarattini, aqui em São Paulo, que vem de uma família de políticos [neta do ex-deputado Ricardo Zarattini (1935-2017)]. O [vereador de Belo Horizonte] Pedro Rousseff, sobrinho da Dilma”, diz.
“O PT teve dificuldade de ingressar naquilo em que a juventude hoje está dialogando, que são as redes sociais, o TikToks, o Instagram”, aponta Teixeira.
Ele aponta que, enquanto isso, grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e coletivos como o movimento negro capturam a atenção dos mais novos com pautas específicas.
“Os movimentos da esquerda têm mais essa característica de trabalhar com as identidades, enquanto os movimentos mais da direita são mais temáticos. O debate do empreendedorismo, por exemplo, que hoje pega muito jovens, principalmente por conta do trabalho com aplicativo, não é um debate liderado pelo PT”, afirma o professor.