Walison Veríssimo

Durante sessão plenária na Câmara Municipal nesta terça-feira (1º), uma série de críticas contundentes ao secretariado do prefeito Sandro Mabel (UB) revelaram cenário de tensão crescente entre o Legislativo e a administração municipal. As falas partiram de integrantes da própria base aliada e miraram, especialmente, os secretários de Engenharia de Trânsito e de Cultura.

O presidente da Casa, Romário Policarpo (PRD), foi direto ao acusar o titular da Secretaria Municipal de Engenharia de Trânsito, Tarcísio Abreu, de perseguir servidores efetivos e de repassar responsabilidades à Câmara para justificar falhas administrativas. “Não vou aceitar secretário fofoqueiro. Já disse ao prefeito que não convivi com isso no governo passado e não vou conviver neste”, disparou Policarpo.

Além de criticar a postura pessoal do gestor, Policarpo denunciou que Abreu estaria se eximindo de conceder gratificações ao funcionalismo ao alegar impedimentos por parte do Legislativo. “Se não deu conta de fazer, que seja homem e assuma. Não use meu nome como desculpa”, afirmou.

Vice-presidente da Câmara, Anselmo Pereira (MDB), também se posicionou. Ele defendeu a permanência de seu indicado, o secretário-executivo Ciro Meirelles, na mesma pasta e pediu harmonia entre os gestores. “Os dois precisam deixar o ciúme de lado e conviver com equilíbrio. Cabe ao prefeito resolver isso”, disse.

A insatisfação, no entanto, se mostrou mais ampla. A vereadora Aava Santiago (PSDB) ironizou que o governo Mabel não poupa sequer aliados de constrangimentos. “Se o presidente da Câmara e o líder do prefeito estão sendo contrariados, o problema não é pontual. É estrutural. É uma demonstração de desprezo ao Legislativo”, avaliou.

Também houve críticas à condução técnica da pasta. Rose Cruvinel (UB) denunciou a execução de projetos sem respaldo profissional: “Fizeram uma sinalização errada no meu bairro, sem assinatura de engenheiro. É uma bagunça”, reclamou. Geverson Abel (Republicanos) citou o desperdício de recursos com multas anuladas por erros administrativos. Já a vereadora Kátia Maria (PT) afirmou que o Ministério Público de Contas está apurando irregularidades na instalação de radares e notificações sem a devida sinalização.

Secretário de Cultura é convocado após insultos

Outro foco de tensão foi a atuação do secretário municipal de Cultura, Uugton Batista. O plenário aprovou a convocação do gestor para prestar esclarecimentos após a divulgação de uma fala em que teria chamado vereadores de “imbecis”. A declaração gerou forte reação entre os parlamentares, que pedem retratação pública.

“Não importa se ele falou sóbrio ou embriagado. O que foi dito precisa ser explicado nesta tribuna”, afirmou Aava Santiago. Luan Alves (MDB) apresentou o requerimento para convocá-lo. Markim Goyá (PRD) e Lucas Vergílio (UB) também defenderam a ida do secretário à Casa. Vergílio criticou o direcionamento de verbas da Cultura para festas sertanejas ligadas a aliados políticos, em detrimento da diversidade cultural da cidade. “A nomeação dele já nasceu sob resistência da classe artística. Hoje, R$ 10 milhões vão sempre para os mesmos eventos, enquanto artistas populares seguem esquecidos”, disse.

Clima de cobrança e alerta à governabilidade

Diante da escalada de críticas, parlamentares começaram a articular um encontro com o prefeito Sandro Mabel. O objetivo é tratar diretamente da relação entre o Executivo e o Legislativo. Ronilson Reis (Solidariedade) pediu mais respeito institucional: “É preciso entender que a Câmara não é extensão do Paço. A relação entre os poderes precisa ser reequilibrada.”

Welton Lemos, do mesmo partido, alertou para o desgaste político gerado pelas falhas na articulação. “As demandas que trazemos não são pessoais, são da população. Quando não somos atendidos, o povo é que sofre.”

O vereador Cabo Senna (PRD) foi direto: “Respeito é bom, e eu gosto. O prefeito precisa se lembrar que esta Casa representa a voz da cidade.”

A Secretaria de Engenharia de Trânsito, a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Governo e a Prefeitura de Goiânia foram procuradas pela reportagem, mas não se manifestaram até o fechamento deste texto. O espaço segue aberto para eventuais posicionamentos.