SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ela não quer mais a sensação de ser sempre uma das únicas meninas a competir, o que a faz ficar desconfortável em seu universo de louros. Já são 17 medalhas, sendo sete de ouro, em olimpíadas nacionais de conhecimento.
Mas, pelo menos por enquanto, a estudante Caroline Aymi Okumura, 16, vai seguir sozinha. Ela foi a única garota brasileira, ao lado de três meninos, a conseguir vaga na Olimpíada Internacional de Biologia, que acontece nas Filipinas, neste mês. Ela conquistou o feito após ser a campeã da disputa nacional da área.
“Já sofri bastante por ser a única menina do lugar ou da olimpíada. Não gosto. É uma experiência em que não me sinto tão confortável, mas que estou acostumada. Não quero que outras meninas passem por isso”, diz Caroline.
Para ela, ter mais mulheres nas disputas pode ampliar a sensação de segurança e apoio. “É perceptível a diferença [quando há mais garotas]. Elas se apoiam, elas se ajudam. As meninas, por falta de incentivo, participam menos. Quero, pelo menos, ser uma representante olímpica. Quero poder encorajar outras meninas.”
Mesmo sendo também campeã nacional em olimpíadas de química, matemática, ciências e astronomia, é a biologia o xodó de Caroline, que estuda desde o sexto ano no Colégio Etapa, na cidade de São Paulo, e pretende ser médica. Neste ano, ela já figurou na lista dos melhores treineiros da Fuvest.
“Gosto muito de anatomia e fisiologia humana. Acho que pelo fato de eu sempre querer fazer medicina. Mas eu também gosto muito de etologia, que é comportamento animal. Quando estou fazendo as questões disso, gosto bastante. São sempre muito criativas.”
Na olimpíada mundial, os competidores farão quatro provas práticas –microbiologia, biologia molecular, biomédicas, ciências biomédicas e ecologia–, com atividades em laboratórios, e duas provas teóricas.
Caroline, que é trigêmea de um irmão ligado aos jogos online e uma irmã ligada às artes, não refuta o rótulo de nerd, algo que foi “conquistando com os anos”, mas atribuiu seu sucesso ao equilíbrio e aos múltiplos interesses.
Ela gosta de rock e de música clássica, toca teclado e guitarra. Se interessa por livros de fantasia e de mistério. Vai ao cinema e ao shopping com amigos e jura que o segredo é estudar um pouco todos os dias, sem neuras.
“Não tem um caminho. Cada um acha o seu jeito. O que deu certo para mim foi fazer um pouco de tudo até encontrar o que você realmente gosta. Quando você acha, da um clique. Tipo, pô, é isso que eu quero fazer na minha vida. Eu gosto muito e enxergo muita beleza na biologia. Por isso acho tão divertido.”
Para ela, estudar um pouco todos os dias, sem uma sobrecarga, gera melhores resultados, sempre intercalando com momentos de lazer.
“Aos poucos, você vai ver que vai dar efeito, reservar umas horas do seu dia para estudar. Faço isso com todas as matérias, porque me ajuda muito a não esquecer e não deixar nada de lado. Com um estímulo repetitivo, fica mais fácil você se lembrar de tudo no final. Parece meio clichê, mas, de fato, funciona.”
A estudante diz acreditar que se sairá bem na disputa das Filipinas, mas a angustia quando é vista como alguém genial, que sempre sairá vencedora.
“Ser colocada num pedestal me angustia muito. As pessoas acharem que pelo fato de eu ter conseguido tudo isso estou num nível diferente do delas. Prefiro que me tratem do jeito que eu sou. E eu sou uma pessoa normal.”
Embora tenha pedido insistentemente aos pais para “não esperarem muito” de seus resultados para não criar expectativas, os pais de Caroline, Lidia Midori Sugavara Okumura, 52, e Maurício Akira Okumura, 61 que são da área de tecnologia da informação, estão radiantes.
“Meus pais são o tipo de pessoas que sabem que eu consigo, eles sabem o potencial que eu tenho e eles sempre me encorajam a continuar tentando, a fazer o meu máximo. ‘Não deu certo? Faça de novo’, eles dizem. Então, eles ficaram muito felizes quando viram que eu consegui passar [para a olimpíada internacional]. Foram eles que acompanharam de perto todo o meu crescimento.”
A estudante embarca para as Filipinas no dia 18 de julho. A 36ª Olimpíada Internacional de Biologia acontece de 20 a 27 do mesmo mês.
As olimpíadas nacionais de conhecimento, que visam aprofundar e estimular o conhecimento dos estudantes em diversas áreas, ocorrem todos os anos, em diversos formatos, e são abertas a alunos de escolas públicas e particulares.