SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Militar anunciou que colocou em ação uma operação para tentar frear os ataques a ônibus na capital paulista, em cidades da Grande São Paulo e na Baixada Santista.
Somente na cidade de São Paulo, mais de 200 ônibus foram atingidos por pedradas desde o início do vandalismo, em 12 de junho.
De acordo com a PM, desde quarta-feira (2), a Operação Impacto Proteção a Coletivos conta com 3.641 viaturas e 7.890 policiais militares.
A operação, de nível estadual, terá como foco regiões mapeadas com incidências de ataques. Inicialmente ela vai até 31 de julho. Ela vai intensificar patrulhamento em corredores, garagens e terminais de ônibus
Na cidade de São Paulo, 60% de cerca de 180 casos ocorreram na zona sul, segundo a Polícia Civil. Avenidas Cupecê e Washington Luiz estão entre as principais vias com ataques.
“Iniciamos a operação através de mapeamento e análise criminal dos locais de maiores incidência, então começamos a alocar os ativos operacionais das várias modalidades de policiamento justamente para isso, para fazer a prevenção e também, se for o caso, a repressão imediata”, disse o coronel Carlos Henrique Lucena, coordenador operacional da PM.
Cerca de 670 agentes com motos da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) deverão sair em patrulhamento na tarde desta quinta-feira (3) do Anhembi, na zona norte.
Em entrevista coletiva na manhã desta quinta, o delegado Ronaldo Sayeg, diretor do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), afirmou que, por ora, a Polícia Civil descarta a participação do crime organizado nas ações.
“O crime organizado age com um propósito. E os ataques não revelaram, por ora, um propósito, que é típico de facções criminosas”, afirmou ele.
As ações criminosas, conforme a Polícia Civil, são coordenadas e, geralmente, acontecem a partir das 22h.
Os investigadores apuram se os atos surgem a partir de desafios marcados pela internet, mas ainda não encontraram evidências disso no monitoramento de plataformas digitais e redes sociais. “Não revelou algo de concreto, mas a gente tem ficado de olho.”
Segundo Sayeg, os criminosos seriam jovens. Há um vídeo de um apedrejamento, ainda mantido em sigilo pela polícia, que comprovaria a participação de jovens.
Desde o início das investigações, duas pessoas foram presas no ABC paulista, mas a Polícia Civil descarta envolvimento nos ataques coordenados.
Uma delas acabou presa em flagrante em Diadema após danificar seis ônibus. A outra foi detida em São Bernardo do Campo, após vandalizar três coletivos, com pedradas e uma barra de ferro.
“Essa é uma investigação peculiar”, disse o diretor do Deic, ao ser questionado sobre falta de respostas. “Toda investigação tem um tempo de maturação.”
Segundo ela, a Polícia Civil tem mantido contatos diários com as empresas de ônibus e com a SPTrans, estatal que gerencia o transporte público municipal na capital paulista.
Sayeg também descartou, por enquanto, que o vandalismo seja uma retaliação ao rompimento de contrato da Prefeitura de São Paulo com as empresas Transwolff e Upbus, por causa da suspeita de ligação com a facção criminosa PCC.
Sobre número de casos, a polícia trabalha com um número menor do que divulgado pela SPTrans e afirma que há subnotificação.
Somente na noite desta quarta, 35 ônibus do transporte coletivo de São Paulo foram depredados e tiveram os vidros quebrados, de acordo com a estatal da prefeitura, levando o número total para 235 desde o dia 12 de junho.
A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transporte e a SPTrans afirmou em nota que repudiaram os atos de vandalismo, em sua maioria ataques com pedras, e afirmaram que seguem fornecendo todas as informações necessárias para auxiliar nas investigações.
A SPTrans reforçou a orientação para que as concessionárias comuniquem imediatamente todos os casos à central de operações e formalizem as ocorrências junto às autoridades policiais.
“Cabe ressaltar que a empresa é obrigada a encaminhar o veículo para manutenção, substituindo-o por outro da reserva técnica, que realizará a próxima viagem programada, garantindo a continuidade do serviço prestado aos passageiros. Caso isso não ocorra, a empresa é penalizada pela viagem não realizada”, disse.
Os ataques também chegaram à Baixada Santista. Em Santos, 11 ônibus foram vandalizados na madrugada de domingo (29).
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou a jornalistas na manhã de segunda-feira (30) que as investigações policiais serão concentradas em duas delegacias, uma da capital e outra do ABC, mas não explicou quais são.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que a 6ª Delegacia da Divisão de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio, do Deic, conduz as apurações, com foco na identificação e responsabilização dos autores.
A DCCIBER (Divisão de Crimes Cibernéticos) também está envolvida nas investigações, para monitorar a atuação dos autores em plataformas digitais.
“Paralelamente, o CICC [Centro Integrado de Comando e Controle] vai se reunir com representantes das empresas de transporte para discutir estratégias para o enfrentamento das ações criminosas”, disse a pasta da segurança.
No sábado (28), um homem de 27 anos foi preso pela Polícia Militar sob suspeita de atacar três ônibus em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
Segundo um dos motoristas, ele teria danificado com pedras e barra de ferro um ônibus na avenida Kennedy e outros dois na Senador Vergueiro. Os respectivos pontos de ônibus também foram alvo de depredação.