SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando a Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, abrir com Richard Strauss, neste sábado, no Auditório Claudio Santoro, a 55ª edição do Festival de Inverno de Campos do Jordão, interior paulista, dará início a uma maratona de 84 apresentações gratuitas que seguirão até 3 de agosto em quatro endereços da cidade serrana e, em São Paulo, na Sala São Paulo e na sede principal do Mackenzie.
Mas mais do que uma sequência de concertos principalmente de orquestras brasileiras, o festival é um “intensivão” de música para os próprios músicos, uma oportunidade de incremento técnico, de ascensão profissional e de ganho de experiência e networking.
A violista Stefany Stelet, 23, vai para sua terceira edição como bolsista do Festival, evento que a induz, como afirma à reportagem, a se dedicar mais. Em setembro, ela parte para Sion, na Suíça, para estudar na Haute École de Musique, com o britânico Timothy Ridout, prodígio de seu instrumento, vaga que de alguma forma cavou ao se esforçar em outras edições do Festival.
Stefany, ainda que hoje a integrar a Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, sofre com a falta de posições nos corpos estáveis brasileiros. “A Osesp e a Filarmônica de Minas Gerais têm nível muito alto, quase não aprovam ninguém, isso tira um pouco nossas esperanças.”
O Festival de Inverno é também uma possibilidade de faturar alguns reais. Distribui bolsas em dinheiro -este ano, de R$ 4.700 a R$ 6.500-, algo que outros festivais pelo Brasil, como o de Pelotas, no Rio Grande do Sul, não fazem, exceto valores simbólicos para traslado e outras despesas.
Mesmo assim, o evento enfrenta restrições orçamentárias. O atual borderô, de cerca de R$ 8 milhões, é o mesmo, nominalmente, de 2019. Atualizado pela inflação, o montante subiria para R$ 11,2 milhões.
Em 2019, aquela que foi a 50ª edição do evento distribuiu 201 bolsas, 60 a mais do que hoje -com algumas desistências, são 220 alunos em 2025, mas eles dividem 141 bolsas. Pelos custos de estadia, não se cogita levar os bolsistas de volta para Campos do Jordão, tradição interrompida com a crise econômica dos anos 2010.
O evento também concede prêmios por desempenho para os bolsistas. O principal deles, o Eleazar de Carvalho, garante nove meses de estudo no exterior, as despesas de traslado desde o Brasil e ainda US$ 1.400, ou R$ 7.500. Este ano também serão distribuídos três prêmios em dinheiro para intérpretes de repertório de música antiga.
De qualquer forma, a oportunidade de ser acompanhado por professores de várias partes do Brasil e do exterior é o que anima os candidatos. Este ano marca o recorde de inscrições dos últimos 12 anos, 453. Ministram aulas e masterclasses 84 professores, como a maestrina francesa Stéphanie-Marie Degand e o regente russo Mikhail Agrest.
Podem se candidatar à bolsa pessoas de 16 a 35 anos, mas a faixa etária predominante é dos 22 aos 27 anos. Segundo dados da organização, mais de dois terços dos candidatos moram no estado de São Paulo e pouco mais de 35% deles se declaram pretos e pardos -os indígenas, pouco mais de 1%. Cerca de dois terços já participaram, também como bolsistas, de outra edição, ou de outras edições, do festival.
Para Fabio Zanon, coordenador pedagógico do Festival de Inverno, não é incomum que as pressões financeiras abortem carreiras musicais já encetadas. “Alguns músicos viram corretores de imóveis”, diz, escolhendo um exemplo não tão aleatório.
Muitos músicos de concerto têm seu primeiro contato com a música em organizações sociais e em igrejas, e, vindo de famílias de, em geral, baixo poder econômico, tornam-se, não raro, o maior salário da casa.
Por isso, ao virarem bolsistas do festival, encaram a oportunidade com “pragmatismo”, como diz Zanon. “Eles podem não ser melhores músicos do que aqueles que têm condição econômica superior, mas dá para dizer que são mais eficientes.”
A saga dos bolsistas virou ano passado, por encomenda da Osesp, um docu-reality, o “Compondo Futuros”. Os seis episódios, produzidos pelo canal Arte 1, podem ser vistos gratuitamente no YouTube. Neles, os bolsistas narram suas histórias de vida e comentam as expectativas futuras.
Uma segunda temporada, com a versão deste ano, está no prelo, e deverá começar a ser exibida no Arte 1 em 23 de agosto. Os bolsistas agora contracenam com veteranos do festival, alguns deles membros de longa data da Osesp, como o oboísta Arcadio Minczuk, na orquestra desde 1981, e da timpanista Elizabeth Del Grande, 52 anos na Osesp.
FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO
Quando Sáb. (5) a 3 de agosto
Onde Diversos endereços em Campos de Jordão
Preço Grátis
Link https://festivalcamposdojordao.byinti.com/#/ticket/