SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil registrou, apenas nos três primeiros anos da década atual, 1.885 desastres ligados a chuvas, ante 899 no período de 2010 a 2019. Os números tratam da média de casos a cada ano.
Oito de cada dez municípios brasileiros foram afetados no período mais recente, sendo 4.645 no total 328 a mais do que na década anterior inteira. A média anual de 3,2 milhões de pessoas afetadas no Brasil até 2023 ainda fica abaixo do período de 2010 a 2019, que teve 3,8 milhões.
Quando considerados os afetados pelas chuvas no Rio Grande do Sul em 2024, a média salta para 6,8 milhões.
Os dados são do estudo Temporada das Águas: O Aumento das Chuvas Extremas, da série Brasil em Transformação, desenvolvido pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica. Os dados são do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.
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Em todo o período analisado, de 1991 a 2023, foram 4.247 mortes. O número representa 86% do total de 4.923 óbitos relacionados a desastres climáticos no país.
Os registros de danos para as cidades também aumentaram, com média anual de 4,9 milhões de unidades afetadas de 2020 a 2023, ante 501,2 mil de 2010 a 2019. O cálculo considera danos registrados em unidades habitacionais, de saúde e ensino e obras de infraestrutura pública, entre outros.
Nove de cada dez foram causados em obras de infraestrutura pública em todo o período analisado, iniciado em 1995.
A conta também ficou pior para prejuízos econômicos causados por esses eventos. A média anual de 2020 a 2023 ficou em R$ 10,76 bilhões, em valores corrigidos, com alta de 58% na comparação com a década de 2010, que chegou a R$ 6,81 bilhões.
O setor privado, segundo o estudo, representa 83% das perdas econômicas na análise iniciada em 1995. Os destaques são os segmentos da agricultura (47%) e do comércio (30%).
Já os prejuízos públicos se concentram no transporte (52%) e no saneamento básico (28%).
Para o professor Ronaldo Christofoletti, do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os dados evidenciam danos causados pelo aquecimento global, ainda não devidamente enfrentado na sociedade.
Parte do problema pode ser explicado pela exigência de investimentos de médio e de longo prazo. “É tratar de um problema cuja resposta não é clara para as pessoas e que vai demorar para mostrar resultados, quando já passou a [chance de] reeleição. Devemos mudar esse ciclo”, diz Ronaldo.
O que se desenha para o futuro gera outro alerta. Mudanças nos regimes de chuva até 2100 podem aumentar a precipitação no Sul e no Sudeste em 30%, e reduzi-la no Norte e no Nordeste em 40%, segundo o professor. “Menos chuva aumenta o estresse [hídrico] nas bacias hidrográficas, podendo levar algumas delas a problemas de abastecimento de água.”
Por outro lado, mais eventos extremos também tendem a prejudicar o cenário registrado pelos dados até o momento. “Onde tende a chover mais, haverá momentos de chuva muito mais fortes. Onde tende a ter seca, vai ter seca mais forte. É o que vai ocorrer.”