BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Ao menos sete mortes relacionadas à primeira grande onda de calor do ano na Europa foram registradas desde terça-feira (1°) no continente. Duas pessoas foram encontradas mortas em uma área de incêndio florestal na Catalunha e, também na Espanha, uma criança de dois anos morreu após ser esquecida pelos pais em um carro.

Na França, uma americana de dez anos desmaiou durante visita ao Palácio de Versalhes após reclamar do calor, segundo a imprensa do país. Ela chegou a ser atendida por socorristas, mas não resistiu. O caso é investigado pela polícia. O governo atribuiu ao clima extremo outras duas mortes e mais de 300 internações.

No norte da Itália, um motorista de caminhão de 70 anos foi encontrado morto na cabine de seu veículo. Médicos que o atenderam disseram que as altas temperaturas podem ter precipitado uma condição de saúde frágil pré-existente.

A canícula que assola a Europa desde o fim de semana provocando recordes de temperatura em diversos países chegou ao leste nesta quarta (2). Alertas de calor extremo na Alemanha incluíram cidades como Hamburgo, Colônia, Frankfurt e Stuttgart. A temperatura em Berlim chegou a 35°C no meio do dia, marca absolutamente incomum para um início de verão. A expectativa era a de que os termômetros alcançariam os 38°C no começo da noite.

Museus, ambientes em geral climatizados, deixaram de cobrar por ingressos em diversas localidades. Igrejas evangélicas se transformaram em abrigos, com postos de hidratação e até locais de descanso para pessoas vulneráveis.

Uma usina nuclear na Suíça foi parcialmente desligada, e uma série de blecautes foram registrados na Itália. Segundo as autoridades, picos de consumo de energia provocados pelo uso desenfreado de ar condicionado prejudicaram o abastecimento.

Na Assembleia Nacional francesa, a líder de ultradireita Marine Le Pen provocou o governo do presidente Emmanuel Macron, dizendo que transformaria em plataforma eleitoral um grande plano para popularizar o ar condicionado no país. “Salvam vidas”, disse a parlamentar, que procura contornar uma condenação judicial para se manter na política.

A ministra do Meio Ambiente, Agnès Pannier-Runacher, rebateu Le Pen, afirmando que já existe legislação sobre o tema e que a extrema direita prega as soluções erradas para o problema. Sistemas de ar condicionado consomem energia —que, na Europa, é em boa parte é obtida pela queima de combustíveis fósseis—, aquecem ambientes externos e devem ter uso pontual, dizem especialistas. Precisam ser combinados com outras providências mitigadoras de calor, como áreas verdes e reformas urbanas.

Enquanto o continente ardia, a Comissão Europeia confirmava a proposta de flexibilizar suas metas climáticas para 2040. A NDC (contribuição nacionalmente determinada, na sigla em inglês) do bloco econômico para 2040, pelo projeto, será um um corte de 90% das emissões em relação ao verificado em 1990. O plano é contestado por diversos países, que consideram a meta inatingível. A utilização de créditos de carbono, mesmo limitados a 3 pontos percentuais da meta, serviria para Bruxelas alcançar sua aprovação antes da COP30 em Belém, mas é alvo de ambientalistas, que temem fraudes e o relaxamento de medidas domésticas contra as mudanças climáticas.

O projeto precisa ser aprovado pelo Parlamento e pelo Conselho Europeu. De acordo com relatos de diplomatas, a França já teria sugerido o adiamento das votações. O governo Macron prefere trabalhar com uma meta não vinculante para 2035, que precisa ser apresentada por todos os signatários do Acordo de Paris até o encontro no Brasil, em novembro.

A ambição de manter a vanguarda do continente no tema, porém, fez Ursula von der Leyen usar a onda de calor para impor a legislação. “À medida que sentem cada vez mais o impacto das alterações climáticas os europeus esperam que a Europa tome medidas”, escreveu no X a presidente da Comissão Europeia. “A indústria e os investidores contam conosco para definir uma direção previsível. O objetivo é claro, e a jornada é pragmática e realista.”