SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No primeiro dia após a deflagração de uma operação especial da Polícia Militar contra ataques a ônibus em São Paulo, ao menos cinco coletivos foram depredados na capital paulista entre a noite de quinta-feira (3) e a manhã desta sexta.

Segundo a PM, após a ação, houve redução significativa nas ocorrências —na noite anterior, 35 ônibus do transporte coletivo de São Paulo haviam sido depredados e tiveram os vidros quebrados.

Somente na capital, 247 veículos foram vandalizados desde o início dos ataques, em 12 de junho. As ações, ainda sem uma justificativa definida, segundo a polícia, também ocorrem em municípios do ABC paulista e da Baixada Santista.

Na manhã de quinta, a Polícia Militar anunciou a implantação da Operação Impacto — Proteção a Coletivos. Ela será realizada até o próximo dia 31 em áreas com mais incidências de vandalismo no estado. Ao todo foram mobilizados 3.641 viaturas e 7.890 PMs.

“As ações foram conduzidas com a utilização de diversas viaturas operacionais, especialmente motocicletas, que garantiram maior mobilidade e resposta rápida em áreas de maior vulnerabilidade”, diz a PM, em nota, sobre o primeiro dia.

A operação prendeu oito pessoas, sendo que duas eram procuradas pela Justiça. O comunicado não informa se elas tinham relação com os ataques. Também foram vistoriados mais de 1.800 carros e motos.

De acordo com a Secretaria Municipal de Mobilidade e Urbana Transporte e a SPTrans, estatal que gerencia a frota de ônibus na cidade, os atos foram distribuídos em todas as regiões da cidade.

Na última sexta (27), uma mulher de 31 anos ficou ferida por estilhaços do vidro quebrado por uma pedrada, que acertou um coletivo por volta das 21h45 na avenida Washington Luis, no Campo Belo, zona sul da capital.

A ação foi registrada por uma câmera de segurança no interior do coletivo. A passageira teve de ser levada a uma UPA (Unidade de Pronto-Atendimento).

Por causa de subnotificações e falta de registro de boletins de ocorrência, a Polícia Civil contabiliza cerca de 180 casos de ataques a ônibus na capital, número menor que o relatado pelas empresas à SPTrans. Um deles ocorreu na manhã desta sexta na zona oeste paulistana, segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública).

De acordo com a Polícia Civil, 60% dos ataques estão concentrados na zona sul, com destaque para as avenidas Cupecê, Washington Luís e Vereador João de Luca.

“O setor de inteligência da PM também atua de forma integrada para identificar os autores e a motivação dos ataques, enquanto a Divisão de Crimes Cibernéticos [DCCIBER] tem atuado no monitoramento de plataformas digitais, diante da suspeita de que os atos possam estar sendo organizados pela internet”, disse a pasta da segurança, em nota.

Em entrevista coletiva na manhã desta quinta, o delegado Ronaldo Sayeg, diretor do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), afirmou que, por ora, a Polícia Civil descarta a participação do crime organizado nas ações.

“O crime organizado age com um propósito. E os ataques não revelaram, por ora, um propósito, que é típico de facções criminosas”, disse.

As ações criminosas, conforme a Polícia Civil, são coordenadas e, geralmente, acontecem a partir das 22h.

Os investigadores apuram se os atos surgem a partir de desafios marcados pela internet, mas ainda não encontraram evidências disso no monitoramento de plataformas digitais e redes sociais. “Não revelou algo de concreto, mas a gente tem ficado de olho.”

Segundo Sayeg, os criminosos seriam jovens. Há um vídeo de um apedrejamento, ainda mantido em sigilo pela polícia, que comprovaria a participação de pessoas com esse perfil.

Desde o início das investigações, duas pessoas foram presas no ABC paulista, mas a Polícia Civil descarta envolvimento nos ataques coordenados.

Uma delas acabou presa em flagrante em Diadema após danificar seis ônibus. A outra foi detida em São Bernardo do Campo, após vandalizar três coletivos, com pedradas e uma barra de ferro.

“Essa é uma investigação peculiar”, disse o diretor do Deic, ao ser questionado sobre falta de respostas. “Toda investigação tem um tempo de maturação.”

Por causa dos ataques, a FETPESP (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo) divulgou nesta sexta uma nota de repúdio e disse ter profunda preocupação com a escalada dos atos de vandalismo.

“Esses atos não apenas comprometem a segurança de trabalhadores e usuários, mas impactam diretamente na operação do sistema de transporte público”, diz trecho do texto

Na nota, a federação pede intervenção das forças de segurança, intensificação das operações de patrulhamento e punição rigorosa aos responsáveis pelo vandalismo.