Da Redação

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está desenhando uma estratégia política que vai muito além da disputa pelo Palácio do Planalto em 2026. Seu plano mira a formação de uma base majoritária no Congresso Nacional capaz de influenciar diretamente as decisões legislativas e fazer frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). A meta: construir um bloco parlamentar robusto o suficiente para funcionar como um “governo paralelo” e limitar o alcance da Corte, segundo análise publicada por Marianna Holanda na Folha de S.Paulo.

Mais do que eleger um sucessor, Bolsonaro pretende moldar o próximo Congresso. Seus esforços se concentram principalmente no Senado, que tem a prerrogativa de julgar ministros do STF, e na Câmara dos Deputados, palco de projetos como a tentativa de anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. Em falas públicas, o ex-presidente tem ressaltado que a maioria legislativa representa um poder maior que o da própria Presidência. “Com 50% da Câmara e do Senado, quem estiver na liderança comanda o Brasil, não importa quem seja o presidente”, declarou durante manifestação na Avenida Paulista, em abril.

A ideia central é eleger os presidentes das duas Casas e tomar as rédeas das principais comissões temáticas. Para isso, Bolsonaro articula alianças com partidos como PL, PP, Republicanos e União Brasil. A escolha dos candidatos é estratégica: o grupo tem priorizado nomes com perfil ideológico alinhado à pauta bolsonarista e que sejam simpáticos à ideia de confrontar ministros como Alexandre de Moraes.

Até os suplentes de senadores estão sendo cuidadosamente analisados, com a meta de garantir ao menos 22 senadores eleitos diretamente pelo PL e contar com o apoio de outros partidos para chegar a uma maioria de 50. O nome do senador Rogério Marinho (PL-RN) já circula como possível presidente do Senado em um eventual novo ciclo político bolsonarista.

Presidência no radar — mas não como prioridade

Paralelamente, Bolsonaro avalia possíveis candidatos à Presidência, embora tenha demonstrado que o verdadeiro trunfo está no Legislativo. Entre os nomes cotados estão os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Jr. (PR) e Ronaldo Caiado (GO), além da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que ainda pode concorrer ao Senado caso não entre na corrida presidencial.

No campo familiar, Carlos Bolsonaro deve disputar uma vaga no Senado por Santa Catarina, e Eduardo Bolsonaro, por São Paulo. Bolsonaro quer garantir que seus aliados mais próximos tenham mandatos fortes em Brasília, reforçando a influência do seu grupo político mesmo sem ocupar um cargo executivo.

A estratégia reflete um aprendizado do ex-presidente durante seu mandato: as limitações impostas pelo STF, como no caso do perdão concedido a Daniel Silveira, foram decisivas para mudar o foco da disputa. Para Bolsonaro, é no Senado que se decidirá o futuro do embate entre os Três Poderes.