SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar e a Bolsa subiam nesta terça-feira (1º), com os investidores de olho nas negociações do projeto de lei de corte de gastos e teto fiscal no Senado dos EUA e também com as conversações com outros países sobre as tarifas de exportação impostas pelo governo Donald Trump.
Na cena doméstica, o mercado monitora os últimos desdobramentos sobre o impasse com o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Às 11h47, a moeda norte-americana subia 0,30%, cotada a R$ 5,450. No mesmo horário, a Bolsa avançava 0,13%, a 139.042 pontos.
Na segunda-feira (30), o dólar caiu 0,90% e encerrou o dia cotado a R$ 5,433, renovando o menor patamar de fechamento desde 19 de setembro. Desde o início do ano, a moeda norte-americana acumula uma queda de 12,07%, e no mês, um recuo de 5,01%.
Já a Bolsa fechou com uma valorização de 1,45%, a 138.854 pontos, registrando o quarto mês seguido com sinal positivo apenas em fevereiro teve desempenho negativo. No primeiro semestre do ano, acumula um avanço de 15,44%, e no mês, um ganho de 1,33%.
Começando pelo cenário internacional, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta terça-feira que está aberto a adiar o prazo de 4 de julho que deu aos republicanos no Senado para apoiar o projeto de lei sobre impostos e gastos, em meio a divisões dentro do partido.
Trump disse a repórteres na Casa Branca que está aberto a mudar o prazo, mas afirmou que seria sensato que os republicanos aderissem. Ele disse que espera que a legislação seja aprovada no final.
Os movimentos do real nesta sessão também tinham como pano de fundo os acordos comerciais firmados pelos EUA sobre as tarifas.
No domingo (29), o Canadá revogou seu imposto sobre serviços digitais voltado para empresas de tecnologia norte-americanas, poucas horas antes de entrar em vigor, em uma tentativa de avançar nas negociações com os EUA. Em resposta, a Casa Branca afirmou que as discussões reiniciarão imediatamente.
Em outro sinal positivo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, indicou que haverá uma série de acordos comerciais na semana final antes do prazo de 9 de julho para o fim da trégua tarifária, mas alertou que os países ainda poderão enfrentar tarifas muito mais altas depois desta data.
“Temos países que estão negociando de boa-fé, mas eles devem estar cientes de que, se não conseguirmos chegar a um acordo porque eles estão sendo recalcitrantes, poderemos voltar aos níveis de 2 de abril. Espero que isso não aconteça”, disse.
A Casa Branca informou que Trump planeja se reunir com sua equipe comercial nesta semana para definir as tarifas para cada país caso eles não negociem com os EUA.
Na cena doméstica, os agentes do mercado financeiro seguem atentos ao impasse sobre o aumento do IOF. Na terça-feira passada (24), o Congresso derrubou os decretos que elevariam as alíquotas do imposto.
Apesar da resistência de uma ala do governo e do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu brigar na Justiça pela reativação do decreto com elevações no IOF.
A AGU (Advocacia-Geral da União) protocolou uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira. A ideia é questionar a constitucionalidade da decisão do Congresso, com base na análise técnica e jurídica.
“A avaliação técnica dos nossos advogados, e que foi submetida ao senhor presidente da República, foi que a medida adotada pelo Congresso Nacional acabou por violar o princípio da separação de Poderes”, disse Jorge Messias, advogado-geral da União.
Nesta terça, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o cumprimento da meta fiscal de 2026 depende da efetivação da iniciativa que elevava o IOF, da medida provisória que aumentou tributos sobre aplicações financeiras e de projeto a ser apresentado para cortar R$ 15 bilhões em benefícios tributários.
Haddad disse que as medidas elaboradas pelo governo buscam corrigir distorções e fechar brechas do sistema.
Em entrevista na sexta ao novo videocast semanal da Folha de S.Paulo, o C-Level Entrevista, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia adiantado que o presidente Lula iria ingressar com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a decisão se tiver o aval da AGU (Advocacia-Geral da União).
O revés no Congresso representa uma mais uma derrota para o governo. Haddad disse que acreditava ter chegado “num baita de um acordo” para calibrar as alíquotas do imposto quando se reuniu com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), na noite do dia 8.
“Saí de lá imaginando que estava tudo bem. Não só eu, todo mundo. Eu não sei o que mudou. Eu não consigo… O que mudou daquele domingo para cá?”, declarou à Folha de S.Paulo, quase 20 dias depois da reunião.
O plano de judicializar a decisão se ampara no argumento de que o governo pretende cobrar dos ricos em favor dos pobres. Ao travar esse embate, o Executivo pode acirrar a disputa com parlamentares de centro e de direita, em um contexto já adverso às pautas da gestão petista.
A sessão de segunda-feira marcou o encerramento do primeiro semestre de 2025. O mercado de câmbio brasileiro foi influenciado desde o início do dia pela disputa pela formação da Ptax de fim de mês e trimestre, que acentuou a queda do dólar.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo BC (Banco Central) que serve de referência para a liquidação de contratos futuros.
No fim de cada mês, agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).
A disputa é especialmente intensa nos finais de trimestre como visto nesta segunda-feira porque a taxa também serve de referência para conversão de valores em moeda estrangeira nos balanços e demonstrações financeiras de muitas empresas no Brasil.