SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Urbia, concessionária que administra o Parque Ibirapuera, na capital paulista, vai lançar neste domingo (6) a sua própria assessoria esportiva de corrida, com o nome de Corre no Ibira. O serviço vai operar no chamado “hub esportivo”, que fica próximo ao portão 4, e deve oferecer dois planos, ambos anuais: o básico e o “premium”, com mensalidade de, respectivamente, de R$ 170,90 e R$ 279,90.
No básico, os clientes terão incluídos no pacote água, isotônico e carbogel durante a atividade física, acesso aos vestiários com chuveiros aquecidos e armários, além de desconto de 30% no estacionamento rotativo.
No premium, são adicionadas sessões de recuperação, com botas pneumáticas e pistolas massageadoras, e treinos presenciais de fortalecimento funcional duas vezes por semana.
O uso do vestiário por visitantes do parque já é pago hoje em dia (R$ 30).
Outra vantagem dos alunos do plano mais caro é o atendimento personalizado do treinador olímpico Jorge Luis da Silva, o Jorginho, coordenador técnico do projeto. Ele tem experiência de mais de 30 anos na modalidade, com atletas de alto rendimento, e dirigiu a seleção brasileira em mais de dez competições internacionais, incluindo dois mundiais (Portugal 2003, Japão 2006).
Jorginho é o coordenador da equipe de educadores físicos. Os profissionais vão avaliar a condição física dos atletas e orientar estratégias de treino e recuperação pós-treino.
Os treinos no parque serão de segunda a sexta-feira, das 6h30 às 10h, e aos sábados e domingos, das 6h30 às 8h30. Os alunos também poderão treinar nas quartas-feiras, no Centro Olímpico, das 6h30 às 7h30, e, aos sábados, na Cidade Universitária, 6h30 às 9h.
Segundo a concessionária, 20 mil pessoas buscam o parque diariamente para correr ou caminhar, uma parte delas já com o auxílio de outras assessorias esportivas. “A nossa expectativa é crescer gradativamente a partir deste inverno, para ter algumas centenas de alunos no ano que vem”, afirma Samuel Lloyd, diretor da Urbia. A ideia, segundo ele, é atingir atletas iniciantes e os que já são competidores.
Lloyd diz que a concessionária pretende criar outros dois planos de assessoria esportiva de corrida ainda neste ano, para bolsistas. O primeiro, previsto para setembro, deve atender quem pretende iniciar nos treinos e não tem condições de arcar com o valor da mensalidade. O outro é para atletas de alto rendimento, que, além da bolsa, devem receber apoio para participar de competições.
O lançamento de uma assessoria própria deve alimentar ainda mais a disputa entre a concessionária e as assessorias de corrida. O embate teve início no ano passado, quando a Urbia anunciou que passaria a cobrar uma taxa das empresas que prestam este serviço dentro do parque.
As taxas inicialmente variam de R$ 300 a R$ 1.500 por semestre, com base no número de alunos de cada uma delas o menor valor é para quem tem cinco alunos e dá R$ 10 por mês por aluno. Em março, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) chegou a pedir a suspensão da cobrança, mas a concessionária a manteve.
Segundo o preside da ATC-SP (Associação dos Treinadores de Corrida de São Paulo), Douglas de Melo, até assessorias que não atuam dentro do Ibirapuera estão sendo notificadas pela Urbia para pagar as taxas. “A gente evitou judicializar a questão, porque havia conversas com a prefeitura e o Ministério Público a respeito desta cobrança”, diz.
Melo diz que uma das preocupações dos profissionais é com as condições impostas pela concessionária, que incluem até a responsabilização em casos de acidentes. “Orientamos as assessorias a não assinar, porque qualquer exigência descumprida pode ser argumento para que a licença não seja renovada”, diz.
A Urbia conseguiu uma liminar no último dia 17 de junho, concedida por uma juíza de primeira instância, para obrigar uma assessoria a aderir ao cadastro da concessionária e passar a pagar a taxa. Segundo a ATC-SP, dois pedidos de liminar, em ações impetradas pela empresa, foram rejeitados por outros juízes.
Para o promotor Silvio Marques, da Promotoria do Patrimônio Público do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), o novo serviço reforça a privatização do espaço público dentro do Ibirapuera e descaracteriza o parque como patrimônio social da cidade. “Os parques, segundo o Código Civil, são bens públicos de uso comum”, afirma.
Ele diz que essa e outras medidas tomadas pela concessionária criam áreas de uso privado, onde os demais usuários não podem entrar. Ele cita quiosques de empresas e restaurantes para a apontar um “loteamento” do espaço comum. A administração da concessionária também é alvo de inquérito da Promotoria do Meio Ambiente.
Em nota, a Urbia afirma que implantou “regras claras para garantir o bom funcionamento dos serviços prestados por terceiros, após amplo diálogo com representantes do setor” para conciliar “o uso comercial com o acesso gratuito e livre dos demais usuários”.
Diz ainda que “a cobrança de até R$ 10 por aluno, feita diretamente às empresas como contrapartida pelo uso comercial do espaço público, é um direito previsto contratualmente e contribui para a zeladoria do parque, o monitoramento da atividade e a preservação do patrimônio” e que “diversas assessorias de diferentes modalidades já aderiram voluntariamente ao programa, reconhecendo a legitimidade e a transparência do modelo”.
Para a concessionária, a liminar concedida “comprova a legitimidade das ações da concessionária e a importância do cumprimento das regras estabelecidas”.
A Urbia disse que o promotor conduz uma campanha difamatória contra ela. Afirma ainda que ele antecipa “à imprensa opiniões pessoais e juízos de valor sobre as atividades do parque, gerando desinformação e prejuízos concretos à imagem da concessionária”. E completa que “a Justiça tem reiteradamente reconhecido que a Urbia atua dentro da legalidade e dos termos do contrato de concessão”.