BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Além de levar a esquerda ao poder de maneira inédita na Colômbia em 2022, o presidente Gustavo Petro já estabeleceu outro marco: ter tido mais de 50 ministros em apenas 34 meses de mandato.

A gestão Petro, que teve início em agosto de 2022, já teve 53 ministros (sem contar os interinos) nas 19 pastas, com nenhum titular originalmente escolhido por ele se mantendo no comando de um ministério.

A baixa mais recente foi especialmente dolorosa para o presidente. Na semana passada, deixou o governo colombiano a ministra das Relações Exteriores, Laura Sarabia, que era considerada um braço direito de Petro. A renúncia foi registrada em uma carta endereçada a ele e publicada por ela nas redes sociais.

“Nos últimos dias, foram tomadas decisões que não compartilho e que, por coerência pessoal e respeito institucional, não posso acompanhar. Não é uma questão de pequenas diferenças ou de quem tem razão. É um curso que, com todo o carinho e respeito que tenho por ele, não me é mais possível executar”, escreveu a agora ex-chanceler do país.

A decisão de Sarabia ocorreu por após uma polêmica interna sobre um contrato para a fabricação de passaportes, mas expõe novas diferenças e fraturas na administração colombiana.

O Ministério das Relações Exteriores já teve duas outras baixas, como o primeiro ocupante do cargo, Álvaro Leyva Durán, saindo após ter os mesmos problemas apontados por sua sucessora com o contrato de emissão de passaportes.

Nas últimas semanas, o desgaste entre Petro e Levya Durán voltou à tona, mas agora com novos e mais graves contornos. De acordo com áudios revelados pelo jornal El País, o ex-chanceler Durán teria tentado se aproximar do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, para que este exercesse uma “pressão internacional” que culminaria na queda do presidente e na ascensão de Francia Márquez, sua vice, à Casa de Nariño, sede da Presidência da Colômbia.

Em uma carta pública, Durán (antes um dos aliados mais próximos do presidente) fez acusações graves sobre a vida pessoal de Petro, insinuando supostos vícios que comprometeriam sua capacidade de governar. Segundo ele, em uma viagem a Paris em outubro de 2023, o presidente desapareceu por dois. “Foi em Paris que pude confirmar que você tem um problema de dependência de drogas”, afirmou ele em sua publicação no X, sem apresentar evidências.

A imprensa local também compara a frequência das trocas ministeriais de Petro à de outros governos: o antecessor de Petro, Iván Duque (2018-2022) fez 39 trocas ministeriais ao longo de todo o seu mandato. No mesmo período de dois anos e meio que o esquerdista governa, Duque nomeou 24 ministros.

O Ministério do Interior lidera o número de ministros de Petro: quatro efetivos e um interino; a Fazenda, quatro, sendo que um deles, Ricardo Bonilla, saiu em meio a polêmicas e um suposto caso de corrupção envolvendo recursos para gestão de riscos de desastres, que ele nega. Na pasta do Esporte, María Isabel Urrutia foi demitida por supostas irregularidades em 104 contratos.

Os fatores que levaram a esse recorde de mudanças incluem a fragmentação de uma ampla coalizão de governo e conflitos entre ministros técnicos e a visão ideológica de Petro. Um caso emblemático foi a saída de Alejandro Gaviria do Ministério da Educação, que deixou o cargo após criticar a reforma da saúde do governo.

Além de Gaviria e Sarabia, outros ministros saíram por divergências com o governo, e conforme seu mandato se desenvolveu, o presidente procurou cercar-se de aliados mais próximos.

As crises internas levantam preocupações sobre a viabilidade do governo, que se aproxima do fim —a Colômbia terá eleições presidenciais em 2026, e a Constituição do país não permite reeleições.

As mudanças constantes no gabinete também colocam em questão as reformas que o presidente tenta implementar. No mês passado, o Senado finalmente deu sinal verde para a reforma trabalhista proposta pelo governo, após três tentativas fracassadas.