BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro Edinho Silva, 60, deve ser eleito presidente do PT neste domingo (6) após uma disputa marcada por divergências internas e sob forte intervenção do presidente Lula.

Com um discurso conciliatório e voltado ao diálogo com forças políticas fora da esquerda, Edinho assumirá o comando do partido no momento em que integrantes do governo Lula, do PT e aliados caminham em sentido contrário, com ataques a expoentes do centrão.

Petistas apostam em Edinho como canal para reaproximação com os partidos aliados, lembrando que ele mantém boa relação com dirigentes de siglas da centro-direita, como os presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do PSD, Gilberto Kassab.

A expectativa é que Edinho vença no primeiro turno. Também disputam o comando do partido o deputado federal Rui Falcão (SP) e os dirigentes petistas Romênio Pereira e Valter Pomar.

De acordo com o PT, estão habilitados para votar cerca de 3 milhões de filiados. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) informa que há pouco menos de 1,7 milhões de eleitores filiados ao partido, mas a sigla argumenta que os registros da Justiça são defasados e incompletos.

O atual presidente da sigla é o senador Humberto Costa (PE). Ele assumiu o cargo temporariamente depois que a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) deixou o posto em fevereiro para ocupar o cargo de ministra das Relações Institucionais.

Apesar do expressivo favoritismo de Edinho, o discurso que prevalece hoje no PT é mais próximo do que pregam os adversários do ex-prefeito, que fazem parte de setores mais à esquerda da sigla.

Nas últimas semanas, o partido se unificou em torno do discurso de pobres contra ricos e de disputa aberta do debate público com o bolsonarismo e com o centrão. O próprio Lula instruiu seus aliados a adotar esse tom, como mostrou a Folha de S.Paulo.

O movimento do presidente foi motivado pela série de derrotas impostas ao governo pelo Congresso, que barrou o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A avaliação na cúpula do Executivo é que forças políticas de centro e direita anteciparam a eleição de 2026, agindo para enfraquecer o governo desde já e reduzir as chances de Lula ser reeleito no ano que vem.

Por essa leitura, segundo petistas, não restaria outra opção ao presidente senão fazer uma disputa direta por eleitores e estimular aliados a propagar ideias que unam ao menos seus apoiadores mais tradicionais. Na prática, o discurso mais moderado de Edinho foi atropelado pelo conflito entre petistas e as forças dominantes do Congresso.

O ex-prefeito diz não haver incoerência. “O governo tem posição, e essa agenda muitas vezes é contraditória com a de boa parte dos líderes do Congresso, mas isso não significa interditar o diálogo e a capacidade de construção de pontos de unidade. Mas o presidente Lula não abre mão de debater com a sociedade brasileira”, afirmou Edinho à Folha de S.Paulo.

Lula é o líder inconteste do PT, mas mesmo assim teve dificuldades para unificar seu grupo político dentro do partido –a corrente CNB (Construindo um Novo Brasil)– em torno do nome do ex-prefeito.

O presidente interveio pessoalmente na disputa, tendo participado de duras reuniões com a ala da CNB que resistia à perda de espaço.

Em março, o chefe do Executivo deixou, contrariado, um encontro que ocorria na casa de Gleisi após desafiar os participantes a apresentar um nome melhor para a função.

A reunião havia sido convocada por uma ala petista para convencer Lula a desistir de seu candidato, mas surtiu efeito contrário. A reação negativa ao que foi considerado uma emboscada ao presidente fortaleceu os apoiadores de Edinho.

Em sua cruzada pela eleição do ex-prefeito, Lula trabalhou para enfraquecer grupos opositores. O presidente convidou a tesoureira do partido, Gleide Andrade, a acompanhá-lo na viagem ao Vaticano para o enterro do papa Francisco. Ali, teria a sondado sobre a possibilidade de desistir da reeleição àquele cargo, uma vez que ela representava um grupo político crítico a Edinho. Não houve sucesso.

Depois, foi a vez de negociar com o prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, que havia se lançado como candidato. Quaquá retirou seu nome após costuras em favor de seu filho no Rio de Janeiro. Quando esse acordo foi selado, em meados de maio, o favoritismo de Edinho aumentou.

As disputas dentro da CNB se proliferaram pelo país, sendo reproduzidas nas brigas pelos comandos dos diretórios estaduais. Uma das primeiras tarefas de Edinho depois de sua provável eleição será reduzir as divisões dentro da corrente, que é majoritária no partido.

Apoiadores dele afirmam que uma rara pacificação interna seria importante para a sigla ter melhores condições de promover a candidatura à reeleição de Lula no ano que vem.

O cargo de presidente do PT deverá colocar o ex-prefeito em uma posição central na eleição de 2026. Se a tradição petista for mantida, o dirigente escolhido no domingo comandará a campanha de reeleição.

A provável vitória de Edinho também pode dar mais tranquilidade ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O chefe da equipe econômica está afinado com o PT na defesa de taxação dos setores mais ricos da sociedade, mas suas propostas para a economia enfrentaram resistências do próprio partido em outros momentos.

Edinho, em geral, concorda com as medidas do ministro. Haddad apoiou a candidatura do ex-prefeito desde o início.

Lula começou a demonstrar a aliados que queria Edinho Silva como presidente do PT ainda no ano passado. O ex-prefeito de Araraquara estreitou ainda mais seus laços com o presidente da República em 2022, quando foi um dos coordenadores de comunicação da campanha presidencial.

Lula e Edinho Silva, porém, se conhecem há mais tempo. As vitórias do petista nas disputas pela Prefeitura de Araraquara (em 2000, 2004, 2016 e 2020) chamaram a atenção do presidente da República. O interior de São Paulo é uma das regiões onde o PT tem mais dificuldades.

Edinho também foi vereador, deputado estadual e ministro da Secretaria de Comunicação Social no governo de Dilma Rousseff. Além disso, presidiu o diretório estadual do PT em São Paulo.