SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O guia Ali Musthofa, que acompanhava Juliana Marins no percurso até o topo do vulcão Rinjani, na Indonésia, prestou depoimento em uma investigação da polícia local que apura as circunstâncias da morte da brasileira.

Musthofa negou ter sido negligente no acidente fatal sofrido pela brasileira, que morreu após cair cerca de 600 metros do Monte Rinjani. Ele prestou depoimento no âmbito de um inquérito instaurado pela polícia de Lombok, ilha onde fica o Rinjani.

Guia admite que orientou Juliana a descansar enquanto ele permaneceu na trilha, mas nega que a tenha abandonado. Entretanto, o pai de Juliana, Manoel Marins, acusa Musthofa de negligência, porque ele teria deixado sua filha sozinha para ir fumar. Ao Fantástico, da TV Globo, Manoel disse que o próprio guia lhe disse que se afastou por cerca de dez minutos de Juliana, e quando retornou não a viu mais.

Além do guia, outras pessoas também prestaram depoimento. Entre elas, um dos voluntários que atuou no resgate da brasileira, um policial florestal, além de outras testemunhas não especificadas.

Polícia de Lombok apura a possível existência de “algum elemento criminoso” na morte de Juliana. “Até o momento, não há nenhum suspeito em específico determinado. Por enquanto, estamos concentrados em coletar informações e depoimento de testemunhas”, informou o chefe da operação, I Made Dharma Yulia Putra. O caso é acompanhado de perto pela Embaixada do Brasil na Indonésia.

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PAI CITA NEGLIGÊNCIA

Pai da brasileira alega que se o guia tivesse acompanhado a jovem, o fim dela poderia ser outro. Manoel também culpa a direção do parque pela demora em acionar a Defesa Civil da Indonésia. Ao Fantástico, ele afirmou que “o culpado maior” é a administração do parque, além do guia e da empresa responsável pela expedição.

“Os culpados, no meu entendimento, são o guia, que deixou Juliana sozinha para fumar, 40 ou 50 minutos, tirou os olhos dela. A empresa que vende os passeios, porque esses passeios são vendidos em banquinha como sendo trilhas fáceis de fazer. Mas o primeiro culpado, que eu considero o culpado maior, é o coordenador do parque. Ele demorou a acionar a Defesa Civil”, disse Manoel Marins, ao Fantástico.

Ali Musthofa, porém, nega que tenha culpa no acidente trágico. Em entrevista ao jornal O Globo, na semana passada, ele alegou que se afastou de Juliana por no máximo “três minutos”, mas quando voltou não a encontrou mais.

Musthofa relatou que percebeu que ela havia caído por causa de uma lanterna. “Vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz dela pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la. Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda”, disse ele ao O Globo.

CORPO TRANSFERIDO PARA O BRASIL

O corpo de Juliana Marins chegou na tarde desta terça-feira (1º) no aeroporto de Guarulhos (SP) e será levado para o Rio de Janeiro, onde passará por uma nova autópsia. O exame será feito no IML Afrânio Peixoto, na capital fluminense.

Para pedir o novo exame, a família alegou “dúvidas na certidão de óbito emitida pela Embaixada do Brasil em Jacarta”. Eles dizem não haver clareza sobre o momento da morte da jovem, resgatada quatro dias depois de cair.

FAB (Força Aérea Brasileira) vai levar o corpo para o Rio de Janeiro. A previsão é que o voo chegue por volta das 18h30 na capital fluminense. De lá, o corpo será encaminhado ao IML, segundo informou a AGU (Advocacia-Geral da União).

PRIMEIRA AUTÓPSIA NA BRASILEIRA FOI FEITA NA INDONÉSIA

Perícia da Indonésia descartou hipotermia como causa da morte. O legista Ida Bagus Putu Alit disse que a falta de sinais clássicos, como necrose nas extremidades do corpo, permite “afirmar com segurança” que a jovem não morreu devido ao frio. A temperatura era próxima de 0 ºC à noite. Juliana usava apenas calça e blusa, sem equipamentos próprios, o que levou muitas pessoas a questionarem se ela sobreviveria às condições climáticas.

Segundo a autópsia feita em Bali, Juliana ficou quatro dias ferida até morrer. “De acordo com meus cálculos, a vítima morreu na quarta-feira, 25 de junho, entre 1h e 13h [14h do dia 24 e 2h do dia 25, no horário de Brasília]”, disse Ida Bagus Putu Alit, do hospital Bali Mandar, à BBC News. “Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu”, afirmou a família. Poucas horas antes, o Ministério do Turismo daquele país publicou que ela estava em “estado terminal”, segundo avaliação das equipes de busca.

Ela teria sofrido “trauma torácico grave” após cair pela segunda vez na encosta da montanha. Membros superiores, inferiores e costas da brasileira foram áreas mais machucadas e ela teve órgãos internos respiratórios comprometidos por fraturas causadas pelo impacto da queda, na análise estrangeira. Segundo o legista, além de hemorragia interna, brasileira tinha ferimentos na cabeça, fraturas na coluna vertebral, nas coxas e outras escoriações pelo corpo.

Juliana morreu entre 50 minutos e 12h50 antes do resgate. O corpo dela foi recuperado depois de sete horas de trabalho de socorristas e voluntários. A retirada começou por volta das 13h50 do dia 25 [2h do dia 25, no horário de Brasília], seguida pelo içamento em uma maca e o transporte para uma base do parque.

Parte do trajeto foi filmado por montanhista que ajudou no resgate. Quatro socorristas ficaram acampados a 600 metros de profundidade, junto ao corpo, e outros três, que serviram de apoio, a 400 metros.